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Crítica | “Dire Straits” – Dire Straits

Um passeio pelas planícies.

por Kevin Rick
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You get a shiver in the dark
It’s a raining in the park but meantime-
South of the river you stop and you hold everything
A band is blowing Dixie, double four time
You feel alright when you hear the music ring

É tão estranho escutar o primeiro álbum do Dire Straits sabendo que eles são uma banda britânica. Existem elementos de rock progressivo tingidos em uma ou outra canção, e o estilo fingerstyle do guitarrista/vocalista Mark Knopfler é tirado do blues e com clara inspiração em Eric Clapton, mas o disco é totalmente voltado para arranjos e melodias country, folk e southern rock que é difícil não imaginar essa banda tendo saído direto das raízes sulistas dos EUA. É um som que me lembra um pouco Fletwood Mac, mas sem o pop, se encaminhando realmente para algo mais Bob Dylan e até um pouquinho de honky tonk.

Down to the Waterline abre o álbum com uma aura fantasmagórica nas linhas de guitarra de Knopfler antes de ficar super animada. Parece a entrada de um western, com o restante da faixa criando todo um imaginário do meio-oeste na parte lírica e com a voz rouca de Knopfler. O controle do líder da banda com a guitarra é o que mais salta aos ouvidos, dedilhando guitar licks como se estivesse tocando um banjo, com velocidade, controle e uma linha melódica que conduz a letra tipicamente country: a de contar uma história entre metáforas com nenhum refrão.

O que eu mais aprecio na faixa (e na produção como um todo) é a atmosfera de pacatez e serenidade que a banda consegue transpassar. Seja pela pegada acústica, seja pela certa simplicidade dos arranjos, é tão fácil escutar o disco em sua sonoridade pacífica e vocal manso. A segunda faixa da obra, Water of Love, encapsula muito bem essas sensações, com uma melodia ditada pela percussão, ecos das cordas de aço e uma letra cheia de pausas. A canção passa pelo ouvinte com uma certa despreocupação, uma comodidade mesmo, que, pelo menos comigo, sempre parecia me levar para as Grandes Planícies e o meio-oeste – mas sem os duelos e os perigos, só o sossego e a melancolia da vastidão e do curso da vida.

Setting Me Up tem um ritmo mais veloz que a faixa anterior, dispondo de um groove bem voltado para o blues rock e a guitarra elétrica dominando a melodia. Não gosto muito da letra bem clichê e típica de bar em suas reclamações românticas, mas é um dos arranjos mais divertidos do álbum, especialmente os solos de guitarra e a maneira como a bateria rítmica dá base para a produção – notem como o baterista foca nos pratos quase o tempo todo; isso é mais difícil do que parece e oferece suporte harmônico para os dedos de Knopfler brilharem.

A partir de Six Blade Knife, porém, o álbum começa a apresentar minha única grande crítica à obra: falta de variações. Além da canção citada, Wild West EndSouthbound Again, In the Gallery e Lions têm muitas similaridades entre si e com as primeiras faixas. Basicamente tudo que elogiei anteriormente vale para essas faixas, faltando um pouco de diversidade em texturas, arranjos e até mesmo na parte lírica para distinguir as músicas. Eu entendo que existe uma identidade da banda, e todas as músicas ainda são muito agradáveis de ouvir, especialmente a country Wild West End, mas Dire Straits acaba caindo numa impressão geral de repetitividade.

Mas, claro, o grande destaque da obra é a famosa Sultans of Swing. É minha faixa favorita do álbum, pois todas as qualidades da banda que citei alcançam seu ápice nessa canção, começando pela parte lírica. Temos a letra mais criativa de Knopfler, inspirada em um evento que testemunhou uma banda de jazz tocando na esquina de um pub deserto no sul de Londres. Existe ironia e existe amor pela música aqui, com os melhores ganchos de guitarra e as melhores inserções do fingerstyle do vocalista/guitarrista. O single icônico e clássico demonstra a essência do Dire Straits: tranquila, contadora de histórias e natureza country/blues da melhor qualidade.

Aumenta!: Down to the Waterline
Diminui!:
Minha canção favorita do álbum: Sultans of Swing

Dire Straits
Artista: Dire Straits
País: Reino Unido
Lançamento: 09 de junho de 1978
Gravadora: Vertigo, Warner Bros., Mercury
Estilo: Blues rock

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