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Crítica | Depois de Maio

por Rodrigo Pereira
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“Não estou satisfeito comigo. Vivo em um mundo imaginário. E quando a realidade bateu na porta, eu não abri.”

Inicialmente liderada pela força estudantil, o movimento de maio de 1968, que começou com intuito de obter reformas na educação e, posteriormente, desencadeou em uma enorme greve dos trabalhadores franceses, está marcado na história recente da humanidade como um grande evento. Décadas após seu término, diversos estudos e debates continuam acontecendo em torno desse episódio, seja para melhor compreendê-lo, aprender com ele e até mesmo como fonte de inspiração.

Apesar de não ser citado claramente, o episódio possui, mesmo que indiretamente, grande influencia na trama de Depois de Maio. Dirigido por Olivier Assayas, o enredo acontece poucos anos após o movimento (em 1971, mais precisamente) e gira em torno essencialmente de Gilles (Clément Métayer), um jovem estudante anarquista que almeja tornar-se artista. Ele divide seu tempo entre ações para fomentar a revolução, como distribuição de jornais, cartazes, pichações e reuniões em partido; arte, através da pintura, desenho e até cinema; e amor, entre idas e vindas com Laure (Carole Combes) e Christine (Lola Créton).

Essa variação das ações da personagem, inclusive, acaba sendo o foco central da obra. Durante toda a projeção iremos pular de revolução para arte e depois para amor. Ou do amor para a revolução. Ou vice-versa. E em todos os momentos, em maior ou menor grau, todos esses núcleos estarão misturados. Porque isso tudo compõe a persona de Gilles: subversivo, apaixonado, artista, jovem. A juventude acaba sendo o fator determinante do porquê o aspirante a artista/revolucionário/galã vive de forma tão intensa todos os pontos abordados.

É provavelmente nessa fase da vida que todos os sentimentos e vontades estão à flor da pele. O mesmo acontece com Gilles. Ele encara de peito aberto todo e qualquer tipo de autoridade, até mesmo fazendo uso de armas como coquetel molotov, caso preciso. Cria entre dezenas e centenas de pinturas e desenhos, o suficiente para tapar o chão e as paredes de um quarto, em um curto espaço de tempo (e os descarta com a mesma facilidade com que os produz). Quando questionado, afirma amar Christine, mesmo que estejam juntos há poucos dias e sua relação com Laure tenha findado não mais do que algumas semanas.

Esse comportamento é identificável não somente em suas atitudes e decisões, mas também em suas roupas. Seu figurino alterna entre camisas leves e cores intensas, principalmente no primeiro ato da obra, roupas mais pesadas com cores mais escuras, no segundo ato, e, no ato final, novamente roupas leves, porém com estampas psicodélicas, remetendo ao universo artístico, como se Gilles tivesse feito sua escolha. Algo bastante plausível, pois é justamente no terço final da película que a personagem se distancia tanto do núcleo amoroso quanto do político. Sua visível escolha pela arte vem após uma impactante fala durante uma conversa com seu amigo Alain (Félix Armand), na qual Gilles diz sentir-se “vivendo em um mundo imaginário”, o levando para o caminho que acredita ser o mais acertado para preencher seu vazio interior.

Depois de Maio é uma obra sobre a juventude. Seus equívocos, excessos, erros, realizações e todos os outros quesitos que compõem o conceito de ser jovem. Tudo personificado em Gilles e passado em um período marcado por profundas mudanças sociais, nada mais adequado. Uma obra e tanto de Assayas.

Depois de Maio (Après mai) – França, 2012
Direção: Olivier Assayas
Roteiro: Olivier Assayas
Elenco: Clément Métayer, Carole Combes, Lola Créton, Félix Armand, Bobby Salvör Menuez, Hugo Conzelmann, Martin Loizillon, André Marcon 
Duração: 122 minutos

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