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Crítica | Diana

por Ritter Fan
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estrelas 3

Diana é um filme apaixonado pela princesa do título. Dirigido por Oliver Hirschbiegel, que é muito melhor cinebiógrafo do que diretor de filmes de ficção (foi ele que nos trouxe o ótimo A Queda! As Últimas Horas de Hitler), ele entrega uma obra sobre a mulher mais famosa do mundo que faz de tudo para torná-la ainda mais apaixonante, mas sem focar na chamada “fábula” que foi a percepção do começo de sua vida perante a família real britânica.

E esse enfoque é uma benção, ainda que Hirschbiegel acabe errando a mão no terço final, ao mudar o ângulo para o culto da celebridade algo que, ainda que permeie todo o filme, é intensificado nos 20 ou 30 minutos finais, reduzindo um pouco do efeito pretendido.

Começando exatamente na fatídica noite que ceifou a vida da princesa, com seus últimos segundos antes de entrar no carro que seria perseguido pelos paparazzi, a fita imediatamente pula para apenas dois anos antes, quando Diana (Naomi Watts) já estava separada de fato do Príncipe Charles há três anos. O roteiro foge do óbvio ao nunca mostrar a família real (com exceção de relances dos filhos de Diana). Ao contrário, o que vemos são os assistentes de Diana, seu relações públicas, sua acupunturista, seu círculo mais íntimo.

As circunstâncias, então, a levam a conhecer o cirurgião cardíaco Hasnat Khan (Naveen Andrews, o Sayid de Lost) e a narrativa, baseada em biografia escrita por Kate Snell, passa, então a focar no romance entre eles. Diana é uma mulher profundamente entristecida pessoalmente, ainda que verdadeiramente boa de coração, que genuinamente quer ajudar quem precisa. Ela não tem amor que não seja de estranhos e encontra em Hasnat seu porto seguro, sua verdadeira paixão.

Vemos detalhes das vidas dos dois que tornaram o trabalho de Snell tão conhecido. Mas são detalhes demais. Aprendemos sobre cada uma das idas e vindas do relacionamento, com Hasnat relutante em mergulhar de cabeça, pois ele sabe que isso significaria abrir mão de sua vida reclusa e dedicada à concentração que seu trabalho exige.

Hirschbiegel dirige de forma competente, mas burocrática. Ao usar a câmera para seguir a princesa na sequência inicial, toda sem cortes, e, com isso, criar uma aura de mistério, ele promete mais do que acaba cumprindo e, em muitos momentos, a fita soa mais como um documentário ou uma ode à princesa do que um filme baseado em um aspecto de sua vida.

Os detalhes da intimidade da princesa que vemos no filme é justamente o tipo de coisa que ela própria gostaria de evitar. Sua fama a despe de qualquer privacidade. Atormenta seu amor e a separa de seus filhos. Seu ativismo em causas nobres a afasta ainda mais da família real e a joga debaixo de holofotes para o mundo todo ver. O pouco de intimidade que ela ainda tinha depois de morta é escancarada para o mundo todo ver em Diana, incluindo a alegada manobra que ela faz com um repórter para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate.

Mas, se conseguirmos nos desvencilhar desse problema, o filme funciona como uma análise de lupa da luta de uma mulher para ser amada de verdade, por seus próprios méritos e não por ser uma princesa, por ser bonita, por ser alvo da ira da rainha, por ter alma caridosa ou por ter feito parte da versão da vida real da fábula da “princesa e o plebeu”. Ao nos mostrar o íntimo de Diana, Hirschbiegel parece querer dizer que o amor pode curar tudo, uma mensagem bonita e pela qual vale fazer filmes e escrever livros.

Naomi Watts, diferente de outras atrizes que vivem celebridades no cinema ou na televisão, não se funde completamente a quem ela retrata. Isso não é demérito. Ao contrário, até. A atriz não se esconde por detrás de artifícios para parecer quem não é. Nós acreditamos que ela é quem precisa ser muito mais por suas ações e sua dedicação ao roteiro do que por acharmos que ela é parecida com a princesa. Não que ela esteja completamente diferente, pois o trabalho de cabeleireiro é muito eficiente em transpor a aura de Lady Di para Watts. Naveen Andrews também está muito bem como o homem que ama a princesa, mas que tem que fazer uma terrível escolha que todos nós sabemos qual é. A tortura está em seus olhos e o mais interessante é ver isso a todo o momento, não só nos mais difíceis para o casal. Isso torna muito boa a química entre os dois atores.

A grande questão do filme, porém, é mesmo a perda de foco ao seu final. Sai a vida de Lady Di, entra a questão da celebridade com o trágico resultado que conhecemos. Com isso, o diretor não consegue nem resolver a trama pessoal que conta nem explorar suficientemente  a questão do desejo das pessoas em viver uma vida através de seus ídolos e o papel dos jornais escandalosos nisso tudo. Tudo fica em um meio termo que poderia ter sido evitado se Hirschbiegel tivesse escolhido um rumo apenas logo no início.

Do jeito que ficou, Diana é quase uma história híbrida, sem fim (sim, claro, ela morre, mas não é desse fim que falo, não é mesmo?), um tanto quanto sem objetivo. Funciona para solidificar o mito da princesa para todos os seus admiradores, mas Lady Di, ela própria diz, queria mais do que isso.

Diana (Idem, Reino Unido/França/Bélgica/Suécia – 2013)
Direção: Oliver Hirschbiegel
Roteiro: Stephen Jeffreys, Kate Snell (livro)
Elenco: Naomi Watts, Naveen Andrews, Douglas Hodge, Geraldine James, Charles Edwards, Daniel Pirrie, Cas Anvar, Juliet Stevenson, Jonathan Kerrigan
Duração: 113 min.

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