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Crítica | Doctor Who – 2X05: A História e o Motor (The Story and the Engine)

Vamos cortar o cabelo?

por Luiz Santiago
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Numa esquina da movimentada cidade de Lagos, Nigéria, uma barbearia está viajando no tempo, em duas dimensões. Na dimensão da Terra, a mais importante para este capítulo de Doctor Who, ela recebe alguns clientes que, uma vez presos ali, precisam contar histórias para fazer o motor da nave movimentar-se pela teia divina das narrativas ficcionais, levando os tripulantes até um tipo de Olimpo onde um certo contador e divulgador dos feitos dos deuses espera executar sua vingança. Devorando e transformando memórias em combustível, a barbearia é o canal pelo qual o roteiro de A História e o Motor, dirigido por Makalla McPherson, utiliza para explorar e celebrar a tradição oral africana, entrelaçando ficção científica com a cadência de um griô que narra o infinito. Gosto muitíssimo mais da maneira como o episódio termina do que da forma como ele é finalizado, mas é impossível negar a energia contagiante que o texto de Inua Ellams nos traz, além do interessante mergulho em mais uma cultura visitada pelo Doutor.

O cenário da barbearia de Omo (Sule Rimi) é uma caixinha de surpresas. A conexão com a TARDIS (por interferências narrativas, será?) e as possibilidades diversas que apresenta antes da revelação, me deixaram ansioso, ainda mais quando apareceu a Doutora Fugitiva (Jo Martin), que infelizmente faz apenas um cameo. Mas o que isso significa? Uma aparição isolada ou a indicação de que teremos mais da Fugitiva nesta temporada? Por mim… se ela aparecesse todos os episódios, eu não acharia ruim. Os detalhes da direção de arte do local onde o Barbeiro místico trabalha é muito funcional e a direção sabe trabalhar estrategicamente com o “quadro dentro do quadro”, destacando a janela e as portas em ângulos precisos dentro da cena, expandindo o olhar do espectador e criando uma ótima profundidade de campo (não sei vocês, mas, por um momento, achei que a barbearia fosse uma TARDIS). 

Adorei o figurino de Ncuti Gatwa aqui e, novamente, devo dizer que o 15º Doutor está apresentando mais maturidade nesta temporada. Sua habitual “cena de choro” agora se insere em pontos mais coerentes, em comparação aos da 1ª Temporada, e a maneira como ele se aproxima do problema me lembra um pouco a do 11º Doutor, criando uma investigação inicialmente silenciosa que acaba se transformando em um pequeno espetáculo. A cena dos dreadlocks no cabelo, feitos como um mapa, é maravilhosa. Gosto também do momento em que o Doutor chega ao que parece ser o centro do labirinto e encontra-se com o coração da máquina. A mistura de elementos orgânicos com metal é visualmente muito bonita, e nem preciso falar de seu significado. Infelizmente, é nesse ponto que surge o pior e mais negativamente denso elemento de A História e o Motor, que é a redenção do vilão. Começando com as palavras distrativas do Doutor e terminando com o Barbeiro assumindo o controle da barbearia de Omo, onde deve seguir coletando histórias, eu não consegui gostar das decisões do roteirista nesse ato. Além de me parecer uma passagem muito rápida, de uma vingança intensa para uma culpa moral colossal, o ritmo do final parece truncado, dando a impressão de que as coisas se desencontraram e que tem algo faltando para completar a história. 

Chama a atenção o fato de esta Era nos oferecer mais uma narrativa sobre criação artística, oralidade e a construção de realidades e seres divinos. Desta vez, porém, encontramos algo apenas marginal às divindades. Ainda assim, algo de extrema importância: as histórias que passam de geração em geração sobre os feitos e grandezas dessas figuras divinas. Os simbolismos, desta vez, são fáceis de compreender e recebem leituras mais diretas, aplicadas ao problema principal da temporada: o que a narrativa de uma história tem a ver com o bloqueio do ano de 2025 para o Doutor e Belinda? Sem a carga moralista e a finalização insatisfatória do vilão, a qualidade do episódio, talvez se mantivesse degraus acima. Contudo, este ainda é um episódio muito bom. Em tempo: parece que a tônica, agora, é colocar Dona Flood aparecendo organicamente nos episódios, não é mesmo? Eu preferiria que ela NÃO aparecesse mais. Mas se faz parte da ideia fixa que deve trazer alguma revelação chocante ao final da temporada, que seja assim: sem atrapalhar ou romper o andamento do texto com quebras de quarta parede chatas + autoindulgência cômica que irrita mais do que diverte. 

Doctor Who – 2X05: A História e o Motor (The Story and the Engine) — Reino Unido, 10 de maio de 2025
Direção: Makalla McPherson
Roteiro: Inua Ellams
Elenco: Ncuti Gatwa, Varada Sethu, Stefan Adegbola, Jordan Adene, Michelle Asante, Ariyon Bakare, Michael Balogun, Tessa Bell-Briggs, Anita Dobson, Inua Ellams, Funmi James, Jo Martin, Sienna-Robyn Mavanga-Phipps, Adrian Pang
Duração: 50 min.

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