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Crítica | Din e o Dragão Genial

por Kevin Rick
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Um garoto simples que ganha três desejos mágicos de um ser fantástico, após descobrir a criatura milenar aprisionada em um pequeno objeto, decide utilizar sua sorte fantasiosa para impressionar uma moça de uma família muito mais rica. Huuum, soa familiar, não? Brincadeiras à parte, é praticamente impossível assistir Din e o Dragão Genial sem fazer comparações com AladdinContudo, barrando a premissa e algumas similaridades narrativas, o longa animado da Netflix em parceria com a Sony tenta fazer algo próprio dentro da proposta derivativa, especialmente em relação a ser um filme mais sobre mensagem moral, e não necessariamente sobre mudança, como acontece no clássico da Disney.

Notem como o protagonista, Din (Jimmy Wong), é um idealista e otimista. Ele tem algumas inseguranças em relação a sua posição de classe, mas o personagem recebe bem pouco conflito durante a obra por ser um personagem caracteristicamente esperançoso, sorridente e afável. O protagonista ter essa natureza não é exatamente o problema do seu arco, mas o fato da obra continuamente retirar obstáculos de Din tornam a jornada corriqueira e acanhada. Vejam como ele ganha poderes de kung-fu de Long (John Cho, inspiradíssimo no papel) e passa o restante da narrativa sem qualquer tipo de antagonismo corporal, ou então como ele rapidamente confessa sua mentira para Li Na (Natasha Liu Bordizzo), e até seu clímax, o provável momento de virada para Din, é resolvido com facilidade. Apesar da constante costura de pobreza que o roteiro cria, o protagonista não erra, raramente é confrontado internamente, e não ganha qualquer tipo de desenvolvimento conflituoso para além do superficialismo moral e monetário do filme.

Essa pegada de conflito superficial acaba sendo o elemento principal da obra, desde os vilões, levianamente inseridos para completar a cota de lutas e perseguições, como também o inicialmente interessante relacionamento de amizade entre Din e Li Na – o início infantil deles é de amaciar qualquer coração – que vai se perdendo na tão reverberada mensagem/comentário social sem trazer à tona o gostoso aspecto intimista do começo da animação. O único personagem que realmente recebe um tratamento cuidadoso em conjunto com a temática de desigualdade da obra, é o dragão Long, em interessantes blocos que contemplam o personagem descobrindo a mensagem que o filme quer passar através de Din, além é claro do ótimo trabalho cômico de John Cho.

Certamente tem alguém reclamando do texto até aqui e dizendo que estou cobrando complexidade de um filme “para crianças”, mas, veja bem, o diretor/roteirista Chris Appelhans quer realismo. Não me importo com os elementos batidos ou a narrativa simplória, mas a partir do momento que o mote da obra é diferença de classes e desigualdade social – a palavra “realista” é continuamente trazida em diálogos com uma conotação negativa -, é necessário que haja um desenvolvimento dos personagens em torno disso, o que não acontece. Visualmente, o cineasta busca bastante este contraste, como no bairro pobre todo colorido, alegre e pitoresco, enquanto a Shanghai moderna é tonalmente azul e friamente tecnológica.

Além do aspecto econômico, Din e o Dragão Genial procura a fofura a todo instante. O dragão rosa, os sorrisos exagerados dos personagens, as piadas em torno de comidas e engarrafamento de trânsito, além da dinâmica de superioridade-ingenuidade entre Din e Long, entre outros elementos pueris, conseguem trazer com êxito a embalagem adoravelmente tenra e macia do conto de fadas bonitinho. Infelizmente, quando o filme tenta alcançar um discurso social, e ele busca isso a todo instante também, a experiência se mostra uma mensagem moral vazia pela falta de aprofundamento pessoal e relacional dos personagens.

Diferentemente do recente A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, para trazer um exemplo do mesmo estúdio, que faz muito bem essa ponte infante aventureira com um discurso criativo e referencial, Din e o Dragão Genial traz uma proposta derivativa e batida, com uma interessante ambientação fofa, mas não oferece muita substância para além do superficial, seja na falta de criatividade em blocos de aventura, a inexistência de confronto narrativo, a supérflua crítica social ou então o cansativamente previsível encadeamento dramático, a obra de Chris Appelhans se mostra um divertimento regular e passageiro. Não chega a ser ruim, mas não tem nada de especial.

Din e o Dragão Genial (Wish Dragon) | China, EUA – 11 de junho de 2021
Direção: Chris Appelhans
Roteiro: Xiaocao Liu, Chris Appelhans
Elenco: John Cho, Jimmy Wong, Natasha Liu Bordizzo, Constance Wu, Will Yun Lee, Bobby Lee, Jimmy O. Yang, Ian Chen, Alyssa Abiera, Max Charles, Alexandre Chen, Gabriel Lee
Duração: 93 minutos

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