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Crítica | Demolidor: O Sétimo Dia e Púrpura

Mudando mais uma vez a vida do Demolidor.

por Luiz Santiago
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A impressão que a gente tem ao ler este arco dividido em duas partes (O Sétimo Dia e Púrpura) é que os editores da revista Daredevil Vol.5 chegaram para Charles Soule e deram um ultimato: “pare de fazer as palhaçadas que você está fazendo com o personagem e trate de inventar uma trama sólida que o coloque mais uma vez na praça, como herói“. A mudança entre o que temos nos eventos narrados em Artes Sombrias e aquilo que lemos aqui é muito grande, pegando, é claro, de onde paramos no arco anterior, fazendo a gente ter a impressão de que estamos na Era de outro autor, agora empenhado em trazer a culpa católica de Matt Murdock mais uma vez à tona e desfazer aquilo que Mark Waid fizera em seu fantástico run, ou seja, tornar a identidade do Demolidor oculta… mais uma vez.

Não quero, porém, que fique um engano sobre a minha visão a respeito dessa mudança. Tendo lido e escrito sobre todo o período de Waid à frente do personagem, posso afirmar que a questão da identidade revelada funcionou perfeitamente bem naquele momento, porque o autor tinha um plano para o personagem dentro dessa nova situação; havia uma história para se contar. Entretanto, com a chegada de Soule ao título, em Chinatown, essa intenção se perdeu, não havia mais história. Dessa forma, a mudança que se fez aqui acabou sendo bastante positiva, pois trouxe um novo elemento de culpa para o personagem (o que é o Demolidor sem algo perturbando seu mente, não é mesmo?) e mais uma vez o colocou numa situação de certa segurança, uma vez que a identidade pública estava acabando com sua vida profissional e também de herói — como disse, Soule não tinha mais história para contar com o antigo status do Demolidor.

É verdade que nas primeiras edições ainda temos uma lenta apresentação dos novos ares, com o escritor resolvendo os problemas com Ponto Cego e indicando possibilidades de ação para o Destemido a partir de um sentimento de culpa e responsabilidade “por ter levado o jovem à terrível situação em que se encontra“. É uma boa premissa, mas atrapalhada pela descaracterização do protagonista. Quando acontece a mudança de O Sétimo Dia para Púrpura, o tom do texto muda imensamente e temos diante de nós mais um retcon, agora explicando o por quê de ninguém mais saber a identidade do herói da Cozinha do Inferno. E é uma história bem contada, a despeito daquela sensação amarga que os retcons nos trazem. O fato é que nessa nova situação, Matt Murdock pode agir livremente como advogado (ele também tem uma missão/aconselhamento religioso para colocar em prática) e como herói, sem passar por estranhos escrutínios da polícia ou da promotoria da cidade.

O momento em que tudo muda… de novo!

Goran Sudzuka ainda é o principal artista do arco, mas também temos edições com desenhos de Ron Garney e Marc Laming, dinâmica que sempre vejo com bons olhos. Essa alternância é, inclusive, utilizada a favor da narrativa no momento em que Matt está dominado por Killgrave, o Homem-Púrpura, e encontra-se com as várias versões de si num bar mental. É uma ótima sacada narrativa, dando inúmeras piscadelas para leitor ao mesmo tempo que faz dessas versões passadas do personagem uma boa representação de intenções, pensamentos, mudança e amadurecimento do Demolidor ao longo das Eras. Eu talvez tivesse gostado mais da história se houvesse algum tipo de resistência aos ataques de Killgrave, mas pela forma como a coisa foi erguida, executada e finalizada, devo dizer que foi suficientemente decente, o mesmo valendo para a atitude das Crianças-Púrpura que tentam ajudar o Demolidor.

Durante boa parte desse segundo arco eu imaginei que o próprio Demolidor é quem faria uso dos poderes de Killgrave ou de seus filhos para afetar a mente das pessoas e fazer com que todos se esquecessem de quem ele é. Ainda não tenho muita certeza se gosto dessa versão das crianças, mas considerando a maneira como o arco termina e o que isso representa para o cânone do Demolidor, minha tendência é fazer as pazes com tal resolução. Esclarecido esse ponto da nova fase do personagem, fica claro que sua vida, suas atitudes e a missão de seu cotidiano dará uma leve guinada aqui. A maneira como Ponto Cego saiu de cena me pareceu bem ruim e provisória, então acredito que ele deva voltar nos arcos seguintes, mas o que importa agora é essa mudança de perspectiva. A primeira história do Demolidor, desde o fim da Era Mark Waid, que me deixou verdadeiramente animado para continuar a acompanhar o título.

Demolidor #15 a 20: O Sétimo Dia e Púrpura (Daredevil: The Seventh Day / Purple) — EUA, janeiro e maio de 2017
Roteiro: Charles Soule
Arte: Goran Sudzuka, Ron Garney, Marc Laming
Arte-final: Goran Sudzuka, Ron Garney, Marc Laming
Cores: Matt Milla, Miroslav Mrva
Letras: Clayton Cowles
Capas: Dan Panosian, Ron Garney, Matt Milla, Mike Deodato Jr., Frank Martin
Editoria: Mark Paniccia, Chris Robinson, Mark Basso
144 páginas

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