Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Dampyr – Vol. 20: O Castelo nos Cárpatos

Crítica | Dampyr – Vol. 20: O Castelo nos Cárpatos

Mais um pouco da relação de Harlan com o seu pai.

por Luiz Santiago
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História de trama simples, mas com um fundo histórico bastante denso, O Castelo nos Cárpatos se passa na região da Transilvânia, Romênia, e nos faz conhecer um outro Mestre da Noite na série (Gabor Vlatna), velho inimigo de Draka, pai de Harlan. A inimizade entre esses dois vampiros originais remonta aos tempos de glória de Sarmizegetusa Regia, capital e o mais importante centro militar, religioso e político dos dácios, antes das guerras com o Império Romano. Há uma breve cena no quadrinho, inclusive, que mostra uma parte da montanha onde a fortaleza foi erguida, e mesmo o contexto para essa cena não sendo verdadeiramente explorado, dá para entender que aquele era o núcleo de um sistema defensivo estratégico nas montanhas  (nesse caso, as Orăștie, na atual Romênia) e que ali foi erguido o castelo que terá destaque no volume.

Só o fato de a história se passar nessa região da Europa já nos traz uma forte memória sobre a presença de vampiros e personagens históricos modificados ao longo dos anos pelas mais variadas narrativas ficcionais, com destaque, claro, para o Drácula, de Bram Stoker. No presente enredo, descobrimos que o pai de Draka dominou a Transilvânia durante muito tempo, fundando a Ordem de Cavaleiros do Dragão (Ordo Draconis), da qual Vlad Tepes, o Empalador, Príncipe da Valáquia (1431 – 1476), era aliado — e é desse personagem histórico que vem a associação com o nome de Drácula. Esses elementos externos à história tornam-na mais charmosa e dão maior peso  para tudo o que está acontecendo. Como disse no início da crítica, trata-se de uma trama simples, mas que se vale da importância histórica de seu espaço geográfico e da real existência de alguns eventos e personagens medievais.

O fato gerador do roteiro de Mauro Boselli vem com Aline e Nicu, dois irmãos que fugiram do castelo de Gabor Vlatna e estão sendo procurados pelos escravos do castelo. Ao voltar de sua última letargia, Vlatna assumiu a identidade de um benfeitor nacional e criou, em seu castelo, um orfanato. É claro que o lugar é um banco de sangue vivo, e essa fuga das crianças acaba trazendo Harlan e Tesla para a trama. Eles salvam os irmãos e então iniciam uma preparação para entrar no castelo e se livrar do Mestre da Noite. No texto, não há nada de especial em relação a essa construção narrativa, porém. Ela entretém, a arte de Giuliano Piccininno chama muito a atenção nas cenas em que explora o castelo e também nos momentos de flashback, mas fica por aí mesmo.

Gosto dos momentos de humor na história e da pitadinha de flerte entre Tesla e Harlan, assim como a atuação dos personagens na luta contra os vampiros da região. Se o autor desse mais espaço para o ótimo contexto que marca a aventura, talvez ela se mostrasse mais interessante. Mas tenho a impressão que Boselli quis propositalmente fugir de um compromisso maior com elementos históricos, usando-os apenas como caminho para uma crônica sobre uma nova ação do Dampyr. Veja o caso dos orfanatos, por exemplo. O autor pega a tragédia humanitária que foi a política de aumento populacional imposta por Nicolae Ceaușescu na Romênia, o que gerou milhões de crianças abandonadas, encerradas em desumanos orfanatos. Mas este fato apenas espelha a situação das crianças que viviam no castelo de Vlatna.

Il Castello nei Carpazi traz um pouco mais do pai de Harlan e explora, de alguma forma, uma nova linha de relação entre os dois. Eu acho positiva essa dubiedade que os autores têm colocado na série, a respeito do misterioso gerador do Dampyr. Draka foi inicialmente apresentado como um vilão, mas aos poucos vem ganhando tons de cinza em seu comportamento e intenções, mesmo a partir do relato de outras pessoas. Aqui, ele salva Harlan da morte e usa toda a confusão no castelo para matar seu antigo inimigo. Harlan e Tesla interpretam toda a saga como mais uma manipulação do velho Mestre da Noite, como se ele estivesse usando o próprio filho para se livrar de todos os inimigos da família. Cria-se, pouco a pouco, uma disputa indireta entre ambos, com nuances cada vez mais amplas. Isto certamente só beneficia o vilão, que se torna dramaticamente mais rico e mais interessante. Mal posso esperar para a sua próxima aparição na série, com muito mais detalhes sobre ele!

Dampyr – Vol. 20: O Castelo nos Cárpatos (Il castello nei Carpazi) — Itália, novembro de 2001
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Giuliano Piccininno
Capa: Enea Riboldi
Letras: Omar Tuis
100 páginas

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