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Crítica | Deus Perdoa… Eu Não!

por Luiz Santiago
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Os atores Terence Hill e Bud Spencer firmaram uma longeva parceria de trabalho ao longo de suas carreiras, iniciando essa jornada em Deus Perdoa… Eu Não!, um western spaghetti mediano dirigido por Giuseppe Colizzi. O filme faz parte de uma trilogia completada por Assim Começou Trinity – Os Quatro da Ave Maria (1968) e Boot Hill – A Colina dos Homens Maus (1969), todos dirigidos por Colizzi e tendo a dupla Hill & Spencer como protagonistas.

A relação de parceria entre os dois atores se desenvolve melhor nos outros longas da trilogia, mas, nesta abertura, não se apresenta como um duo e sim como uma disputa entre amigos ou parceiros improváveis, algo que grosseiramente podemos comparar à relação entre o Bom e o Feio de Três Homens em Conflito.

Na trama, uma grande quantia em dinheiro é roubada de um trem e uma cadeia de relações pessoais pregressas à história irá juntar Cat Stevens, Hutch Bessy e Bill San Antonio, os três personagens principais da fita. A partir daí, o texto desenvolve uma tortuosa história de vingança e busca por dinheiro, trabalhando elementos caros ao western spaghetti mas com pouco ou nenhum brilhantismo.

O início do filme cativa o público porque traz uma violenta surpresa. A montagem peca aqui e ali mas, no todo, é bastante eficiente na adequação dos planos e ritmo dos takes, alternando cenas do trem vindo em direção à estação, passando à festa de recepção ali organizada e então para o choque da carnificina que se vê quando a locomotiva enfim para no local. Como não existe virtuosismo estético no filme, são esses pequenos momentos que de maneira muito estranha irão fazer valer a sessão, mesmo que a obra padeça de uma mão frouxa na direção e falta de rigor em grande parte de seus quesitos técnicos.

Contudo, mesmo pecando na condução geral da fita, Colizzi logra um bom uso dos espaços cênicos, raramente decepcionando nas tomadas das grandes paisagens de Almería e nas filmagens de praticamente todos os ambientes internos. Ao menos no que diz respeito ao deslocamento dos personagens temos uma boa sequência de cenários, com a vila servindo de ponto recorrente, além de uma quase ritmada caminhada de fuga e caça, ingrediente que ao final da obra ganhará um sentido maior do que o simples símbolo comum a esse (sub)gênero cinematográfico.

O grande ponto negativo, no entanto, é a trilha sonora de caráter majoritariamente operístico de Carlo Rustichelli. O compositor usou praticamente todo o leque possível de temas ao longo do filme, do jazz ao coro épico à la Carmina Burana de Carl Orff, um desacerto musical que incomoda grandiosamente o espectador. Rustichelli só acerta algumas poucas vezes no decorrer do filme, como na cena do violão dedilhado acompanhando de um assobio ou nos breves momentos de desaceleração de um tema mais pesado, com cordas leves e em tons dissonantes ou o solo de algum instrumento executando um tema de poucas notas.

Deus Perdoa… Eu Não! é uma obra mediana, não algo terrível a ponto de ser uma perda de tempo. Trata-se de um filme com direção trôpega e poucos bons momentos de seus componentes isolados, mas o conjunto nos dá uma história que satisfaz o espectador ao menos parcialmente, e finca a vontade de vermos a continuação da saga. Querendo ou não, é um exemplar curioso e não desprezível do western spaghetti.

Deus Perdoa… Eu Não! (Dio perdona… Io no!) – Itália, Espanha, 1967
Direção:
Giuseppe Colizzi
Roteiro: Giuseppe Colizzi, Gumersindo Mollo
Elenco: Terence Hill, Bud Spencer, Frank Wolff, Gina Rovere, José Manuel Martín, Luis Barboo
Duração: 109 min.

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