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Crítica | Der Samurai

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

Der Samurai foi um dos primeiros filmes a atiçar minha curiosidade no Festival do Rio 2014. Algo que ocorreu não só pelo título como pela sinopse que, por si só, já traz uma quebra de expectativa.

Jakob é um jovem policial em uma pequena cidade que é constantemente aterrorizada por lobos. Quando um misterioso pacote é entregue na delegacia, Jakob sai à procura do remetente na floresta.

Ao ler este trecho nada mais estranho que se esperar um suspense ou terror no qual o protagonista deve sobreviver a travessia até a cabana, sem ser devorado pelo lobo em questão. Uma espécie de releitura de Chapeuzinho Vermelho. Então lemos a segunda parte da sinopse.

Em uma cabana, encontra um homem com olhar selvagem trajando uma vestimenta branca, que abre o pacote e revela uma katana – a espada dos samurais. Tem início então um jogo de gato e rato entre o samurai e o policial, que tenta conter a todo custo o que está sendo ofertado por seu perigoso opositor: as fantasias transgressoras.

O filme então parece cair pelo viés dos slasher movies, onde uma espécie de psicopata persegue um grupo incauto fora de seu lugar comum. Já no filme em si temos, então, a segunda quebra de expectativa: não é o “samurai” que persegue o policial e sim o contrário! A direção de Till Kleinert ainda brinca com o conceito dos slasher e introduz alguns pontos em comum a tais narrativas, mas logo realiza uma reviravolta de impressionar. O medo de Jakob é substituído por uma estranha e até psicótica obsessão e a perseguição é dada início, sempre trabalhando a relação entre os dois personagens.

O “samurai” funciona como um protagonista sem os moldes impostos pela sociedade. É alguém livre e desequilibrado, que não mede esforços para fazer exatamente o que quer. A todo momento é aberto um paralelo entre esse perturbador psicopata e o lobo da floresta. Ele é o lobo mau das histórias infantis, um ser tomado simplesmente por seus desejos primais, seus instintos selvagens. O roteiro de Kleinert trabalha nisso de forma notável, trazendo a falta de lógica a cada momento. Der Samurai é como uma grande alucinação coletiva e caminha por essa via de forma fluida, exigindo que o espectador se entregue, pedindo sua percepção sem, necessariamente, obrigar uma racionalização.

Essa crescente loucura é bem representada pela fotografia. Os tons cinza-nublados daquela cidadezinha, aos poucos, dão espaço para a escuridão. Os planos que veem os personagens no escuro são intercalados pelos closes que buscam nos aproximar deles, transferir o seu desequilíbrio mental para nós. Conforme avançamos em minutos na projeção o vermelho vai ganhando vida. As imagens avermelhadas ganham destaque, nos remetendo novamente ao instintivo, a impulsividade que o “samurai” tanto quer deixar livre em Jakob. E, de fato, temos essa libertação ganhando mais espaço, ao ponto que a montagem assume um caráter mais incerto, de ritmo mais frenético que ilustra a confusão do protagonista, a transferindo para a audiência.

Ao fim da obra, a percebemos como uma maluquice completa, algo que lentamente se construiu para adquirir essa forma perturbadoramente intimista. Definitivamente, Der Samurai, não é um filme de fácil digestão, se distanciando de tudo o que esperávamos ao ler sua sinopse. Ainda assim vale a experiência, que logo se define como única – não por ser essencial, mas por nos trazer um retrato original da busca pela liberdade, das amarras da sociedade.

Der Samurai (idem – Alemanha, 2014)
Direção: 
Till Kleinert
Roteiro: Till Kleinert
Elenco: Michel Diercks, Pit Bukowski, Uwe Preuss, Kaja Blachnik, Ulrike Hanke-Haensch, Christopher Kane
Duração: 79 min.

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