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Crítica | Demon’s Souls

por Guilherme Coral
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estrelas 5

Desolação, essa talvez seja o sentimento que melhor define a experiência de Demon’s Souls. Tal sensação perdura desde a primeira cutscene até o último chefe e é exatamente isso que deseja ser passado. É um game que traz diversos elementos de jogos de gerações anteriores, compondo uma experiência única e desafiadora.

O reino de Boletaria é onde nossa aventura se passa. Um reino onde a ambição do rei Allant acordou o Old One, que, em seu despertar, trouxe a deep fog e uma legião de demônios. Pouco a pouco a terra foi sendo envolvida pela neblina a ponto que o único bastião de segurança é a estrutura conhecida como Nexus que vincula as regiões exploráveis. Sob nosso controle está um guerreiro solitário que decidiu desbravar a deep fog, buscando salvar o reino de Boletaria ou à procura de almas de demônios, que garantem poder inimaginável. Através de uma breve marcante cutscene somos apresentados a tais fatos que compõem a trama de Demon’s Souls.

Desde já podemos observar os elementos que compõem o game. A narração garante o tom melancólico e de solidão que perdura durante todo o game, ao mesmo tempo são utilizados tons de sépia na abertura que junto do próprio texto nos passam a ideia de que tudo isso começou há séculos e, conforme progredimos no game essa sensação só aumenta.

Chefe do tutorial - não ligue se você morrer

Chefe do tutorial – não ligue se você morrer

Em primeira instância, a história do jogo pode parecer curta. Quem não prestar atenção aos elementos ao seu redor pode simplesmente passar por todo o game sem absorver nada, apenas vencendo inimigos um a um. Isso se dá, pois a trama não nos é revelada de forma óbvia. É preciso exploração e que conversemos com os personagens do game. Sejam puras curiosidades como fatos importantes para a compreensão do que se passa, Demon’s Souls dispõe tudo de forma espaçada – encontramos algumas informações em itens, outras em uma fala, outras através da observação das áreas. No fim permanece a sensação de que realmente somos um elemento intruso àquele mundo e que se quisermos saber sobre ele teremos de investigar. Aqui entra um dos melhores elementos de toda a narrativa do jogo: a especulação. Quase nada é garantido, o que deixa espaço para a livre interpretação do jogador; um jogo que se molda às percepções de cada um.

A fama da dificuldade tanto deste quanto de seu sucessor espiritual, Dark Souls, já é conhecida e não é preciso muitos minutos de jogo para comprovar este fato. O primeiro lugar que entramos consiste de uma área destinada aos tutoriais do game. Pouco a pouco vamos sendo apresentados ao ótimo combate do rpg e entendo um pouco de seu desafio. Sim, é um game incrivelmente difícil para os padrões atualmente estabelecidos, mas raríssimas vezes ele é injusto. Desde esse pequeno treinamento do início já é possível entender os fundamentos no qual Demon’s Souls se baseia: na tentativa e erro. Resgatando tal fator de jogos mais antigos, o rpg pode parecer uma série de obstáculos a serem transpassados que, no fim, parecem constituir fases confusas. Ao morrer, contudo, e a morte é certa, somos obrigados a passar pelas conhecidas áreas novamente, mas, dessa vez, com uma segunda visão. Passamos a conhecer as armadilhas onde entrar e como entrar e, com o tempo, cada localização se torna familiar e o medo da morte se torna sede pelo desafio.

Mas não ache que morrer indefinidamente irá resolver seu problema. A cada morte perdemos todas as almas coletadas dos inimigos – tais almas são utilizadas para avançar em níveis e comprar equipamentos ou magias – é possível coletar a quantidade perdida voltando ao local da morte. Porém, se o jogador tiver o azar de morrer antes de coletar suas almas novamente (e isso é uma constante no jogo) ele perderá todas elas. Além disso, a morte nos leva de volta para o estado phantom que diminui nossa vida pela metade. Podemos voltar ao modo normal derrotando um chefe, outro jogador ou utilizando um raro item. Não se engane, este é um game que testa a paciência de todos, mas ao mesmo tempo ele é incrivelmente recompensador e a cada obstáculo vencido sentimos que realmente avançamos não só em níveis como em compreensão e habilidade como jogador.

Somado à legião de criaturas ensandecidas que visam a nossa destruição, Demon’s Souls apresenta seu ótimo e inovador multiplayer, que se dá através de invasões de outros jogadores ao seu mundo. Basicamente é possível adentrar a área na qual uma outra pessoa se encontra e matá-la. Por que alguém faria isso? Simples: porque é divertido e recompensador. Isso acaba ampliando ainda mais a sensação de nunca estarmos a salvo dentro do game e, mesmo tendo jogado horas, o inesperado ainda é uma constante. O multijogador, contudo, não se limita a invasores. Para nos ajudar, seja em chefes ou nas próprias fases podemos trazer outros jogadores para nossos mundos para atuar de forma cooperativa.

O único lugar que você está praticamente a salvo

O único lugar que você está praticamente a salvo

Eu não poderia, é claro, deixar de falar dos chefes que combatemos ao longo do game. Cada uma das lutas representa uma diferente estratégia que exige do jogador não só um alto grau de atenção, como utilização do que ele aprendeu até ali. Não importa quão alto seja seu nível: qualquer inimigo pode te matar e isso vale especialmente para cada chefe. Além disso não só seus designs como suas histórias (mais uma vez: mostrada de forma discreta), se encaixam perfeitamente nas fases que eles se encontram e eles próprios funcionam como aprofundamento da história, mesmo que não digam uma palavra.

Somado a todos esses elementos, encontramos a trilha sonora de Shunsuke Kida, que transmite cada centelha da sensação de desespero presente no game. Muitos momentos são totalmente ausentes de música e o silêncio atua como um poderoso aliado ao clima do game – nesses casos costumamos ouvir sons ambientes, sejam gritos, barulhos dos inimigos ou simplesmente o vento. Quanto a música de fato aparece ela amplifica a tensão construída pela situação.

Demon’s Souls merece sua fama e definitivamente merece a atenção de qualquer jogador que busca um desafio. Sua experiência é, ao mesmo tempo, punitiva e recompensadora, prendendo o jogador por mais que ele morra constantemente. Ele irá trazer cada um para seu clima desolador, provocando uma grande imersão em sua narrativa não-linear que compõe um dos melhores games de sua geração.

Demon’s Souls
Desenvolvedora:
 FromSoftware
Lançamento: 06 de Outubro de 2009
Gênero: RPG
Disponível para: PS3

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