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Crítica | Dampyr – Vol.17: O Conde Magnus

Um demoníaco alquimista nórdico.

por Luiz Santiago
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Depois de nos fazer passear pelos pântanos dos Estados Unidos, no arco Nascido no Pântano e Delta Blues, o roteirista Mauro Boselli mudou a rota e levou Harlan Draka e Tesla para o norte da Europa, mais especificamente para a Noruega, em pleno verão. Se no arco anterior, o autor buscou na música um caminho possível para explorar as criaturas da noite, nesta história ele olhou principalmente para a literatura, trazendo das tramas de fantasma escritas por Montague Rhodes James os seus principais motivos. O foco do autor, na verdade, é bem específico. Ele cita os contos Número 13 e Conde Magnus, do livro Histórias de Fantasmas de Um Antiquário (1904), como principais motivos dramáticos para a sua narrativa, além de poemas melancólicos ou sombrios de Thomas Hardy , Stephen Crane e Matthew Arnold.

Essa atmosfera literária logo se encontra também com uma atmosfera de artes plásticas, representada um afresco numa igreja, que guarda um segredo bastante macabro e que ganhará relevância no desenvolvimento da história. E o começo de tudo é bem inquietante, pois chegamos a esta cidade com uma apresentação turística amedrontadora, num contexto de incêndio que destruiu todas as casas de madeira do bairro… menos uma. Justamente a casa do hotel em que um professor pesquisador do oculto resolve se hospedar. Neste 17º volume da série, Boselli cria mais um braço narrativo para a ideia de um “Universo à parte o nosso Universo“, algo que já tínhamos visto o autor explorar (junto de Maurizio Colombo) no livro 8 da série, Das Trevas, em uma linha do horror cósmico.

Em O Conde Magnus, porém, essa outra realidade se dá na forma do “quarto número 13“, o já conhecido “quarto do azar” nos hotéis. É verdade um fato que é dito aqui no roteiro, de que alguns hotéis não possuem um quarto com esse número. Eu já me hospedei em alguns lugares de cidades médias e pequenas que simplesmente não tinham esse número de quarto, e só muito depois vim entender o porquê. No Gamlebyen Hotel, o motivo para isso é bastante legítimo, já que este quarto que às vezes desaparece da nossa realidade (para onde ele vai?) guarda uma bruxa amaldiçoada que enfeitiça hóspedes incautos e se alimenta deles quando pode. No andamento do drama, ela irá encontrar-se com o tal Conde Magnus do título, e Boselli liga os pontos com uma intriga histórica que remonta aos tempos da rainha Cristina da Suécia (1626 – 1689), uma intriga envolvendo magia negra, alquimia e forças das trevas, como sempre.

Eu simplesmente adoro a arte de Marco Torricelli nesta edição. Gosto de sua representação para as cenas de magia, de seus pontilhados e hachuras e de seu belíssimo trabalho com luz e sombras. Do meio para o final do enredo, passo a desgostar progressivamente do rumo da história, porque acho que ela fica desinteressante e banal demais. Mas a arte de Torricelli se mantém firme, impressionando até a última página. Quanto ao texto, a união de Harlan Draka com duas pessoas quaisquer da cidade para investigar o hotel e o toque romântico com a artista restauradora do mural (especialmente essa última parte) foram coisas que tiraram um pouco do peso da história, dispersando-a desnecessariamente, aliviando a tensão, mas com um desvio que enfraquece o que estava sendo bem estruturado até ali — e confesso que o embate com o Conde nem foi tão poderoso quanto poderia ter sido, talvez pela existência dessa linha mais “tranquilona” que o autor adotou na reta final.

“Quartos malditos em hotéis” é um tema dentro do terror que sempre me fascinou. Eu sempre ouvi falar das “energias” que quartos de hotéis possuem e o quanto isso pode ser medonho para algumas pessoas. É muito bacana ver como essa impressão popular pode ser trabalhada em uma narrativa que olha para essas “energias” do modo mais tenebroso possível. O Conde Magnus é a história da ressurreição acidental de um antigo vampiro-alquimista, acompanhado de seu demoníaco servo. A primeira parte, focada exclusivamente no mistério em torno do Conde, do afresco na igreja e da investigação de Draka, tem toda aquela intensidade atmosfera que conhecemos das histórias de Dampyr. Depois, as coisas vão ficando simples e mundanas demais, protagonizando um abandono de promessas e possibilidades que mesmo mantendo a história num bom nível, frustra o leitor.

Dampyr – Vol.17: O Conde Magnus (Il conte Magnus) — Itália, agosto de 2001
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Marco Torricelli
Capa: Enea Riboldi
100 páginas

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