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Crítica | Demolidor: Chinatown

por Luiz Santiago
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Você não sai de uma fase tão boa quanto a de Mark Waid à frente de um herói como o Demolidor e acha que as coisas vão funcionar bem e grandiosamente como antes, não é mesmo? Bom, se acha, então você é mais otimista que o próprio otimismo, e só pra constar, isso não faz nada bem à saúde. Cuidado!

A sensação que eu tive quando comecei a leitura dessa nova Era na linha do tempo do Demolidor foi a de decepção aliada à lógica de que “roteiristas mudam, concepções mudam, é preciso se acostumar“. Linhas narrativas, no entanto, são construídas por um motivo: elas marcam um personagem. Elas definem uma Era. E é exatamente por este motivo que as comparações são inevitáveis. Não como critérios para avaliação final, claro. Mas como recepção e concepção de mudanças de um momento para o outro.

Escrito por Charles SouleChinatown é um arco que reúne o prólogo de All-New, All-Different Marvel Point One e as cinco primeiras edições da revista Daredevil Vol.5, onde de cara, temos: retorno do protagonista a Nova York (ele estava em São Francisco durante o Volume 4); desligamento [absurdamente irresponsável] em relação à vida pessoal do Demolidor; um incômodo mistério sobre como a identidade secreta dele voltou a ser secreta (para mim, a PIOR coisa desse reinício, dadas as boas cartas pessoais e os excelentes termos sociais deixados por Waid em A Autobiografia de Matt Murdock) e a apresentação do Ponto Cego (Blindspot/Samuel “Sam” Chung), um ajudante de supetão que o Demônio prefere chamar de “aprendiz”. Ah, sim, e a mudança no uniforme, que volta a ser preto, com os D’s, a luvas, as botas e pequenos outros detalhes em vermelho.

Nesta aventura conhecemos a Igreja das Mãos Protetoras e um novo vilão, o DezDedos (que tem seguidores com poderes limitados chamados de… Oitos, SemDedos e UmaMão. Sim, podem revirar os olhos até às omoplatas), que na verdade tem origem junto ao Tentáculo. Nem as citações ao Punho de Ferro, nem o cameo do Capitão Vovô servem como bons caminhos para cimentar a situação que, neste arco, ainda é um grande mistério. Em um plano puramente narrativo e focado na ideia de reinício, a coisa até consegue ficar acima da média, porque tudo está muito bem fechadinho: a apresentação do sidekick (eu falo sobre o uniforme de PILHAS COMUNS ou vocês falam?) funciona até certo ponto e o Demolidor está fazendo o que faz de melhor, que é lutar. E claro, ainda temos a ótima arte de Ron Garney (com Goran Sudzuka na edição #4) como o verdadeiro destaque de todo o arco.

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Consta que existem reclamações sobre o trabalho de Garney aqui, mas eu não faço parte desse grupo. Para mim, a arte não é apenas a melhor coisa de todo o arco como também combina com o espírito mais sério, sujo, depressivo, desalentado dessa nova fase, afastando por completo o Demolidor do período mais luminoso (mas não se enganem, também cheio de tragédias) que foi a fantástica Era Waid. Outros grandes destaques vão para as cores de Matt Milla e o letramento de Joe Caramagna e Clayton Cowles, em todas as edições. Gosto muito do trabalho com luz e sombra, da escolha de sequências mais granuladas, plano de fundo ou mesmo cenas centrais envelhecidas ou com filtros que indicam uma maneira diferente de o Demolidor enxergar. [Ah, como eu vou sentir falta do sensor radar pelos desenhos de Paulo Rivera e Chris Samnee!].

Charles Soule resolveu mudar um pouquinho a perspectiva de recomeço dos contos do Demolidor, escanteando o hiato (diegético!) de oito meses entre Guerras Secretas e essa nova fase, deixando as respostas para a mudança de coisas muito importantes para um outro momento. Não acho que foi a decisão certa e não gostei do elemento impessoal com que o herói é tratado aqui — notem o pequeno e escrotíssimo diálogo que ele tem com Foggy. Isolando Chinatown como introdução e considerando-o inteiramente separado de algo além, temos um enredo levemente acima da média. A arte é boa, o Ponto Cego é um garoto interessante, o Demolidor continua um personagem interessante, mas a história que temos deles aqui está Eras Geológicas inteiras abaixo do solo onde Mark Waid plantou as suas crônicas do Demolidor. Charles Soule precisa comer muito feijão com arroz pra poder alcançar aquele ponto…

All-New, All-Different Marvel Point One + Daredevil Vol.5 #1 a 5: Chinatown (EUA, outubro de 2015 / fevereiro a maio de 2016)
No Brasil: Demolidor Vol.12 (Panini, fevereiro de 2017)
Roteiro:
 Charles Soule
Arte: Ron Garney (com Goran Sudzuka na edição #4)
Arte-final: Ron Garney (com Goran Sudzuka na edição #4)
Cores: Matt Milla
Letras: Joe Caramagna, Clayton Cowles
Capas: Ron Garney, Matt Milla
Editoria: Sana Amanat, Charles Beacham
124 páginas (encadernado Panini)

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