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Crítica | Defensores: Indefensáveis

por Luiz Santiago
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estrelas 4

Existem personagens e grupos de personagens, em várias situações nerds, cujo encontro sempre gerará brigas. Os relacionamentos entre eles até podem ser explorados pelos autores para a ativação de uma linha cômica, que é o passo seguinte quando se tem personas com a mesma característica geral (ou todos “do bem” ou todos “do mal”) e que não estão se enfrentando, mas sim reunidos para enfrentar uma outra força. É possível encontrar variações disso em grupos de diferentes períodos da História e em diversas editoras dos quadrinhos, mas nenhum deles chegam ao nível de birra, comédia, volatilidade e total desprendimento de seus integrantes como no caso dos Defensores.

Aproveitando-se do comportamento agressivo de dois dos “membros oficiais” do grupo (Hulk e Namor) e do vocabulário e comportamento misterioso, em diversos sentidos, do Doutor Estranho, os engraçadinhos Keith Giffen e J.M. DeMatteis criaram esta versão do grupo em 2005, em uma série de 5 edições que é classificada como o Defenders Vol.3 na lista de revistas solo do não-grupo. Começando com Pesadelo tomando posse do corpo de Wong para avisar a Strange que uma “terrível e devoradora ameaça estava para tomar a Terra e destruir toda a realidade existente”, a saga logo se revela extremamente divertida, tanto nos xingamentos e diálogos espirituosos, irônicos e passivo-agressivos entre o Príncipe Submarino e o Gigante Esmeralda, quanto nos enfrentamentos mais calmos porém não menos ofensivos entre o Sunguinha de Escamas e o Mago Supremo.

Sem poupar o leitor de diversas brincadeiras metalinguísticas, inclusive citando a passagem da dupla de roteiristas pela DC e claramente fazendo referências à Liga da Justiça Internacional, o enredo usa da inimizade entre os três heróis para contrastar com a relação também cheia de alfinetadas entre Dormammu e Umar, agora juntos por um mal maior. Ou pelo menos esta é a intenção inicial, já que Umar não é confiável sob nenhum aspecto. Depois da tentativa de recrutar o Surfista Prateado e desistir, pois o Singrador do Espaço estava em uma uma de suas buscas filosóficas sobre a essência da felicidade (agora no meio de seus iguais, um monte de surfistas), o Senhor Destino tenta colocar panos quentes nas brigas entre Hulk e Namor e neutralizar a ameaça Dormammu-Umar que juntos possuem um grande poder e conseguem muita coisa ao longo da série.

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A melhor coisa desse Dormammuverse são as versões sombrias do Homem-Aranha e do Demolidor que vocês podem ver logo no primeiro plano do painel.

Há violência, tortura e realidade distópica nesta série, com a criação da Terra-5113 ou Dormammuverse, mas em nenhum momento os autores deixaram o humor de lado. Podemos dizer que essa toada narrativa funciona em praticamente toda a série, tendo apenas alguns pontos no final, especialmente com a despedida do Surfista, que parecem deslocados, como se tivessem que terminar a história rapidamente e então criaram uma piadinha boba com um fundo supostamente existencial e tudo ficou por isso mesmo. Outro elemento muito estranho, também no bloco do Surfista, é que quando Dormammu consegue criar a sua versão da Terra, os surfistas se transformam em monstros e o Prateado não faz absolutamente nada. Ele chega até a conversar com um dos jovens como um monstrengo vermelho como se fosse a coisa mais normal do mundo. E isso não é explicado ou ironizado pelos autores, o que me pareceu um furo bem feio do roteiro.

A expressiva arte de Kevin Maguire cai como uma luva no padrão cômico do texto, destacando as expressões faciais e os movimentos das mãos em um tipo simples mas muito eficiente de lápis, bastante marcado pelo aprimoramento do cenário. Vale destacar neste ramo a inteligentíssima diagramação, que favorece, em tudo, o diálogo. Leitores mais preguiçosos, que tendem a desgostar de obras com muito texto, encontrarão muitas pedras no meio do caminho ao ler esta história. Algumas páginas são divididas em 12 e até 16 quadros, uma forma interessante de trabalhar com atenção pontual a personagens de grande importância, dividindo a trama ou picotando a percepção da realidade dentro de um mesmo cenário, como se cada um falasse mais ou menos ao mesmo tempo ou em uma rápida resposta ao outro.

O mais importante da aventura é que a proposta cai bem dentro de um cenário astral e, levando isso em consideração, os autores criam e concluem a ameaça com eficiência, falhando apenas em alguns pontos externos abandonados ao longo da trama; ou em alguns exageros, como na batalha de Namor e Estranho contra os Hellhounds (os vilões baseados em heróis da Marvel nesta realidade distorcida). Apenas o Demolidor e o Homem-Aranha bastavam aí. Mas no final, a saga vale muito a pena. Nem que seja para que o leitor se divirta com as brigas entre Hulk e Namor.

Defensores: Indefensáveis (Defenders Vol.3) — EUA, setembro de 2005 a janeiro de 2006
No Brasil: Os Heróis Mais Poderosos da Marvel #23: Defensores – Indefensáveis (Salvat)
Roteiro: Keith Giffen, J.M. DeMatteis
Arte: Kevin Maguire
Cores: Chris Sotomayor
Letras: David Sharpe
Capas: Kevin Maguire
130 páginas (encadernado Salvat, capa vermelha)

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