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Crítica | Do Mundo Nada se Leva

por Julhia Quadros
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Desde a antiguidade clássica, com a maior exploração das tragédias na dramaturgia, um assunto muito recorrente é o amor, que surge, mesmo em situações adversas, persiste e faz com que a maior luta da narrativa sejam as agonias dos enamorados. Certamente, as impossibilidades amorosas, seja pela falta de correspondência ou por desencontros são um dos assuntos mais explorado nas mimesis artísticas, o que mesmo se adequando aos diferentes gostos e estéticas ao longo dos séculos, se manteve praticamente o mesmo em relação ao efeito provocado e a relação com a natureza humana. É esta a construção principal da obra de Frank Capra Do Mundo Nada Se Leva, de 1938, que retrata a história de Alice Sycamore (Jean Arthur) e Tony Kirby (James Stewart), que separados pelas diferentes realidades sociais, lutam contra a incompatibilidade das famílias.

A de Tony, conservadora e abastada se põe desde o início do filme contra o casamento dele com Alice, sua secretária, por quem se apaixona, cuja família é mais simples e excêntrica, dona de um lar onde sempre se encontram os fogos  de artifício, música, dança e diversas invenções. Todo o ambiente é composto por sons, movimentos e ideias constantes, que faz com que os moradores e os visitantes se sintam bem. Já Tony, vice-presidente do banco do pai, sente-se distante de sua família e é oprimido por sua realidade e o que esperam dele, encanta-se com aquela comunidade em que todos fazem o que querem e não dão importância aos negócios, em um momento em que o mundo se via às portas de mais uma guerra. Ao longo da trama, o avô de Alice, Vanderhof (Lionel Barrymore), o dono do terreno da comunidade se recusa a vendê-lo para o pai de Tony, Anthony Kirby (Edward Arnold), indo contra os planos do banqueiro e gerando conflitos entre as famílias.

Com o roteiro adaptado por Robert Riskin da peça de George S. Kaufman e Moss Hart, Frank Capra, como em muitos de seus filmes, transmite uma mensagem moral ao fazer com que no desfecho, as famílias terminem amigas, o banqueiro perceba que há coisas mais valiosas que o dinheiro e o casal permaneça unido. A última sequência retrata a paz entre os antigos inimigos, que  tocam gaita juntos na comunidade, com Tony e Alice felizes pelo consentimento das famílias e os tour piquets de Essie (Ann Miller), que dança ao longo do cômodo. Assim, ambas as realidades terminam reunidas pela alegria da consciência de um ensinamento que assimilaram depois de todas as dificuldades.

Em questões técnicas, o filme apresenta todas as características de um clássico narrativo, através da decupagem, que se evidencia na passagem entre os planos, acompanhando o ritmo da estória e da mise-en-scène. Isto foi incrivelmente utilizado nestas sequências da casa de Vanderhof, em que o filme se organiza de uma forma que parece vibrar com os moradores. Com curtos planos fechados e abertos, que se interligam, de forma a passar uma ação completa.

O contraste entre a realidade do momento e a necessidade de conquistar o sucesso através dos negócios e o mundo dos sonhos, dos desejos, que dispensa os valores essenciais tão importantes para a primeira situação se evidencia nas personalidades do banqueiro e do dono da comunidade e a união das situações, resultado do choque entre os valores antagônicos, no romance de Tony e Alice. Como as adversidades do amor são, muitas vezes, a raiz das tramas de diversas narrativas, junto com elas, surge a dialética de situações, que se evidencia no que separa os mundo opostos e Capra, ao dirigir Do Mundo Nada Se Leva, trouxe seu acréscimo moral ao unir os mundos opostos de Tony e Alice.

Do Mundo Nada se Leva (You Can’t Take It With You – EUA, 1938)
Direção:
 Frank Capra
Roteiro: Robert Riskin
Elenco: Jean Arthur, Lionel Barrymore, James Stewart, Edward Arnold, Mischa Auer, Ann Miller, Spring Byington
Duração: 126 min.

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