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Crítica | De Volta ao Planeta dos Macacos (Marvel Comics – 1975)

por Ritter Fan
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estrelas 3

Quando o objeto da adaptação é ruim, fica complicado criar alguma coisa que fuja das armadilhas pré-estabelecidas pelo original. Quando De Volta ao Planeta dos Macacos foi lançado a toque de caixa em 1970, a velocidade exigida e os cortes de orçamento impostos, além do desacordo de Charlton Heston com a produção, fazendo com que sua participação minguasse para algo não muito mais extenso do que uma ponta glorificada no começo e no final, fizeram com que a obra resultante sofresse demais e perdesse toda a qualidade do original.

Doug Moench, então, não tinha muito o que fazer na adaptação, ainda que ele pudesse ter envidado esforços para trazer Zira e Cornelius de forma mais orgânica, especialmente considerando que ele já tinha conhecimento do “futuro dos personagens” com base em Fuga do Planeta dos Macacos, de 1971. Se Moench tivesse escrito uma ponte entre o final apocalíptico de De Volta para a viagem no tempo de Fuga, sua adaptação teria resolvido uma das maiores conveniências cinematográficas da história dos símios. Mas, não há como culpar Moench disso, pois ele provavelmente tinha instruções para manter-se dentro do que já fora estabelecido cinematograficamente, sem invencionices.

Portanto, o resultado da adaptação em quadrinhos de De Volta ao Planeta dos Macacos carrega os “pecados” da obra original: um roteiro apressado especialmente quando chegamos à parte do culto à bomba atômica e a necessidade de se apresentar um novo protagonista humano – Brent – para suprir a falta de Taylor durante o miolo da história que acaba sendo simplesmente mais do mesmo. No entanto, por incrível que possa parecer, a versão em quadrinhos consegue a proeza de ser melhor que o original, pois Moench eficientemente amplia a duração dos dois terços iniciais, focando na beligerância do general Ursus, o gorila que quer terminar de exterminar os humanos e a tentativa de entabular a paz por ninguém menos do que o Dr. Zaius, o sábio orangotango que sabe muito mais do que parece.

Com isso, Moench carrega em diálogos, tornando a leitura menos fluida, mas, com isso, ele empresta à sua obra um comentário social importante sobre a guerra, fazendo com que os símios sejam muito claramente um reflexo de nós humanos que, quando temos medo de algo, respondemos com violência, sem pensar, sem tentar compreender. São particularmente eficientes os embates entre Ursus e Zaius que até compartilham em linhas amplas do mesmo raciocínio, mas que discordam fortemente na forma de colocá-los em prática. Nesse foco nos símios dominantes, Brent e Nova, assim com o agora casal Zira e Cornelius, desaparecem na narrativa, passando a ser coadjuvantes em sua própria história.

Brent descobre que está na Terra. Versão original em preto e branco e a colorida da republicação.

Brent descobre que está na Terra. Versão original em preto e branco e a colorida da republicação.

Quando a ação vai integralmente para a Zona Proibida e mais especificamente para o metrô novayorkino destruído, ela se torna confusa e perdida como no filme, pois Moench não consegue fazer mágica com algo tão mal estruturado na origem. A volta aleatória de Taylor e o final literalmente explosivo são corridos e desvirtuam toda a construção narrativa anterior, sem que – e aí volto ao meu comentário inicial – a oportunidade seja usada para lidar paralelamente com Zira e Cornelius e sua descoberta da nave, algo que aprendemos somente em Fuga do Planeta dos Macacos.

A arte da história ficou ao encargo de diversos nomes, praticamente um para cada um das cinco edições originais em preto e branco que, depois, foram coloridas por George Roussos para relançamento em 1976. Mas, apesar da variedade de artistas – includindo o ilustre Gil Kane! – há uma boa homogeneidade entre cada capítulo sem que, porém, os toques pessoais de cada desenhista se percam por completo. Michael Netzer, o artista do primeiro número, impões traços vigorosos para a história e acaba desenhando um Taylor quase como um super-herói em termos de musculatura, algo que é seguido por Gil Kane, que lida com a chegada de Brent. Não é um problema grave, mas causa estranhamento, justamente por não ser uma história de super-heróis.

De toda forma, os símios, com isso, ganham a imponência devida e a separação entre castas – gorilas, orangotangos e chimpanzés – fica ainda mais marcada. Assim como na adaptação em quadrinhos do primeiro filme, porém, a versão original em preto e branco é superior à versão colorida, pois as cores não só esmaecem os traços dos artistas, como emprestam uma leveza que a história não pede, notadamente com o esquema de “quatro cores” que era a base para o colorido de quadrinhos da época. Mas com isso eu não quero dizer que as cores de Roussos sejam ruins, pois elas não são. Ele respeita o lápis e a tinta originais na medida do possível, notadamente em páginas mais escuras, passadas no subterrâneo. Mas a leitura da obra em preto e branco continua sendo, para mim, a preferível.

A adaptação de De Volta ao Planeta dos Macacos tem o mérito de ser melhor do que o próprio filme, mas o demérito de não ir ainda além. Fica em um meio termo que torna a leitura agradável o suficiente para que a experiência cinematográfica não seja repetida, mas que deixa aquele gosto amargo de oportunidade perdida.

De Volta ao Planeta dos Macacos (Beneath the Planet of the Apes, EUA – 1975 e 1976)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Michael Netzer, Gil Kane, Alfredo Alcala, Paty Anderson
Arte-final: Klaus Janson, Mike Esposito
Cores: George Roussos (versão colorida)
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: abril a agosto de 1975 (preto e branco, em Planet of the Apes #7 a #11) e agosto a dezembro de 1976 (colorido, em Adventures on the Planet of the Apes #7 a #11)
Editora no Brasil: Editora Bloch
Data de publicação no Brasil: 1976 (Planeta dos Macacos #8 a #10)
Páginas: 150

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