Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 2X06: O Festival Interestelar da Canção (The Interstellar Song Contest)

Crítica | Doctor Who – 2X06: O Festival Interestelar da Canção (The Interstellar Song Contest)

Cantoria e revelações.

por Luiz Santiago
1,3K views

Não existem palavras suficientes para expressar o combo de emoções e reações que eu tive quando, ao final deste icônico O Festival Interestelar da Canção, um dos grandes mistérios desta temporada de Doctor Who foi revelado — e mais uma porção de outras surpresas apareceram a tiracolo, claro, mudando a mera brincadeira sci-fi com o Eurovision para uma reflexão multifacetada sobre diplomacia cultural, vingança política mais terrorismo e denúncia através da música. Sob a direção de Ben A. Williams e roteiro de Juno Dawson, o episódio faz uma excelente preparação para a reta final da temporada e cria ainda mais ansiedade para as batalhas dos episódios finais.

A premissa é despretensiosa, mas simpática: o Doutor e Belinda aterrissam num festival musical cósmico, como parte da triangulação de locais que, em tese, permitirá que eles voltem para o dia 24 de maio de 2025. Em pouco tempo, porém, tudo se desdobra numa complexa teia de eventos mortais, quando descobrimos que a competição tem como financiadora uma corporação genocida e que duas vítimas da destruição causada por esta corporação querem a mais espetacular, cega e sangrenta vingança possível. Williams orquestra esta revelação gradual através de uma direção muito engenhosa, que conta com uma montagem precisa, tirando-nos dos tempos menos interessantes da arena musical para as cenas que realmente chamam a atenção aqui, e que não têm nada a ver com o tal festival.

Ncuti Gatwa continua sua trajetória ascendente como o 15º Doutor, alcançando um ponto alto e chocante. Nós já vimos o Doutor agir de maneira raivosa e perigosamente vilanesca antes, mas isso nunca deixa de impressionar, não é mesmo? Ver o Doutor ardendo de raiva, pensando que Belinda estava morta e torturando o hellion responsável pelo plano de vingança corporativa que envolvia trilhares de inocentes foi algo que me deixou estupefato. E tem uma coisa nesse comportamento que me trouxe algumas questões sobre esta persona do Doutor. Antes, porém, tenho que falar sobre a gloriosa revelação da verdadeira identidade da Sra. Flood, que era uma encarnação da Rani. Eu adoro a personagem! Foi absolutamente incrível acompanhar essa chegada, especialmente pela grande diferença entre a encarnação vivida por Anita Dobson e a nova, representada por Archie Panjabi.

Davies mata dois coelhos com uma única cajadada, aqui. Agora que sabemos que a bi-regeneração não foi algo exclusivo do Doutor, podemos voltar a pensar um pouco sobre a própria constituição desta realidade, onde a palavra “gravidade” ainda segue sendo “mavidade”; onde Time Lords bi-regeneram e onde um corpo bi-regenerado parece concentrar características únicas, em detrimento de outras (notem como a Sra. Flood fica, de repente, subserviente à sua versão claramente mais maldosa e imponente). A gente sabe que algo não está funcionando certo, ou, pelo menos, não deveria, considerando as quebras de quarta parede, as pistas sobre realidades e a luta contra deuses. O episódio consegue transmitir a intensidade das revelações e o peso que isso pode ter para a própria Belinda e o Doutor. Uma parte dos mistérios já se foi, e o resultado foi ótimo. Falta agora resolver o dilema de Belinda e a destruição da Terra… 

A aparição surpresa de Susan acrescenta uma camada canônica significativa ao episódio, conectando o presente da série com suas raízes históricas, algo que o showrunner vem fazendo, dando uma ideia de continuidade, apesar da nova roupagem estética e narrativa. Assim como a Doutora Fugitiva, fica a dúvida sobre futuras aparições de Susan e o que isso representa para o mistério da temporada ou da própria encarnação do 15º Doutor. Susan, com seu ar de enigma familiar, sugere que este Doutor tão visceral em sua raiva e tão frágil em suas perdas, pode estar navegando não apenas um cosmos em colapso, mas uma versão de si mesmo que ele ainda não compreende. Enquanto Belinda encara a sombra da destruição da Terra, o episódio cristaliza o que Doctor Who faz de melhor: transformar as coisas comuns em reflexão. Apesar do salvamento bobinho do dia, o texto fez uso cuidadoso do caos, quebra positivamente as expectativas e deixa-nos com ansiedade e fascínio pelo que está por vir. Como não gostar de um enredo desses? 

Doctor Who – 2X06: O Festival Interestelar da Canção (The Interstellar Song Contest) — Reino Unido, 17 de maio de 2025
Direção: Ben A. Williams
Roteiro: Juno Dawson
Elenco: Ncuti Gatwa, Varada Sethu, Iona Anderson, Rylan Clark, Charlie Condou, Anita Dobson, Julie Dray, Freddie Fox, Kadiff Kirwan, Miriam-Teak Lee, Akemnji Ndifornyen, Graham Norton, Christina Rotondo, Abdul Sessay, Imogen Kingsley Smith, Kiruna Stamell, Archie Panjabi
Duração: 50 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais