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Crítica | Dexter: New Blood – 1X10: Sins of the Father

O único fim possível.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Dexter Morgan simplesmente tinha que morrer. Não havia outra alternativa narrativamente aceitável. Apesar de eu ser a única pessoa no mundo que gosta do odiado “final Dexter lenhador” (do final, não da temporada, para ficar bem claro), o revival simplesmente precisava acabar com sua morte clara, indubitável e inafastável. Não sua prisão, não deixando dúvidas se ele morreu ou não. Morte mesmo. Eu apenas duvidava que Clyde Phillips e a produção, aqui representando aquela difusa, mas monetariamente astuta entidade chamada Hollywood, realmente dariam cabo de sua galinha de ovos de ouro, eliminando a possibilidade de uma segunda temporada.

Fico feliz ao constatar, portanto, que minhas dúvidas não tinham fundamento e Dexter realmente se foi em mais um episódio exemplar de New Blood. No lugar de amenizar o cerco ao protagonista, o roteiro do próprio showrunner tratou de levar a investigação de Angela até o fim, criando excelentes sequências de interrogatório que se mantiveram ambíguas por muito tempo, com Dexter usando seu conhecimento forense e sua experiência de décadas para construir, diante das câmeras, uma história sobre o assassinato de Matt Caldwell que é, se pensarmos bem, muito mais plausível do que as construções necessárias para se chegar até ele, especialmente levando em conta o bunker de Kurt e sua sala de troféus que, muito certamente, em circunstâncias normais, desviaram toda a possível atenção do serial killer “bonzinho”.

O grande problema é que esse Dexter de New Blood não é o mesmo Dexter de dez anos atrás. Ele é falho, comete muitos erros em razão da afobação, pressa e falta de treinamento, algo que já vinha sendo estabelecido na minissérie (agora eu posso chamar de minissérie, não é?) e ele não consegue manter-se frio o suficiente para deixar que as coisas sigam seu curso normal, especialmente depois que Angela revela tudo o que ela sabe e, mais ainda, que Angel Batista está chegando para fazer uma visitinha. Isso tudo, somado à sua necessidade – pois é necessidade mesmo, não amor – de ver em seu filho Harrison uma versão jovem dele mesmo, o leva a agir de maneira impensada e a fazer de tudo para sair da prisão, o que o leva a matar – inadvertidamente, mas não tanto assim – o policial Logan, cuja bondade e completa credulidade em Jim ao longo dos episódios o preparou para ser o proverbial carneiro sacrificial e a prova cabal de que o que Dexter faz não é para salvar vidas e sim exclusivamente para satisfazer seu Passageiro Sombrio, exatamente a conclusão a que Harrison chega logo em seguida.

A conversa final entre pai e filho é outra ousadia de Phillips, que nada contra tudo o que Hollywood faz. Seria natural, simples e perfeitamente “preferível” que Harrison realmente fosse levado a ser o Dexter 2.0. Não só seria interessante em algum nível, como tenho para mim que Jack Alcott tem capacidade dramática para desenvolver bem seu personagem. Mas, ainda bem, retornarmos à fase da terapia que a minissérie infelizmente abandonou cedo demais e vemos Harrison ter uma epifania depois que seu pai confessa ter matado Logan e concluir que ele (Harrison) não age como age por ter uma versão em formação do Passageiro Sombrio, mas sim por ser, “simplesmente”, um adolescente que sofre pelo abandono de seu pai, pelo assassinato da mãe e da tia e pela morte de Hannah. É contundente quando ele diz que cada dia de Dexter longe dele exigiu uma escolha consciente de Dexter de se manter distante. Pesado, direto, mas verdadeiro, independente das circunstâncias ao redor.

O que me impede de dar nota máxima ao episódio é como Harrison é levado a matar Dexter. Sim, aquele presente da Natal era a famosa Arma de Chekhov, pelo que ela precisava ser disparada para fins dramáticos (tiro ao alvo não conta), o que já telegrafava esse final, mas a lógica e a velocidade como tudo acontece não me desceu muito bem. Havia alternativas ali. Harrison, ao matar o pai, age de maneira contrária à sua conclusão de que ele não é como o pai. E essa situação rouba o episódio de um outro final que poderia até mesmo ser Harrison matando Dexter de outra maneira, por engano ou no calor de alguma briga, mas que seria melhor se fosse Angela ou, talvez ainda, o próprio Angel. O pulo lógico entre “vamos fugir” e “te matar é a única saída” só tem um gatilho, a morte de Logan, mas esse é um gatilho que, ao meu ver, naquela situação em que Harrison não mata, mas sim executa o pai a sangue frio, não é potente o suficiente para isso. No entanto, é inegável que essa era uma situação já plantada na minissérie e ela encerra um ciclo por completo, inclusive, em minha visão, impedindo que Harrison se torne um novo Dexter, sepultando de vez as chances de algo como Harrison: Newer Blood.

Uma minissérie galgada em nostalgia – como tantas outras por aí – que foi feita para redimir as temporadas finais da série original realmente cumprir seu objetivo é algo raro. E fazer isso enterrando por completo alguma chance de continuidade é realmente de se tirar o chapéu. Mesmo com um começo claudicante, na linha do mais do mesmo, e jogando seguro por tempo demais, o que acabou acelerando algumas situações mais para a frente, New Blood realmente mostrou o porquê de existir e deu ao sofrido e problemático Dexter Morgan o fim que ele merecia.

P.s.: Sei que fui categórico sobre a série não poder continuar de alguma forma, mas eu também sei muito bem que Hollywood é cheia de ases na manga. Ases podres, sem dúvida, mas ases mesmo assim. Portanto, não duvidaria que houvesse uma continuação que poderia partir do absurdo que seria “Dexter não morreu de verdade” ou “foi tudo um sonho”, até Harrison tornar-se um serial killer de bandidos (o que seria estúpido e contrário a tudo o que aconteceu em Sins of the Father) ou, claro, um prelúdio do Jovem Dexter que, aí sim, poderia fazer bom uso de Alcott reescalado, ainda que eu pessoalmente prefira que este aqui seja o fim verdadeiro e completo de tudo que for relacionado a Dexter. Bem, veremos o acontecerá nessa seara, pelo que não adianta sair especulando…

Dexter: New Blood – 1X10: Sins of the Father (EUA, 09 de janeiro de 2022)
Desenvolvimento e showrunner: Clyde Phillips (baseado em obra de Jeff Lindsay)
Direção: Marcos Siega
Roteiro: Clyde Phillips (baseado em história de Clyde Phillips, Alexandra Franklin e Marc Muszynski)
Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones, Johnny Sequoyah, Alano Miller, Jennifer Carpenter, Michael Cyril Creighton, Steve M. Robertson, Fredric Lehne, Clancy Brown, Jamie Chung, David Zayas
Duração: 56 min.

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