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Crítica | Dexter: New Blood – 1X01: Cold Snap

O retorno do Passageiro Sombrio

por Ritter Fan
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A oitava e última temporada da primeira encarnação de Dexter não foi boa, mas, diferente de basicamente todo mundo no universo conhecido, eu gostei do destino dado ao protagonista serial killer, deixando-o só, com uma nova identidade, em algum lugar do Oregon, como lenhador, com direito a barba e tudo mais. Era uma forma de castigá-lo por tudo o que ele fez e deixou que fosse feito sem precisar necessariamente matar o personagem. Seu retorno em formato de minissérie, intitulada Dexter: New Blood, pouco mais de oito anos depois que Remember the Monsters? não é de forma alguma algo inesperado considerando a enorme quantidade de séries encerradas e canceladas que vêm renascendo ultimamente, pelo que só nos resta esperar que essa nova história tenha sua própria razão de ser para justificar a existência.

Quase 10 anos depois que fugiu de Miami, Dexter Morgan (Michael C. Hall) agora vive na gélida e minúscula cidade de Iron Lake, no estado de Nova York, sob o nome James “Jim” Lindsay – uma piscadela gigante a Jeff Lindsay, romancista americano que criou o personagem -, namora a chefe de polícia Angela Bishop (Julia Jones), trabalha em uma loja de caça e pesca cujo dono é o simpático Fred Jr. (Michael Cyril Creighton) e é basicamente conhecido por todos por ali, morando efetivamente em uma cabana afastada e seguindo uma rotina diária. Ausente da série está a narração em off de Hall, assim como a voz interior do personagem na forma de seu pai adotivo Harry. No lugar dele, está sua irmã Debra (Jennifer Carpenter), orgulhosa do irmão que não cede a seu Passageiro Sombrio há quase uma década.

Mas esse autocontrole de Dexter, ou melhor, Jim, começa a vagarosamente ruir quando o riquinho e filhinho de papai Matt Caldwell (Steve M. Robertson) aparece por ali para comprar uma arma de caça (que de caça não tem nada, pois não faria feio em nenhum filme do Rambo). Na medida em que Matt torna-se mais proeminente na vida de Dexter, mais o ex-serial killer se torna interessado nele e, aos poucos, o Passageiro Sombrio começa a reaparecer, desta vez inclusive fisicamente, em um pesadelo. Ao mesmo tempo, uma familiar figura do passado de Dexter ressurge para ajudar a sacudir sua vida ainda mais e, potencialmente, trazer uma boa quantidade de problemas, especialmente se, como eu desconfio, também houver um Passageiro Sombrio escondido nele.

A nova ambientação, basicamente uma completa antítese da caliente e enorme Miami, tem seu charme, mas muito claramente diminui as possibilidades de muitas vítimas para Dexter e será interessante ver como isso será abordado por Clyde Phillips, que retorna como showrunner depois de sair na quarta temporada da série original prometendo fazer a série retornar à sua glória. A julgar por Cold Snap, porém, o que Phillips faz é jogar muito seguro, sem se arriscar em absolutamente nada e fazendo exatamente o que séries que retornam à vida precisam fazer conforme o caderninho de regras hollywoodiano: (1) lembrar um pouco do passado, no caso o fato de que todo mundo que se aproxima de Dexter acaba morrendo; (2) apresentar o novo status quo e os instrumentos que o mudarão e (3) efetivamente mudá-lo nos minutos finais, efetivamente abrindo espaço para a nova história.

E é exatamente isso que é feito, o que é, sob certos aspectos, um tantinho decepcionante. Cold Snap é protocolar demais, certinho demais e conveniente demais, com todas as peças encaixando-se de maneira muito clara e evidente, sem deixar espaço para dúvidas mesmo quando arma para criar perigos para Dexter, como o sangue na neve ao final. Além disso, o roteiro peca por um didatismo excessivo e não falo aqui das explicações que Debra oferece à guisa de impedir que Dexter se desvie de seu caminho, mas sim toda a subtrama do cervo branco que é tão dolorosamente óbvia e básica – além de contar com um CGI bem fraquinho – que subestima demais a inteligência do espectador.

Por outro lado, temos Michael. C. Hall de volta ao seu icônico personagem em uma espécie de recomeço e, possivelmente, correção de rumo em relação aos últimos anos da série original. O ator tem uma enorme capacidade de encarar as situações que seu personagem vive com um cinismo cativante e, aqui, há ainda o bônus de o vermos lutando para resistir ao retorno do Passageiro Sombrio, mas sem realmente fazer aquele esforço absurdo para impedi-lo de ressurgir, em uma mistura quase perfeita de desejo e repúdio, talvez como muitos viciados em substâncias sintam em situações limítrofes.

Talvez seja injusto esperar de Cold Snap mais do que o episódio ofereceu, pois não é uma tarefa simples reviver uma série encerrada há oito anos. No entanto, fica aquela sensação de que Phillips poderia ter trazido um pouco mais do que apenas o mesmo, só que com neve. É sem dúvida bacana ver Dexter retornando, talvez para agora ganhar um final que agrade todo mundo, mas teria feito bem a esse recomeço se a produção tivesse arriscado um pouco mais.

Dexter: New Blood – 1X01: Cold Snap (EUA, 07 de novembro de 2021)
Desenvolvimento e showrunner: Clyde Phillips (baseado em obra de Jeff Lindsay)
Direção: Marcos Siega
Roteiro: Clyde Phillips (baseado em história de Clyde Phillips e Adam Rapp)
Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones, Johnny Sequoyah, Alano Miller, Jennifer Carpenter, Michael Cyril Creighton, Steve M. Robertson, Fredric Lehne
Duração: 57 min.

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