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Crítica | Dark Souls III

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Cinco anos depois de termos sido apresentados a Lordran em Dark Souls, a história desta desafiadora trilogia é encerrada em Dark Souls III. Sucessor espiritual de Demon’s Souls, o game original foi um nítido aperfeiçoamento das mecânicas de seu antecessor, sua continuação, Dark Souls II fez o mesmo, enquanto que introduziu um enredo que consegue se sustentar por si próprio, trazendo algumas referências do primeiro, mas sem se perder nelas. O capítulo final capta o que há de melhor de seus predecessores e, para nós que acompanhamos a franquia desde seu nascimento, desde que recebemos o primeiro Estus Flask, sentimos como se esse, de fato, fosse um desfecho redondo de uma trama iniciada tempos atrás.

Após uma cutscene que nos mostra a situação atual do mundo, nossa jornada começa em um cemitério. Um total desconhecido acorda de seu túmulo e é colocado perante o desafio de trazer os cinco lordes das cinzas para seus tronos – vivos ou mortos. O Fogo se apagou e somente brasas restam, o universo estabelecido no primeiro jogo está à beira do precipício e se isso já soava como algo próximo em Dark Souls aqui a sensação de desolação é maior que nunca, especialmente conforme progredimos pelos diferentes reinos nos quais a tragédia parece reinar.

Fazendo jus à nova geração, Dark Souls III é, definitivamente, um game lindo de se observar. Dos corredores mais estreitos até as vistas para o horizonte, o jogo da From Software não cansa de nos impressionar, contando com uma qualidade de texturas que somente fica atrás da precisa iluminação. Não falo de belos efeitos apenas, mas um visual que atua a favor da narrativa, contribuindo fortemente para o estabelecimento do tom necessário de cada área, desde a imponência de High Wall of Lothric até a ancestralidade de Boreal Valley. Mais importante ainda que o trabalho estético do jogo é o seu level design.

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Os novatos da franquia talvez não saibam, mas o Dark Souls original contava com uma circularidade de se espantar, caminhávamos quilômetros e mais quilômetros apenas para achar um atalho que nos levava direto para Firelink Shrine, a área central do game. A terceira entrada da franquia felizmente resgata esse elemento ausente em Dark Souls 2, as áreas se interconectam de forma cuidadosa – não sempre voltamos ao mesmo lugar, mas nunca ficamos explorando demasiadamente sem encontrar um bonfire, os checkpoints de Dark Souls III, que permitem o teleporte de um para o outro – recurso, aliás, que se faz imprescindível aqui, já que a quantidade de áreas é assustadora. O melhor de tudo é como conseguimos enxergar da distância os locais pelos quais passamos – experimente: quando estiver em algum lugar com uma vista com profundidade, observe o panorama e tente identificar cada uma das edificações, isso é um dos pontos centrais para criar não só nossa noção de espaço dentro do game, como a sensação de que nossa jornada está progredindo.

Dito isso, o jogo não seria nada sem a efetiva progressão de personagem em levels, recurso que funciona de forma idêntica a Demon’s Souls: cada inimigo derrotado garante um número específico de almas, essas podem ser utilizadas para melhorar cada um dos atributos do personagem de acordo com nossa vontade. Não há nenhum fator limitante no game em termos do que nosso personagem pode ser, você escolhe pautado nas armas que melhor se encaixarem com suas preferências pessoais. Gosta de espadas gigantescas? Sem problemas. Prefere sair atirando flechas ou magias por aí? Tudo bem. Mesmo se quiser fazer de tudo não há o menor problema, sua criação, contudo, será capaz de fazer tudo sem ser excepcional em nada. A dica vai para o marinheiro de primeira viagem: experimente, pois nada impede de criar um novo personagem e assim que zerar você vai querer fazer isso.

