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Crítica | Deadpool: Jogos Mortais

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

Fortemente inspirado pelo filme Operação Dragão (1973), o roteiro de Deadpool: Jogos Mortais (2009) é mais uma prova de que com uma abordagem correta, o personagem pode render ótimas aventuras em gêneros diferentes, sempre com a presença do humor negro que lhe é característico.

Mike Benson escreve uma história simples, que se constrói a partir de um ponto de vista inicial falso e nonsense que logo dá lugar à missão que Deadpool recebe de Mr. Kilgore, um dos vilões — não esperados — da história. Assim como no início fomos ludibriados por um problema que era apenas uma distração para algo maior, para uma revelação futura de uma identidade encoberta, todo o restante da jornada nos faz sentir exatamente dentro desse mesmo padrão. Expectativas e impressões são construídas, mas logo derrubadas para dar lugar a uma verdade, fazendo com que a história se renove e se torne mais interessante com o passar das páginas.

A arte cartunesca, simples e de traços acabados sem grandes floreios é assinada por Shawn Crystal e constitui um dos melhores atrativos da história, servindo como uma espécie de metáfora para a simplicidade com que a linha narrativa falsa do enredo nos ludibria. Essa composição dialética da arte serve tanto ao propósito simbólico quanto prático de Jogos Mortais, pois a nossa atenção acaba se voltando para onde realmente importa e a simplicidade do desenho nos ajuda a imaginar mais coisas, muito embora cenas de decapitação, queimaduras, explosões, mutilações e outros pontos violentos apareçam, sempre marcados por humor e com um toque de ingenuidade da arte.

As cores de Lee Loughridge são outro ponto elogiável da história, criando atmosferas de caráter estereotipadamente orientais — no bom sentido do estereótipo visual, entendam — nos fazendo lembrar de filmes épicos em alguma corte de um país do Sudeste Asiático ou Extremo Oriente, ou mesmo algumas sagas dirigidas por Akira Kurosawa. Nesse ponto, as cores funcionam melhor no ambiente do reality show Pain Factor do que nos claustrofóbicos quadros onde Deadpool conversa com o seu contratante, o Sr. Kilgore.

O roteiro desce alguns degraus na forma abrupta com que organiza a competição, sem nenhuma indicação de espaço entre as provas; abrindo para a interpretação do leitor algo que deveria ser dado apenas para julgamento de tempo e utilização do material dramático apresentado antes. É evidente que essa foi uma forma de Mike Benson fazer algo mais objetivo e mais divertido, focando apenas na parte da ação e sacrificando o contexto. Todavia, as outras partes são tão boas que uma melhor localização temporal dos jogos e da passagem do tempo em todo o miolo da obra cairia muito bem e subiria ainda mais o valor do one-shot, que mesmo com os tropeços no enredo, consegue ser muito bom.

Há aqui um interessante diálogo sobre a proliferação de reality shows, o poder da TV sobre as pessoas, a forma criminosa como alguns produtores de TV guiam os seus negócios e as pessoas que são escolhidas para entreter as massas, mas nada disso é colocado exatamente como uma crítica, na história. O leitor consegue claramente fazer essa leitura, mas a intenção final é tirar sarro de todos o tempo inteiro, o que é a cara de toda boa história do Deadpool.

Deadpool: Jogos Mortais (Deadpool: Games of Death) — EUA, 2009
Roteiro: Mike Benson
Arte: Shawn Crystal
Cores: Lee Loughridge
Letras: Cory Petit
Capa: Greg Land, Justin Ponsor
35 páginas

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