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Crítica | Distorção

por Ritter Fan
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Michael Ironside

Filme

Se por um lado qualquer desculpa vale para ver Michael Ironside nas telonas, um filme de zero baixo orçamento não é salvo-conduto para se fazer qualquer coisa. E Serge Levin, ator que resolveu sentar também nas cadeiras de roteirista e diretor em Distorção, ganha pontos por trazer o protagonista do clássico Scanners de volta, mas os perde quase que completamente por colocar na tela uma história mal-ajambrada que não consegue nem mesmo entrar na almejada categoria “é tão ruim que é bom”.

Aliás, a menção a Scanners e a presença de Ironside no elenco (uma ponta glorificada, convenhamos) não são aleatórios, pois Levin, com certeza, tentou incorporar os elementos clássicos do David Cronenberg “das antigas” aqui, pegando emprestado a atmosfera lisérgica com arroubos de violência do mestre, mas entregando algo completamente desprovido de qualquer traço de relevância, finesse ou qualidade artística. Até mesmo em sua tentativa de trazer algum tipo de crítica a políticas governamentais – notadamente às operações de guerra dos EUA nos mais diversos países e à situação dos soldados e veteranos – ele falha, já que o roteiro parece mais preocupado em…. bem… não sei exatamente com o que o roteiro se preocupa, na verdade…

O fiapo de história deste sci-fi nos faz acompanhar Sam Miller (Charles Baker), um homem que perdera seu irmão na guerra e que tenta se suicidar. Depois que ele se recupera fisicamente, seu psiquiatra o coloca como cobaia de uma série de experiências que lidam com as emoções humanas, alterando sua personalidade e dando-lhe habilidades especiais como efeitos colaterais do processo. É uma premissa que deixa entrever, com boa vontade, potencial para ser desenvolvida adequadamente, mas que Levin é inábil demais para conduzi-la para além do óbvio ululante repetido ad nauseam, com direito a toda sorte de CGI especialmente preparados pelo poder de processamento de um TK-85 último tipo e cenários montados a partir de uma visita à loja de ferragens mais próxima da produtora, em uma tentativa de se emular os belos tumultos cênicos de Terry Gilliam, mas, novamente, falhando miseravelmente.

Se existe um aspecto positivo no design de produção de Distorção é a maquiagem aplicada em Baker, para ajudá-lo a compor um personagem acabado, completamente entregue à depressão. Nesse ponto, o trabalho é discreto, mas muito eficiente em transformar seu rosto em uma máscara de desespero, algo que o ator até aproveita dentro do possível, considerando o roteiro que lhe é entregue. Claro que, ao contracenar com Ironside, Baker desaparece completamente diante da deliciosa canastrice maquiavélica do ator veterano que toma conta completamente das infelizmente poucas sequências em que aparece.

Mas a questão principal, que funciona como pesadas correntes que o filme precisa arrastar, é que o roteiro é um grande vazio recheado de clichês mal-aproveitados do gênero (sim, tem até explosão de cabeça ) que tem a pretensão de parecer mais do que é ao passar uma leve camada de verniz filosófico-transcendental. E isso mantendo o tom sério e sombrio, o que somente contribui para aqueles momentos de vergonha alheia que trazem risadas nervosas nos espectadores que conseguirem sobreviver ao suplício de 90 minutos que mais parecem 900.

Distorção é, sem papas na língua, um trash ruim, um filme que, ao se levar a sério demais, ao tentar filosofar, acaba apagando seu potencial de divertimento. O que fica mesmo é a presença sempre marcante de Ironside e, muito de longe, a sensação de que, talvez, bem ali no fundo, houvesse uma história que valesse a pena ser contada.

Distorção (Alterscape, EUA – 2018)
Direção: Serge Levin
Roteiro: Serge Levin
Elenco: Charles Baker, Michael Ironside, Debbie Rochon, Ryan Buggle, Alex Veadov, Serge Levin, Sera-Lys McArthur, Antonio D. Charity, Phil Cappadora, James Zeiss, Alex Lane
Duração: 90 min.

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