- Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas do universo Dexter.
Depois de um particularmente longo e lento episódio feito para apresentar o elenco vilanesco da série composto por estrelas variadas da TV que termina com a eliminação a jato de um deles e a revelação para Harrison de que Dexter está vivo, Tesão pra Matar faz como Copiloto Palpiteiro e acerta novamente o ritmo e o foco narrativo, sem se valer de bizarrices como o jantar de serial killers e os novos personagens feitos para o espectador apontar para a tela e dizer o nome do ator e o que ele fez de mais relevante para contar uma história de qualidade. E o melhor é que o episódio que marca a metade da temporada faz uso inteligente das linhas narrativas paralelas, levando-as, finalmente, ao devido entrelaçamento.
Apesar de ter ilustrado a presente crítica com uma imagem de Dexter ao lado de Mia LaPierre, claramente uma fraqueza minha em relação à Krysten Ritter, o ponto focal do capítulo foram as conversas entre pai e filho e não exatamente pela reconciliação, algo mais do que esperado, mas sim pelos ótimos momentos que Michael C. Hall e Jack Alcott tiveram juntos. Enquanto o roteiro de Katrina Mathewson e Tanner Bean afastou qualquer possibilidade de Harrisson ser como o pai, o que era essencial para a série não ficar ridícula, a direção de Marcos Siega abre espaço para as atuações e Alcott constrói um jovem atormentado e traumatizado, mas que, como o fantasma de Harry vinha dizendo, precisava mesmo de uma ajuda na forma de um ombro paterno. Vê-lo dizer com todas as letras que o que ele fez em um momento de fraqueza foi um erro e que o mudou foi um ás dramatúrgico na manga de Alcott que fica ainda melhor quando a reação de Hall é um complexo misto de decepção e orgulho, como se suas duas personalidades entrassem em conflito, deixando-o atônito, mas sem que ele demonstrasse isso demais, já que Dexter é Dexter.
Mais do que isso, o roteiro tece uma cadeia lógica de acontecimentos que leva um pai com um psicológico difícil ultrapassar a barreira da insensibilidade que sempre o marcou, mas que vem ruindo vagarosamente desde a série original, para ajudar o filho custe o que custar, algo que o providencial relógio do finado estuprador instrumentaliza em uma daquelas conveniências marotas, mas ao mesmo tempo inteligentes de roteiro que faz de Mia a “vítima” ideal das maquinações de Dexter. Afinal, não só a personagem de Ritter revela-se (ainda bem!) como uma serial killer de verdade e não uma versão feminina de Dexter, como ela passa a ter sede de matar (ok, tesão…) justamente quando Dexter precisa, com direito até mesmo a uma proposta encantadora de ménage à trois assassino e boas estocadas na visão masculina padrão sobre o papel das mulheres na sociedade, mesmo as que têm tendência ao homicídio precedido de tortura.
Claro que a combinação da esperteza da detetive Claudette Wallace com a chama vingativa de Ángel Batista muito provavelmente será capaz de perceber que há algo de muito errado nessa tramoia de Dexter para livrar o filho, mas, pelo menos por enquanto, Harrisson está livre, leve e solto e Nova York tem menos uma assassina para se preocupar, ainda que eu deseje fortemente que Ritter não fique muito tempo atrás das grades e una-se à ainda muito subaproveitada personagem de Uma Thurman para caçar Dexter (hummm, ser caçado por essas duas não é nada mal, hein?) ao longo da segunda metade da temporada. Sei que estou me adiantando no que pode ou não acontecer na série, mas Tesão pra Matar fez tão bem o encaixe de peças e brindou o espectador com alguns minutos memoráveis de atuações, que acabei me empolgando (e não, o vestido vermelho de Jessica Jones não teve absolutamente nada com isso…).
Dexter: Ressurreição pode não ser ainda, para mim, o suprassumo de série que os fãs de Dexter teimam em dizer que é, mas entre o retorno gelado do personagem ou o prelúdio-cópia, admito que a nova série tem bem mais a oferecer, mesmo que, para isso, tenha que envolver o protagonista em um exclusivo clube de serial killers presidido por um Tyrion Lannister muito perturbado da cabeça que tem ninguém menos do que a própria Noiva como guarda-costas, enquanto ele foge com seu filho assassino – mas não serial – de uma detetive sherlockiana ajudada por um cubano vingativo. Uma combinação inusitada mesmo para Dexter, mas que está dando certo!
Dexter: Ressurreição – 1X05: Tesão pra Matar (Dexter: Resurrection – 1X05: Murder Horny – EUA, 1º de agosto de 2025)
Desenvolvimento: Clyde Phillips (baseado na série desenvolvida por James Manos Jr. e na obra de Jeff Lindsay)
Direção: Marcos Siega
Roteiro: Katrina Mathewson, Tanner Bean
Elenco: Michael C. Hall, Uma Thurman, Jack Alcott, David Zayas, Ntare Guma Mbaho Mwine, Kadia Saraf, Dominic Fumusa, Emilia Suárez, James Remar, Peter Dinklage, Krysten Ritter
Duração: 49 min.