 Dark Souls, continua, portanto, sendo uma franquia que favorece todos os tipos de jogabilidade e cada arma adquirida nos faz querer testá-la para descobrir novas possibilidades. Nesse quesito o game não poupa esforços para nos oferecer uma gama gigantesca de equipamentos – desde a adaga até a ultra-greatsword, cada tipo de armamento conta com uma gigantesca variedade, especialmente considerando que cada tipo de arma conta com um determinado weapon-art, uma habilidade que consome de sua barra de magia que permite realizar ações específicas que podem e com certeza irão salvar a vida de muitos por aí. As possibilidades são praticamente infinitas e essa novidade da franquia, uma variação do sistema utilizado em Bloodborne nitidamente aumenta a quantidade de estratégias que podemos utilizar para sobressair aos diversos desafios do jogo.

Já entrando nesse ponto, a série continua tão desafiadora quanto sempre fora. A inteligência artificial permanece bastante similar, mas a quantidade de inimigos e seus movesets ganharam fortes reforços – nem sempre o velho backstab irá funcionar e mais que nunca somos forçados a pensar para superar determinadas áreas, não basta sair correndo por aí balançando a espada, é preciso analisar o terreno e os movimentos dos adversários antes de qualquer coisa, mas isso vai se tornando praticamente automático conforme progredimos na história, como sempre fora o caso na série Souls. Além disso, temos o retorno de alguns familiares inimigos e áreas que farão os saudosistas simplesmente gritarem de frente à televisão – naturalmente não irei entregar nenhum spoiler aqui.

As covenants, clãs aos quais o jogador pode se afiliar, também retornaram e são tão diversas quanto são úteis. Com diversos benefícios para quem subir de rank dentro delas, cada uma simplesmente melhora o online  de Dark Souls III, seja através da cooperação ou da invasão do mundo de outros jogadores. Há um alto teor de roleplaying aqui – o que melhor encaixa com seu personagem? Ele será um assassino ensandecido ou um nobre defensor dos inocentes? Cabe ao jogador decidir. Vale ressaltar que a cooperação é fortemente recomendada, especialmente para os novatos, já que um único aliado pode ser o fator diferencial em uma luta contra um chefe ou um inimigo específico. A mecânica funciona da mesma maneira como nos anteriores: através de determinados itens podemos chamar ou invadir outros jogadores, o que muda é o fator herdado de Bloodborne, agora podemos definir uma senha para nos conectarmos com certas pessoas específicas e não é com pouca alegria que afirmo que os servidores do jogo estão funcionando fluidamente, com poucos lags e conexão praticamente instantânea.

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A trilha sonora é outro acerto evidente, algo que pode ser observado desde a música tema tocada no menu, que resgata as velhas melodias de Dark Souls, proporcionando o mesmo tema de suspense épico angustiante da franquia. Do silêncio de corredores escuros até as exaltadas músicas dos chefes, o game consegue nos imergir perfeitamente em sua narrativa. Há uma nítida identidade sonora  que percorre toda a progressão do jogo – em nenhum ponto sentimos como se uma nota estivesse fora do lugar, cada uma delas organicamente se encaixa com a imagem, transmitindo as sensações desejadas.

 O único aspecto que pode ser visto como um deslize, ainda que não comprometa a jogabilidade de qualquer forma é a linearidade da história. Temos sim inúmeras sidequests como de costume e a exploração de áreas pelas quais já passamos, mas quando se trata da progressão geralmente temos apenas um caminho definido pela frente, com poucas exceções. Isso pode ser notado especialmente para aqueles que jogaram o game original, que contava com inúmeras escolhas de por onde trilhar primeiramente. As áreas secretas opcionais e os outros segredos do jogo, todavia, minimizam esse fator e não o fazem se destacar diante das qualidades que são visivelmente observadas.

Dark Souls III encerra, portanto, a franquia com chave de ouro, nos passando a nítida sensação de que a história está concluída. Ao término do jogo, que nos permite iniciar nossa jornada novamente apenas com inimigos mais fortes, somos deixados com uma evidente melancolia e uma vontade clara de criar outro personagem para explorar as diversas possibilidades que o game apresente, descobrir o que deixamos para trás e, é claro, experimentar outro dos quatro finais diferentes que podemos desbloquear. Temos aqui, desde já, um dos melhores jogos de 2016 e, possivelmente, o melhor da franquia.

Dark Souls III
Desenvolvedor:
From Software
Lançamento:
12 de Abril de 2016
Gênero:
RPG
Disponível para:
PS4, Xbox One, PC

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