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Crítica | Dampyr – Vol.12: Alma Perdida

De volta à cidade de Praga.

por Luiz Santiago
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Talvez o peso da sensacional Sob a Ponte de Pedra tenha sido muito forte na comparação analítica e mesmo na recepção que eu tive durante e após a leitura de Alma Perdida, aventura que marca o retorno de Dampyr à cidade de Praga, agora em companhia de seus amigos Tesla e Kurjak. Mauro Boselli consegue manter toda a ambientação diferente, pesada, medonha e meio claustrofóbica que tivéramos na visita anterior de Harlan à misteriosa cidade, mas com uma história que não consegue chegar à metade do charme da anterior, e demora muito tempo para dizer realmente a que veio.

Na edição anterior a esta, Nêmesis, o escritor Maurizio Colombo optou por deixar Harlan um pouco à margam da narrativa, dando maior atenção a Kurjak, que acaba sendo o protagonista. Aqui, parte dessa escolha se repete, com o protagonismo dividido em blocos, começando com Tesla, que se encontra pela primeira vez com Nikolaus. Dessa vez, descobrimos que o personagem é um diabo muito especial: um anjo caído. O encontro entre a vampira o inquieto demônio contextualiza a presença do time de caçadores de vampiros em Praga, mas não aponta nenhum real problema, e essa é a sensação que eu tive por toda a leitura: a de que não existe, verdadeiramente, um impasse importante para ser resolvido nessa edição.

Eu não sou o tipo de leitor que cobra o mesmo padrão de ação ou escolhas dramáticas de uma história para outra, por isso deixo claro que entendo perfeitamente o conceito apresentado por Boselli aqui. Tudo bem a criação de um enredo onde a necessidade de ação da “turma do bem” seja menos intensa; onde a coisa a ser enfrentada seja algo um tanto mais simples ou até mesmo banal, pensando aí em uma terceira intenção do roteirista, ou seja, apresentar alguma novidade importante para o cânone ou criar uma nova mola para dramas que possam alimentar a série de maneira mais rica. Em tese, Alma Perdida é esse tipo de criação. Mas Boselli não conseguiu equilibrar bem o peso das duas tramas, fazendo com que as duas partes fossem relativamente parecidas em sua qualidade superficial, por pouco não ficando medíocre.

O lado que deveria apresentar elementos canônicos nos conta sobre a essência de Nikolaus; nos traz a primeira aparição de Nergal (um dos mais antigos e poderosos Mestres da Noite, chefe da Polícia Secreta do Inferno, papel adquirido após fazer um pacto com os poderes infernais); além de Madame De Thèbe, a grande vidente que também é um antigo interesse amoroso de Nikolaus; e Mydlar, O Carrasco — conhecido por um tempo como Jan Obrazek, cujo nome é um jogo de palavra em tcheco, significando “imagem“. Também faz aqui a sua primeira aparição na série o enigmático Samael, chamado Príncipe dos Sedutores: um amesha convertido à causa do mal cujo papel, assim como o de Nikolaus, não seja nada maniqueísta, ou seja, muitas de suas ações são consideradas do “lado do bem“.

Como se vê, esse bloco de Alma Perdida cuida em trazer gente nova e tenta colocar os caçadores de vampiros em contato com esses novos personagens. Todavia, é uma apresentação relativamente solta e sem peso algum para o que está havendo em Praga. Caleb Lost aparentemente convidou o Dampyr para o Teatro dos Passos Perdidos, mas nada fica muito claro quanto às motivações, e é nesse lado da aventura que deveria existir alguma coisa capaz de costurar o bloco das apresentações e criar um problema digno. Ocorre que o tal problema criado também é abarrotado de uma carga teórica, isoladamente incrível, mas que no todo carece de força para emplacar, acabando na seara do “simples demais“.

Eu acho a arte de Luca Rossi um esplendor para esse gênero. Inclusive, todos os aplausos possíveis para a mudança de técnica que ele faz a fim de representar a Batalha da Montanha Branca (ou Bílá Hora), que é somada à narrativa de um carrasco, trazendo uma impressão visual verdadeiramente marcante para o leitor, num dos melhores momentos da edição, que ainda fala do diplomata, escritor e historiador Franz Christoph von Khevenhüller (a pesquisa histórica de Boselli foi muito bem feita!) e de seu Annalium Ferdinandeorum. Alma Perdida é um volume que serve como respiro e ao mesmo tempo como preparação para algo maior, de enriquecimento da série. Traz novos personagens, fala de alquimia, de memórias perdidas e encontradas e de como numa dimensão paralela à nossa realidade, forças distintas se alternam em jogos de poder envolvendo seres humanos ao longo de toda a nossa História.

Dampyr – Vol.12: Alma Perdida (Anima Persa) — Itália, 2001
No Brasil:
Editora Mythos (2005) e Editora 85 (setembro de 2019)
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Luca Rossi
Capa: Enea Riboldi
100 páginas

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