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Crítica | Destino Insólito (2002)

por Kevin Rick
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Já sentiram vontade de arrancar os próprios olhos assistindo um filme? Destino Insólito, um remake americano/inglês de um filme italiano, certamente deixa o espectador extremamente próximo de tal façanha, dado sua qualidade cinematográfica. A obra dirigida pelo talentoso Guy Ritchie e protagonizada por sua então esposa Madonna, acompanha Amber (Madonna), uma socialite antipática, que está participando de uma viagem de cruzeiro com o marido e alguns amigos. Durante o passeio, a mulher rica e mimada adora humilhar o cozinheiro Giuseppe (Adriano Giannini). Após um acidente de barco, Amber e Giuseppe ficam presos em uma ilha deserta, em uma “bela” história de abuso sexual, violência física e machismo.

É difícil falar ou criar algum argumento em torno de Destino Insólito, pois é uma obra completamente vazia de qualquer valor de produção. A palavra mais branda para descrever a linguagem cinematográfica de Guy Ritchie seria desagradável. O primeiro ato, por exemplo, é basicamente uma montagem genérica de situações em que vemos a personagem de Madonna agindo de forma odiosa com o cozinheiro, em que a câmera estática e melodramática de Ritchie quer evidenciar cada frase maldosa e atitude ofensiva como se tentasse criar algum fascínio com a maldade monocromática, sem um vislumbre de carisma ou afinidade com nossa protagonista.

Esse ponto da falta de identificação com a personagem é importante, pois a obra é – ou pelo menos quer ser – uma comédia romântica sobre redenção da mulher mimada com o bruto. Todavia, não existe dinâmica, ironia ou qualquer tipo de construção de personagem que venda a proposta da paixão entre os protagonistas que não têm nada em comum, não conversam ou sequer parecem pessoas. Aliás, eles são basicamente caricaturas displicentes de uma mulher totalmente aversiva e um marinheiro completamente estúpido. Assim, os problemas da fita já estão logo no início, na inexistente construção do romance ou da atração erótica com o humor agressivo. Mas a partir do momento que a dupla vai parar na ilha, é que o longa envereda por caminhos ainda mais tenebrosos.

Como os personagens não têm traços de personalidade, e o roteiro não consegue criar uma única linha de diálogo que não envolva insulto, o filme se respalda do controle narrativo na edição exagerada, cheia de cortes, pois como cada cena é vazia de qualquer tipo de elemento de interação, é impossível que elas passem de alguns minutinhos rápidos. Dessa forma, o ritmo do filme se torna completamente insosso na montagem excessiva, piorada pelo fato da similaridade entre as sequências que repetem o mesmo processo antagônico. Esse problema se torna pior de duas formas quando os personagens chegam à ilha: primeiro que se perde os outros personagens do barco que pelo menos preenchiam e falavam algo em tela, e, em segundo lugar, o contexto deixa de ser o insulto verbal, e passa a ser a violência corporal.

Como eu disse anteriormente, o arco de Amber é o de redenção, enquanto se apaixona pelo personagem que desprezava. Enquanto Giuseppe… bem… ele não tem arco, desenvolvimento ou qualquer tipo de característica. Ele só está ali posicionado como o agente do caos que mudará a percepção de mundo de Amber, através de um artifício narrativo bastante interessante: a violência. Longe do barco, Giuseppe começa a bater, humilhar e obrigar Amber a lavar suas roupas, enquanto tenta estuprá-la. É isso mesmo que vocês leram, e adivinhem, ela se apaixona por ele!

É complicado colocar em palavras a sensação repulsiva e nauseante que é passar por esse pedaço de destroço machista. Grande parte do bloco na ilha é simplesmente a personagem de Madonna sofrendo as consequências da sua maldade como se ela, por ser uma mulher antipática, merecesse a servidão, enquanto Giuseppe fosse justificado em suas ações revoltantes. Guy Ritchie até evidencia isso com a câmera que dá enfoque a ela lavando roupas, sempre em uma posição menor e servil, olhando para baixo e até beijando os pés do homem que ela é obrigada a chamar de mestre. E então, sem virada orgânica, contexto ou construção dramática, a personagem de Madonna encontra a realização humilde e o amor em seu papel serviente, como toda mulher merece, correto? Simplesmente nojento.

Destino Insólito é um atentado ao Cinema, à Arte, à mulher e ao ser humano. Não existe sequer um valor de produção, um elemento da linguagem cinematográfica, a ser elogiado. As atuações caricatas e superficiais, a câmera genérica basicamente filmando a (falta) de roteiro, a montagem monótona que tenta salvar a decupagem lamentável, a imagem saturada que deixa o filme com uma estética de série de televisão dos anos 70, e por aí vai… Me desculpem a palavra, mas esse filme é uma desgraça. Não assistam isso aqui.

Destino Insólito (Swept Away) — Reino Unido, EUA, 2002
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: Guy Ritchie (baseado no roteiro de Lina Wertmüller, do filme Por um Destino Insólito)
Elenco: Madonna, Adriano Giannini, Bruce Greenwood, Jeanne Tripplehorn, Elizabeth Banks
Duração: 90 min.

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