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Crítica | Depois de Lúcia

Os desdobramentos do bullying numa história amarga sobre luto e reparação.

por Leonardo Campos
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Determinadas situações traumáticas ficam tatuadas em nossas memórias, pela intensidade do acontecimento, algo que acaba nos acompanhando pelo resto de nossas vidas. Apesar de ser algo forte, ficou para trás, em registros, diferentes da recente nova perspectiva de registro para humilhações, que fazem o trauma ser revivido a cada clique e compartilhamento: é a prática do ciberbullying, algo que tangencia Depois de Lúcia, drama escrito e dirigido por Michel Franco, numa trama mais focada nos debates sobre reconstrução de existências e enfrentamento do luto. Lançada em 2012, a produção mexicana se tornou uma referência nos debates sobre os tópicos temáticos destacados, funcionando como recurso pedagógico para versar sobre a perversidade das gerações mais jovens, imbuídas de covardia ao atacar pessoas que não dialogam com sua tribo, infligindo dor e sofrimento ao outro, tendo em vista exaltar a si mesmo.

Ao longo de seus 103 minutos, acompanhamos a saga de Roberto (Hernán Mendonza) e sua filha Alejandra (Tessa La), integrantes de uma família que se desintegrou após a morte da matriarca, Lúcia, aniquilada da existência física após um terrível sinistro de trânsito, o acontecimento que abre a narrativa com considerável barulho de um automóvel em colisão. Entristecidos e mergulhados numa forte melancolia, pai e filha tentam sobreviver ao sentimento de perda que está fortemente arraigado nesta família. Para melhorar as coisas, ambos viagem para a Cidade do México. É uma nova chance para fazer as coisas ficarem diferentes. O problema é saber se vão se adaptar diante dos inevitáveis obstáculos que aparecerão.

Do balneário que viviam, parte para uma nova perspectiva. É tempo de recomeçar. Para os dois, a mudança traz muito desconforto, em especial, para Alejandra, adolescente que precisa recomeçar suas amizades, mas ela encontra na escola os intensos momentos de falta de paz. Em silêncio, ele enfrenta o Bullying que vem acompanhado de humilhações tenebrosas, momentos de desconforto oriundos de uma modificação geográfica de perspectiva que, infelizmente, não permite que as coisas melhorem. Sádicos, os jovens que perpetuam estes atos violentos contra a garota reforçam o quão o tema precisa de mais propostas de intervenção. Um dos trechos que indicam o ápice é o compartilhamento virtual de uma sequência abominável: o bolo com fezes.

Cru, Depois de Lúcia tem problemas consideráveis de ritmo, pois é uma narrativa que demora para engrenar e em muitos momentos, deixa os espectadores mergulhados no marasmo. Guiado pela direção de fotografia de Chuy Chávez, o filme se estabelece com sua câmera estática, feixes de iluminação natural, em linhas gerais, elementos que reforçam a adoção de um estilo que evita dispersões estéticas e se direciona para a discussão do tema proposto. O design de produção de Evelyn Robles também mantém a discrição na concepção dos espaços, tendo em vista promover um diálogo com as propostas da fotografia. É um filme ameno, sem grandes picos de emoção, lento até mesmo nas passagens mais escabrosas, como tal vídeo veiculado para compartilhamento e humilhação da vítima para o maior número possível de pessoas. No geral, uma história sobre o lado perverso de cada um de nós. Lamentável.

Depois de Lúcia (Después de Lucía – México, Franca – 2012)
Direção: Michel Franco
Roteiro: Michel Franco
Elenco: Tessa Ia, Hernán Mendoza, Gonzalo Vega Jr., Tamara Yazbek, Paco Rueda, Paloma Cervantes
Duração: 103 min

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