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Crítica | Desejo de Matar 5

por Ritter Fan
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  • Leia, aqui, as críticas de todos os filmes da franquia Desejo de Matar.

Paul Kersey é um personagem amaldiçoado. Ele não consegue viver sua vida em paz sem que, volta e meia, algum ente querido seu sofra uma morte violenta. Em Desejo de Matar, sua esposa é morta e sua filha, depois de estuprada, fica em estado catatônico. Na péssima continuação, sua filha é novamente estuprada e, em seguida, morre, com sua empregada doméstica também sofrendo com estupro e morte e, de quebra, com seu amigo policial perdendo a vida ao ajudá-lo. No surpreendentemente divertido terceiro filme, é a vez de um amigo seu da época da guerra morrer e, depois, a esposa de um vizinho ser estuprada e morta e sua namorada ser sequestrada e, em seguida, morta também. No mediano quarto filme, que poderia muito bem ter encerrado a franquia, tanto a filha de sua nova namorada quanto sua própria namorada são mortas. Ficar perto de Kersey definitivamente é algo mais perigoso do que andar pelas ruas do Rio de Janeiro (vide listagem ao final da crítica).

Depois de sete anos longe de seu personagem mais famoso, Charles Bronson volta para Desejo de Matar para uma despedida tardia, com o ator já no alto de seus 73 anos. O filme também marcaria a última vez que uma obra com o ator no elenco estrearia nos cinemas, já que seus três filmes posteriores (a trilogia À Queima Roupa) seriam lançados diretamente na TV. Se essa volta definitivamente é um fim apropriado para a carreira cinematográfica do ator, pois fecha um círculo, por outro ela poderia ser melhor, mais marcante, para nos despedirmos de Paul Kersey de maneira inesquecível.

Allan A. Goldstein, que escreve e dirige o longa, era um diretor especializado em televisão e, em 95 minutos e com um orçamento diminuto igual ao filme anterior, pela produtora que sucedeu a falência da Cannon Filmes, ele entrega uma obra cansada, pouquíssimo inspirada e, pior, com diversos problemas técnicos oriundos de uma direção perdida e desfocada. A premissa, como sempre, envolve a mutilação e depois a morte de Olivia Regent (Lesley-Anne Down), a mais recente namorada de Kersey, uma estilista de Nova York que fora casada com Tommy O’Shea (Michael Parks), um mafioso local que usa seu negócio – dentre outros – para lavar dinheiro. É por intermédio de Tommy, claro, que Olivia é desfigurada e depois assassinada, algo que serve de catalisador muito atrasado para a ira de Kersey, que volta a empunhar seu revólver para dar cabo na bandidagem depois de tentar lidar com a questão pelos canais normais, envolvendo seu amigo promotor público Brian Hoyle (Saul Rubinek) no processo.

Quando digo “catalisador atrasado”, falo literalmente, pois são pouco mais de 50 minutos só para que isso aconteça em um filme que, sendo o quinto de uma série, não precisava de muita enrolação para colocar seu protagonista novamente com “desejo de matar”. Com isso, por praticamente a metade da projeção, vemos o proverbial cachorro correndo atrás do rabo, com demonstrações cada vez mais evidentes da violência desmedida de Tommy, que usa dois irmãos capangas como seus braços direito e esquerdo e um surreal assassino emo vivido por Robert Joy, extremamente obcecado com sua segurança pessoal e que tem caspa (sim, essa é uma característica repetida e mostrada diversas vezes, mas sem qualquer outra função além de tornar óbvia a razão de seu apelido – Flakes – ou “Flocos”, em português). Quando a fúria assassina de Kersey começa, o espectador já está cansado da mortandade aleatória anterior e, como a atuação do vigilante, por incrível que pareça, é comedida e discreta, com o uso até de veneno para alcançar seus objetivos (Kersey, quem te viu, quem te vê, hein???), nem mesmo o espetáculo de exageros alucinantes que tivemos nos terceiro e quarto filmes está presente aqui, sendo trocado por um ou dois momentos de mais gore, mas que são completamente deslocados e, pior do que isso, completamente telegrafados.

