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Crítica | Delicada Relação (Yossi & Jagger)

por Fernando JG
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Entre outros pontos, a eficácia do filme de Eytan Fox, seguramente, se dá em razão da velocidade que ele imprime no desenvolvimento do enredo, que enfoca apenas em um ponto muito específico: a relação entre dois soldados dentro do exército. Sem ousar, e muito menos sem estender o longa para problemas e conflitos que poderiam decorrer de um argumento assim (afinal, o motivo de seu filme, a homossexualidade dentro dos serviços oficias, renderia algo muito maior em minutagem), a película procura simplesmente tratar do amor proibido entre um vice-comandante e um soldado de maneira rápida e simples. E basicamente funciona.

Apesar do cineasta já desafiar todo um contexto conservador ao propor esta história, tendo em vista que ele está falando das fileiras do exército, ele para por aí e escolhe não ir muito além, utilizando-se de lugares mega comuns e bem conhecidos a respeito desta temática, como o amor velado, a indecisão, os medos, a oposição entre um personagem que quer declarar isso para o mundo enquanto o outro ainda não está preparado para isso (Matthias e Maxime, 2019), até finalizar com o maior lugar-comum de todos: a ruptura pela tragédia, tópico tão recorrente em narrativas assim. Embora não inove, a película é bastante completa, fechando uma unidade redonda e coesa dentro de seus poucos minutos. Ao terminar o filme, percebe-se que ele realmente acabou, sem a necessidade de falar mais, e nem deixando nenhum ponto para costurar. Ainda assim, há uma continuação (Yossi, 2012) que se desenrola a partir dos acontecimentos anteriores. 

Resumindo o argumento, a trama coloca Yossi (Ohad Knoller) e Jagger (Yehuda Levi) no meio de uma intriga amorosa no contexto de uma guerra entre libaneses e israelenses, em que acabam se apaixonando um pelo outro, levando-os a se relacionarem de maneira escondida e em segredo. Aos poucos, devido a intensa proximidade entre ambos, algumas pessoas acabam desconfiando da amizade. Longe dos demais, esse amor vai acontecendo de um modo muito sensível e delicado, mas sempre à beira de uma ruptura que pode tanto se dar pela descoberta dos outros soldados, quanto pela morte na guerra. O velho tema do amor impossível, que permeia muitas das narrativas que tensionam a questão da relação entre dois homens, é o grande motor do drama. 

Com baixos recursos, a fotografia padece bastante, dando uma imagem bem lúgubre ao longa-metragem. A singeleza do filme opõe, de modo bastante simples, a euforia de Jagger contra a frieza de Yossi. São personagens construídos de maneira absolutamente antagônica, com baixa complexidade e sem grandes atuações, mas convence pela semelhança com o real, que é o mais importante. Apesar de convencer pela simpatia e simplicidade, a mão do cineasta peca um pouco no desenvolvimento da personalidade de Yossi. É verdade que ele é frio, mas nem no momento de uma morte importante ele consegue expressar dramaticidade, o que atrapalha um pouco na produção de um efeito emotivo no filme, que é carregado por sua trilha sonora – essa, sim, impulsiona e produz o drama. 

O cineasta opta por fugir de marcas e estereótipos do gênero, apesar de cair no clichê ao fim do longa, e com isso constrói uma relação muito bonita e genuína entre os dois personagens, traduzindo uma verossimilhança muito importante, quer dizer, aproximando ao máximo os protagonistas da realidade. Nada do que está posto ali é inverossímil ou difícil de acreditar. É tudo muito palpável em nível do real, daquilo que acontece na realidade, e isso justifica a narrativa sem qualquer traço de sofisticação, seja no âmbito estético, seja no plano do argumento em si. 

Concluindo o filme de uma maneira coesa em relação ao que vinha propondo desde o começo, o cineasta entrega uma obra harmônica entre suas partes, trabalhando bem as relações entre o início, meio e fim. Yossi & Jagger é um curto e belo filme sobre os conflitos internos entre dois homens apaixonados que sofrem constantemente com a ameaça de um exterior nada favorável a eles, e que no entanto ainda assim vivem o amor de modo intenso e gratuito. Produzindo um fim em si mesmo, o longa encerra num ritmo que já é esperado, sem grandes surpresas, mas também sem grandes equívocos. 

Delicada Relação (Yossi & Jagger, Israel, 2002)
Direção: Eytan Fox
Roteiro: Avner Bernheimer
Elenco: Ohad Knoller, Yehuda Levi, Assi Cohen, Aya Koren, Hani Furstenberg, Sharon Raginiano, Yaniv Moyal
Duração: 65 minutos.

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