O bibliotecário de Plaachikkaavu não possui crachá da polícia nem treinamento em investigação criminal, mas conhece cada morador da vila e sabe exatamente quando alguém está agindo fora do padrão. Quando crimes começam a acontecer no lugar, Ujjwalan então se torna a pessoa que todo mundo procura para entender o que está acontecendo. Não porque seja policial ou tenha treinamento especial, mas porque é o tipo que observa, conecta pontos e, principalmente, entende como sua comunidade funciona. O ator Dhyan Sreenivasan dá ao personagem uma simpatia genuína que torna essa premissa completamente crível, criando um detetive que investiga através da conversa e da observação do cotidiano, mais ou menos na linha de Miss Marple, se fôssemos traçar um paralelo mais conhecido.
Gosto muito da abordagem descomplicada da investigação aqui. Enquanto a polícia oficial chega com protocolos e questionários, Ujjwalan simplesmente conversa com as pessoas. Ele sabe quem sempre espia pela janela, quem mudou recentemente seus horários e quem anda estranho há semanas. Essas informações, que para um investigador externo seriam irrelevantes, tornam-se peças fundamentais do quebra-cabeça. Siju Wilson interpreta o delegado que, gradualmente, percebe a eficácia desse método e estabelece uma dinâmica interessante entre o conhecimento institucional e a sabedoria local. A vila ganha vida através dessas interações e cada morador se torna uma potencial fonte de informação ou um suspeito.
Sreenivasan equilibra a autoconfiança de alguém que conhece seu território com momentos de insegurança, quando o caso se torna mais sério do que esperava. Sua interpretação evita a caricatura do “matuto esperto” e o estereótipo do “intelectual perdido no interior”. Seu Ujjwalan é simplesmente alguém curioso, observador e genuinamente preocupado com sua comunidade. A direção de Indraneel GK e Rahul G. acompanha esse tom, criando uma atmosfera que valoriza os momentos de tensão e os de alívio cômico sem forçar demais nenhum dos dois.
É apenas no amarrar das pontas que o filme começa a apresentar os seus maiores problemas. A investigação funciona enquanto se concentra nas descobertas graduais e nas revelações sobre a vida da comunidade, mas tropeça quando exige uma resolução criminal definitiva. O mistério, que parecia orgânico durante o desenvolvimento, resolve-se através de coincidências pouco naturais e revelações que surgem quase do nada (à guisa de reviravolta). É como se os roteiristas tivessem criado um enigma interessante, mas não soubessem exatamente como solucioná-lo de forma satisfatória. Essa fragilidade não compromete totalmente a experiência, mas deixa a sensação de algo realmente especial atropelado por decisões mirabolantes e sem necessidade.
Detective Ujjwalan funciona melhor como um retrato da comunidade do que como thriller investigativo. O filme tem charme suficiente para entreter e inteligência para não subestimar o espectador, mesmo quando suas limitações estruturais se tornam claras. Para quem aprecia cinema que privilegia personagens em vez de fórmulas, a obra oferece duas horas agradáveis de companhia, com um protagonista que merece futuras aventuras. É o tipo de filme que deixa você com vontade de conhecer a vila de Plaachikkaavu e tomar um café com Ujjwalan para conversar sobre os últimos acontecimentos locais. E talvez pedir para que finalize suas histórias com a mesma naturalidade que guiou toda a narrativa: de forma direta, envolvente e sem querer inventar moda.
Detective Ujjwalan (ഡിറ്റക്ടീവ് ഉജ്ജ്വലൻ) — Índia, 2025
Direção: Rahul G., Indraneel GK
Roteiro: Rahul G., Indraneel GK
Elenco: Dhyan Sreenivasan, Mathew Puthukadan, Kottayam Nazeer, Rony David, Siju Wilson, Shambu Mahadev, Seema G. Nair, Nihal Nizam, Anand Bbal, Joseph Forensic Officer, Kalabhavan Navas, Nirmal Palazhi, Ameen, Roni Abraham, Nibraz Noushad
Duração: 124 min.