Goldstein parece não ter uma ideia clara do que quer fazer em termos de direção, transformando o filme em uma sucessão de pequenos momentos costurados de forma simplória em um todo que só é coeso o suficiente em razão do extremamente simplório roteiro. Se fosse uma comédia – e aqui nem há como falarmos da comicidade involuntária do terceiro filme, por exemplo – diria que a fita parece uma sucessão de gags, mas com balas e mortes no lugar de risadas. O baixo orçamento, porém, combina mais aqui do que no filme anterior, justamente pelo fato de Kersey lidar com a criminalidade de maneira bem mais discreta em comparação ao que veio antes, com seu revólver .32 voltando à cena, o que acaba exigindo menos de efeitos grandiosos.

No campo das atuações, Bronson continua em seu papel padrão de Charles Bronson e, convenhamos, ninguém faz um Bronson melhor do que o próprio Bronson. Mesmo já mais idoso, sua aparência pouco mudou e ele mantém a severidade e seriedade com que sempre lidou com seus personagens, mesmo nas mais absurdas situações. Robert Joy diverte muito mais pela completa bizarrice de seu personagem do que por sua eventual performance. Primeiro aparecendo fantasiado de mulher em um momento WTF daqueles de arregalar os olhos, ele, depois, tem momentos constrangedores em um funeral e, em seguida, em sua fortaleza que é na base do “só vendo para acreditar”. Michael Parks, portanto, acaba sendo o destaque. O difícil é concluir se positivo ou negativo. Afinal, o ator nunca foi lá essas coisas, mas ele tem um jeito irritantemente “mole” de falar que, sem dúvida, é marcante e ameaçador e sua pose de “rei da cocada preta” é absolutamente irritante, com seu personagem sendo um daqueles que dá vontade de pular na tela para socar. Inegavelmente, porém, sua construção é canastrona ao limite, sendo o mais “vilão de 007” de todos os vilões da franquia.

A produção de Desejo de Matar 5 poderia ter escolhido o caminho do escracho total para pelo menos tentar encerrar a carreira do Sr. Vigilante de maneira bombástica. Acabou ficando bem aquém de seu potencial e, ao tentar uma abordagem, digamos, minimalista, subutilizou o potencial destrutivo de Paul Kersey. Mas não é, como o segundo filme, uma perda total e diverte daquele jeito descompromissado de ser.

Obs: Para demonstrar o perigo de se ter Paul Kersey por perto, compilei abaixo todas as mortes de pessoas de alguma forma relacionadas com ele não causadas pelo Vigilante ao longo de toda a franquia na ordem em que aconteceram e com indicação do filme em que aconteceram:

  1. Esposa: morta por espancamento (DdM1);
  2. Filha: estuprada (DdM1), colocada em estado catatônico (DdM1), estuprada novamente (DdM2) e morta por empalamento (DdM2);
  3. Empregada: estuprada e morta por espancamento (DdM2);
  4. Policial amigo: morto a tiros (DdM2);
  5. Amigo da guerra da Coreia: morto por espancamento (DdM3);
  6. Esposa do amigo do amigo morto: estuprada e morta por espancamento ao jogar-se de um prédio (DdM3);
  7. Namorada 1: sequestrada e morta em acidente automobilístico durante o sequestro (DdM3);
  8. Filha da namorada 2: morta por overdose de cocaína (DdM4);
  9. Namorada 2: sequestrada e morta a tiros (DdM4);
  10. Namorada 3: rosto desfigurado e morta a tiros combinada com queda de prédio (DdM5).

Desejo de Matar 5 (Death Wish V: The Face of Death, EUA – 1994)
Direção: Allan A. Goldstein
Roteiro: Allan A. Goldstein (baseado em personagens criados por Brian Garfield)
Elenco: Charles Bronson, Lesley-Anne Down, Michael Parks, Chuck Shamata, Kevin Lund, Robert Joy, Saul Rubinek, Miguel Sandoval, Kenneth Welsh, Lisa Inouye, Erica Fairfield, Jefferson Mappin, Michael Dunston, Claire Rankin, Sharolyn Sparrow
Duração: 95 min.

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