Home TVEpisódio Crítica | Dexter: New Blood – 1X09: The Family Business

Crítica | Dexter: New Blood – 1X09: The Family Business

A Dupla Dinâmica.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

The Family Business é o tipo de episódio que realmente justifica reviver uma série encerrada há anos para além da moda de se fazer isso em razão de nostalgia e o dinheiro que isso tem trazido. Apesar de eu pessoalmente não gostar muito do conceito de Harrison ser um Dexter 2.0 – e ele pode ainda não ser, vejam bem! -, em razão de essa escolha ser a mais “fácil”, o caminho que eu prefiro pouco importa já que a execução de tudo se dá quase que perfeitamente aqui, a começar pela cadência do episódio que não corre absolutamente com nada e, principalmente, não inventa de criar pulos temporais.

Afinal, meu maior receio era que a fatídica conversa entre pai e filho acontecesse ou muito rapidamente demais, esvaziando-a de importância ou, pior ainda, acontecesse off camera, com o começo do episódio já lidando com a reação de Harrison sobre a revelação. Muito ao contrário, o que o roteiro de Scott Reynolds faz é trabalhar a conexão entre Dexter e Harrison em uma narrativa costurada com a ação, primeiro com o serial killer que amamos aceitando o aconselhamento da fantasma de Debra na linha de suavizar a história e não contar tudo o que ele realmente faz com os criminosos que ficam impunes para apaziguar seu Passageiro Sombrio.

Para fazer isso, o texto inteligentemente nos leva ao passado, para um momento em que Dexter pré-lenhador investigou um assustador palhaço predador e assassino de crianças (a escolha do alvo para ilustrar não poderia ser melhor) e… o assustou tanto que ele nunca mais fez nenhuma maldade… Só que não, claro. Mas a lógica de trabalhar a confissão de maneira espaçada, deixando Harrison absorver as informações e ele mesmo deduzir que o pai, na verdade, matava suas vítimas, tudo na medida em que os dois passam a tentar obter provas inequívocas sobre os assassinatos cometidos por Kurt Caldwell, foi sem dúvida alguma a melhor saída para esse tão importante momento. No lugar de uma conversa interminável, tudo caminha de maneira mais natural, menos didática e sempre dentro da narrativa macro da minissérie (que, desconfio, será série com possível anúncio de uma 2ª temporada), levando inclusive ao assustador “museu de cera” de Kurt, sua captura e a famosa morte ritualística fornecida com prazer por Dexter.

A razão para eu dizer, logo no primeiro parágrafo, que é ainda possível que Harrison não trilhe o caminho do pai na forma de lidar com seus impulsos sinistros, repousa no excelente trabalho ambíguo de Jack Alcott ao longo do episódio. Ele recebe as informações incompletas do pai com entusiasmo, comparando-o com ninguém menos do que o Batman, mas sempre deixando entrever dúvidas genuínas sobre se o que ele está ouvido realmente faz pleno sentido. Quando ele arranca do pai a confissão completa, sua reação não é do tipo “então eu sou igual a você” ou coisa do gênero, mas sim uma realização um tanto hesitante de algo enorme, difícil de realmente compreender assim em um estalo. Visualmente, a direção de Marcos Siega faz de tudo para vagarosamente distanciar o filho do pai, algo que ganha mais destaque quando Harrison se coloca ao pé da maca em que Kurt está amarrado antes do pai esfaqueá-lo e, em seguida, saindo para tomar ar quando o sangue escorrendo começa a lembrá-lo da morte de sua mãe pelo Trinity Killer. Perceptivelmente, há um conflito no rapaz e isso pode ser um rico veio a ser explorado tanto no episódio final quanto futuramente por Clyde Phillips.

Falando em futuro, o de Dexter está bastante complicado. Apesar de ter achado Angela muito tranquila nas festividades natalinas ao lado do namorado – sim, ela se mostra desconfortável, mas não desconfortável o suficiente, se é que me entendem -, o presentinho que Kurt deixa para ela ao final fará o cerco a Dexter se fechar completamente. Se ela tinha alguma dúvida se Matt fora ou não morto por Dexter, ela tem a faca e o queijo na mão para resolver esse caso com rapidez agora, mesmo que ela não consiga fazer a ponte entre esse assassinato específico e o Bay Harbor Butcher. A diferença é que o esconderijo elaboradíssimo de Kurt – uma verdadeira batcaverna, já que a correlação com o Homem Morcego é bastante presente no episódio -, com os corpos de suas vítimas conservados em expositores de vidro como em um museu do macabro, é certamente algo muito maior do que o que ainda considero provas apenas circunstanciais sobre a culpabilidade de Dexter pela morte de Matt. Afinal, em quem é mais fácil a pecha de assassino se fixar: em alguém que tem uma cabana secreta com uma sala subterrânea de taxidermia e de exposição de troféus humanos ou em um pacato morador da cidade que trabalha há anos em uma loja de caça e pesca e, ainda por cima, namora a xerife?

Seja como for, o que realmente importa é como Harrison lidará com tudo depois que o calor e excitação do momento passarem. Na verdade, minto. O que realmente importa é que The Family Business veio para inequivocamente mostrar que o revival de Dexter valeu a pena. Se o finalzinho desapontar como o final da série original desapontou muita gente – não a mim, como disse logo em meus comentários sobre Cold Snap -, o que é possível, mas esperançosamente digo que é improvável, a jornada até lá é que terá sido importante e ela, mesmo com um começo que jogou seguro, sem inventar muito, tem sido suficientemente suave e interessante para fazer de New Blood algo mais do que apenas mais um desnecessário retorno caça-níquel.

Dexter: New Blood – 1X09: The Family Business (EUA, 02 de janeiro de 2022)
Desenvolvimento e showrunner: Clyde Phillips (baseado em obra de Jeff Lindsay)
Direção: Marcos Siega
Roteiro: Scott Reynolds
Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones, Johnny Sequoyah, Alano Miller, Jennifer Carpenter, Michael Cyril Creighton, Steve M. Robertson, Fredric Lehne, Clancy Brown, Jamie Chung
Duração: 56 min.

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