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Crítica | Demolidor: São Francisco

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

Depois de revelada a identidade do Demolidor em Fechando as Portas, último arco do Volume 3 da revista Daredevil, Matt Murdock foi obrigado a mudar-se de Nova York para São Francisco. Ele  e Foggy perderam a licença para exercer a profissão de advogados na antiga cidade, o que os colocava em uma situação financeira difícil, considerando que Foggy seguia com um custoso tratamento contra o câncer.

Foi a partir desses fatos gerais que nasceu o Volume 4 do Demolidor, ainda nas mãos da dupla Mark Waid (roteiro) e Chris Samnee (arte). O consenso geral é que os textos de Waid, desde as primeiras páginas da edição #0.1 (a única desenhada por Peter Krause), apresenta um impressionante olhar para o futuro. O autor se vale muito bem do que construiu em todo o Volume Três da revista e não perde tempo criando justificativas para algo já muito bem justificado. Aqui, vemos Murdock e Kirsten McDuffie mudarem-se para São Francisco e estabelecerem uma vida mais ou menos tranquila na cidade, até que os primeiros problemas começam a aparecer.

Com o Demolidor sendo uma celebridade e tendo sua identidade revelada, o assédio a Murdock e a forma como os vilões tratariam essa informação foi a minha grande preocupação para este início de volume. Se antes esse dado fez o Rei do Crime estraçalhar a vida do herói em A Queda de Murdock, o que fariam os vilões de agora ao saberem quem ele é? Mark Waid faz de tudo para não tornar a resposta a essa pergunta uma coisa histérica, gratuita. Ele se vale de cuidados narrativos que deixam o Demolidor/Matt Murdock “protegidos” por um senso de “privilégio de informação” que agora passa a ser interesse dos vilões do Homem sem Medo, como acontece aqui com o Mortalha e o Coruja.

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Uma desvantagem de ter sua identidade revelada? Tirar fotos com “fãs”…

É como se a revelação da identidade, ao mesmo tempo que facilitasse a perseguição ao herói, fizesse os vilões procurarem um nível de dificuldade mais intricado para chegar até ele. Nas mãos de Waid, isso é bem costurado e percebemos que ele vai marcando, passo a passo, a estadia do Demolidor em São Francisco a partir desse ponto fraco. É por isso que a história da edição Especial “Demolidor 50 anos” seja tão real, tão interessante. Mesmo que aquela trama nunca aconteça, a ligação entre esse início de Vol.4 e um plano mais familiar, mais “raiz” para o personagem ganha asas e é executado com bom humor, tensão e sequências inteligentes de eventos, um conjunto que nos levaria tranquilamente para uma realidade onde o Demolidor se tornaria, sim, prefeito de São Francisco.

É claro que no meio de tudo isso faltam alguns pormenores, algumas histórias parecem ter reticências demais (a “morte” de Foggy, por exemplo), mas é preciso ter em mente que estamos fazendo a avaliação de um volume em andamento. Julgar o que ora temos em mãos, é verdade, mas é certo que, em se tratando de Mark Waid, a história não ficará incompleta.

***

O ótimo trabalho artístico de Peter Krause na edição #0.1 me fez querer ver mais coisas dele nesta nova fase do Demolidor. Não que eu não goste da arte de Chris Samnee, longe disso. Mas a concepção mais vivaz, com traços mais finos e curiosas supressões de alguns panos de fundo nos desenhos de Krause me deixaram realmente impressionados. Não chegaria a colocar o seu trabalho como superior ao de Samnee, mas ganhou a minha preferência.

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Excelente sequência mostrando a ação do Coruja e da Coruja!

Essa relação entre “superior” e “inferior” já fica mais fácil quando julgamos as cores de John Kalisz na mesma edição. Elas definitivamente são superiores ao trabalho de Javier Rodriguez no restante da revista. Mais dramática, com mais brilho e alternando bem os quadros monocromáticos com ambientes de tonalidades diferentes, o estilo do profissional se torna facilmente um favorito. Particularmente gosto de tudo o que o Rodriguez  colore, desde que não sejam cenários escuros (única exceção, talvez, seja o que ele fez em Medo e Delírio na Latvéria, no volume anterior do Demolidor). Mas é aí que eu colocaria as cores de Kalisz em destaque, porque ele consegue trabalhar bem em cenários com luminosidades diferentes e ainda assim criar uma identidade coesa em toda a edição, âmbito em que Rodriguez deixa um pouco a desejar. Todavia, é preciso destacar que esta comparação surge apenas em um momento onde, no mesmo arco, temos dois profissionais na mesma função. Não é algo isolado, despropositado. E também não quer dizer que eu não admire a coloração de Javier Rodriguez.

Com um texto cômico, realista e inteiramente conectado com sua época, Mark Waid dá início, em alto estilo, a mais uma fase do Demolidor. Que venham as desgraças.

Daredevil Vol.4 #0.1 a 4
No Brasil: Demolidor #7 (encadernado da Panini)
Roteiro: Mark Waid
Arte: Peter Krause (apenas na edição #0.1), Chris Samnee
Cores: John Kalisz (apenas na edição #0.1), Javier Rodriguez
140 páginas

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