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Crítica | Desaparecida (2023)

Subvertendo a fórmula.

por Felipe Oliveira
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Olhando para Desaparecida, é bastante curioso que faz dez anos desde que Clausura deu início ao que seria “a evolução” narrativa do found footage com o chamado screenlife, e ainda assim, é uma abordagem que funciona ao compor de um estilo para contar uma história. Se encarar de forma mais seca, no fundo, tem-se uma base trivial no roteiro de Nicholas D. Johnson e Will Merrick de um thriller marcado por reviravoltas para validação de sua qualidade, porém, há muito mais para ser observado no formato que explora a interação entre telas de websites e aplicativos.

Além de assinar o roteiro, a dupla assume também a direção da sequência de Buscando…, substituindo  Aneesh Chaganty. A diferença desses dois filmes em comparação a outros títulos seguidos de The Den é que não há a mescla óbvia entre terror e os adventos da web para falar dos dilemas da cibercultura, mas sim, utiliza do formato para dar um caráter mais cru a história apresentada, algo mais próximo do found footage. Nesse sentido, o screenlife divide sua narrativa entre os registros em tempo real de webcams, câmeras de seguranças e com o que é exibido nas telas de notebooks e smartphones dos personagens, e isso se coloca como o maior artifício ao trocar a estrutura das “últimas filmagens amadoras de uma câmera encontrada” por uma dinâmica mais ágil que mantém o espectador atônito ao acompanhar o que desdobra entre informações virtuais.

Longe do ritmo agitado do found footage, característica vinda da edição abrupta, movimentos instáveis de câmera e também de jumpscares, o screenlife escreve seu estilo através da perspectiva das telas. A grande sacada de Missing que ainda tem sua história criada por Chaganty ao lado de Sev Ohanian é por não ter a pretensão de ser uma sequência que se aproveita dos aspectos que funcionaram em Searching… mirando colher os mesmos frutos, e sim é sequência que expande a abordagem de maneira inteligente. E embora o roteiro parta de um conflito melodramático para engatinhar a trama, Desaparecida se trata de um suspense muito mais habilidoso ao articular uma sátira metalinguística que, além do próprio conceito,  conversa também com a audiência que observa todo o desdobramento do mistério através de telas, e de sua tela…

Ao perceber que sua mãe e namorado estão desaparecidos ao não retornarem de uma viagem para Colômbia, June (Storm Reid) começa uma busca incessante com seu notebook a fim de solucionar o caso. Enquanto o antecessor embalava a desesperada corrida de um pai para encontrar sua filha, o que revelava o quanto as ferramentas da internet diziam sobre as pessoas que conhecemos, Missing mantém a mesma síntese por perto como base, a medida que expõe os nossos comportamentos como internautas quando um crime se torna assunto em redes sociais. Esse é um dilema que reflete ironicamente a partir da protagonista que tem como programa favorito uma série que dramatiza histórias de crimes reais e os adventos da web, o que faz dele um pseudo-documentário, depois, se vê no centro de uma “trama” semelhante quando o sumiço de sua mãe se torna viral.

Dessa forma, o argiloso trabalho de roteiro e direção de Merrick e D. Johnson faz da história de June um filme de terror em tempo real costurado a suspense que manipula as expectativas e mostra a ambição de elevar o conceito para tropos mais expansivos. A exemplo da fotografia de Steven Holleran, que consegue criar momentos de tensão específicos  com o jogo de enquadramentos e mudança de planos em ambientações limitadas e com baixa iluminação, e nisso, entra também uso da música de Julian Scherle que compõe trechos assertivos de sustos fáceis. Ter essa mecânica pontua a empolgante estreia da direção da dupla que permite ampliar um formato restrito em sua narrativa ao inserir mais imagens de câmeras externas, uma vez que a investigação se desdobra entre Los Angeles e Colômbia, nisso, é como Missing vai explorando seu conceito com recursos imagéticos.

Mesmo parecendo ser um derivado sem potencial de Searching…, Desaparecida surpreende, demonstrando estar nas mãos de mentes criativas que aproveitam da melhor forma um conceito que ainda tem fôlego onde há uma sutil subversão que se destaca em não diminuir o teor do mistério em detrimento da quebra de estrutura com a metalinguagem. Ao trazer um quebra-cabeça que empolga e bagunça com as peças, o longa oferece um panorama irônico sobre vulnerabilidades da web e da alienação em torno de crimes nas redes sociais. Em suma, a trama emplaca com um thriller genérico a tendência frente a crimes reais, ora tratado quase como objetos instantâneos de documentários, ora como novo tópico para exploração eufórica da internet de debater e teorizar seus achismos e também o público, que traça suas conclusões ao longo da história.

Desaparecida (Missing – EUA, 2023)
Direção: Nicholas D. Johnson, Will Merrick
Roteiro: Nicholas D. Johnson, Will Merrick
Elenco: Storm Reid, Nia Long, Tim Griffin, Ken Leung, Amy Landecker, Megan Suri
Duração: 111 min.

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