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Crítica | Divã a 2

por Gisele Santos
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Modéstia à parte sempre tento tirar o melhor de um filme. Quando me proponho a ir ao cinema faço o melhor que posso para curtir a experiência e absorver alguma coisa positiva daquilo que me dispus a assistir. Mesmo nos piores títulos tento pensar positivo. Mas, amigos cinéfilos, foi difícil tirar algo que prestasse de Divã a 2, nova comédia romântica nacional. Difícil é pouco, foi mesmo impossível!

Divã a 2 é uma espécie de continuação de um filme estrelado por Lilia Cabral de 2009 que usava os textos da escritora gaúcha Martha Medeiros (que eu acho super, hiper, mega estimada, por sinal) como base de seu roteiro. Não assisti ao filme, mas a própria atriz disse que Divã a 2 nada tinha de continuação do original, que por sinal foi sucesso de bilheteria e levou mais de 1,8 milhão de espectadores aos cinemas. O sucesso foi tanto, que a Globo acabou migrando a trama para a TV em uma série. Acontece que a Total Entertainment, que detêm o poder da marca, é a mesma que produz esse lançamento, por isso a mesma cara gráfica e o título que remete ao filme de 2009.

Mas vamos ao que interessa: a trama. Bem, Divã a 2 já começa com problemas de roteiro. Você não sabe ao certo o que está acontecendo. Sabemos que existe um casal, Eduarda (Vanessa Giácomo, a eterna Cabloca) e Marcos (Rafael Infante, do Porta dos Fundos), que está passando por dificuldades após 10 anos juntos. A saída para superar a crise foi procurar uma terapia. Assim, a história começa a ser contada do ponto de vista de cada um durante a sessão, literalmente no divã. Essa saída funciona bem nos primeiros minutos, mas depois se mostra batida e pouco criativa quando a trama segue para o segundo ato: a separação.

Eduarda e Marcos não tem absolutamente nada a ver um com o outro. E isso fica ainda mais claro nas interpretações de Vanessa e Rafael. O casal não tem nenhuma química em cena, chega a ser constrangedor ver os dois trocando carícias e tentando mostrar que são felizes. Se os protagonistas deixam a desejar, imaginem então o elenco de apoio que conta com nomes do naipe de Totia Mereiles (nem sabia que ela fazia alguma coisa fora as novelas temáticas da Glória Perez), Fernanda Paes Leme (até hoje não sei o que essa menina faz da vida: apresentadora, atriz, amiga da galera da Globo?), Fiuk (sim, ele mesmo), Marcelo Serrado (o único que se salva dessa lama toda) e a cereja do bolo: Maurício Mattar. Não, você não leu errado! Maurício Mattar, que eu achava que estava morto, mas estava apenas na Record, faz uma ponta no filme e nos deixa cheios de vergonha alheia (sempre que o vejo, penso que a Angélica deve morrer de vergonha do seu passado). Claro que quando ele apareceu em cena eu comecei a rir, pois sempre que penso nele lembro desse vídeo espetacular. Afinal, quem não assiste a novela Dona Xepa?

Mas vamos voltar ao que interessa: Divã a 2. Enfim, a terapia não deu muito certo para o casal sem química nenhuma e eles decidiram se separar. Até aí tudo bem, se não fosse os clichês grotescos que mais me lembram minha época de adolescente (frases do tipo: Cala a boca! E o outro responde: Vem calar então! e a cena termina com um beijo! Sério, gente????!!!!!). Eduarda mais parece uma adolescente virgem que acabou de sair do internato e precisa desesperadamente tirar o atraso de sua antiga vida monótona. Na companhia de Fernanda Paes Leme, sua melhor amiga, elas protagonizam cenas lamentáveis e totalmente sem sentido para o roteiro do longa.

Resumindo o papo: Eduarda, que é uma médica bem sucedida mas não consegue ficar sozinha busca desesperadamente um novo pretendente (Marcelo Serrado) que é um clichê ambulante: boa pinta e viúvo. A coisa acaba em uma cena digna de pena e o final mais óbvio e ridículo encerra os 90 minutos mais perdidos da minha vida dentro de uma sala de cinema.

O diretor Paulo Fontenelle não mostra nada de novo em seu trabalho e nos entrega um longa com cara de série de TV (e não daquelas legais como as de Luiz Fernando Carvalho, sabe?). O roteiro, escrito por dois homens, Leandro Matos e Saulo Aride, é machista e trata a personagem principal como uma pessoa desesperada por um bom partido. Sei que muita gente vai dizer que esse é um discurso feminista e tal, mas estamos em 2015 e se o cinema não consegue nos entregar uma personagem bem definida com a sua vida e sua carreira, por favor, estamos perdidos!

Ao final de toda essa tragédia em forma de comédia/drama fica a sensação de que, por mais que nos últimos anos o cinema nacional tenha acertado em tanta coisa (O Som ao Redor, O  Lobo Atrás da Porta, Casa Grande, só para citar alguns) ainda precisa se reinventar quando o assunto são filmes mais leves e para o grande público. Pois, o espectador quer mais, ele precisa de mais. A pessoa que vai ao cinema no domingo à tarde, mesmo que para se distrair, precisa sair da sala de cinema pelo menos com um sorriso no rosto. De Divã a 2 a única coisa que consegui fazer ao sair do cinema foi querer me esconder e esquecer da minha mente os últimos 90 minutos.

Divã a 2 – Idem, Brasil – 2015
Direção: Paulo Fontenelle
Roteiro:  Leandro Matos e Saulo Aride
Duração: 90 minutos
Elenco: Vanessa Giácomo, Rafael Infante, Fernanda Paes Leme, Marcelo Serrado, Totia Meireles, Maurício Mattar, Fiuk

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