Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 5X02: The Beast Below

Crítica | Doctor Who – 5X02: The Beast Below

Um episódio para ajustar a nova identidade da série.

por Rafael Lima
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Embora os whovians adorem discutir as histórias de estreia de um Doutor, é a segunda aventura de cada Doutor que define quem é o novo personagem e a atmosfera que a série irá seguir com ele. E é a sensação de estar estabelecendo o novo tom do programa que The Beast Below, o segundo episódio da era do 11º Doutor, nos passa. Na trama, na primeira viagem de Amy na TARDIS, o Doutor a leva para o século 33, a bordo da Starship UK, onde os britânicos se refugiaram após a Terra tornar-se inabitável. Porém, Amy e o Doutor percebem que há algo errado acontecendo na nave, já que crianças estão desaparecendo, enquanto assustadores robôs sorridentes vagam pela Starship UK. Logo, a dupla descobre um terrível segredo, que os colocará diante de um grande dilema moral.

Escrito por Steven Moffat, The Beast Below abre espaço para boas leituras políticas e sociais, como a crítica à forma como o sistema eleitoral é encarado por muitos. As urnas de votação dão aos habitantes da Starship UK a possibilidade de esquecer ou protestar, nos dando brecha para pensar como muitos se esquecem em quem votou (e por tabela, da consequência do voto) após uma eleição, desvalorizando o poder do voto e da democracia. Mas apesar das metáforas políticas e sociais do episódio, ele nunca abandona o seu tom de fábula infantil, estabelecido desde a cena de abertura, quando vemos crianças aterrorizadas na escola ao receberem suas notas dos robôs sorridentes. O lúdico e a figura infantil são de extrema importância durante a era do 11º Doutor, e é através desses elementos que o roteiro encaminha o desfecho para o grande conflito que a dupla da TARDIS encontra no subsolo da Starship UK.

O roteiro nos surpreende não pela raiva do Doutor pelo que os humanos fizeram com a Baleia Espacial aprisionada, mas por sua irritação com Amy por uma escolha inicial equivocada diante daquela situação, chegando ao ponto de pensar em expulsar a jovem da TARDIS. Neste desfecho, Moffat marca uma das grandes diferenças de sua visão da série para a de seu antecessor. O Doutor decide sozinho causar a morte cerebral da baleia para que ela possa carregar a nave sem sofrer, mas ao fazer isso, afirma que terá que trocar de nome, pois não poderá mais se chamar de Doutor. Amy, por sua vez, ao libertar a baleia à revelia do parceiro, cumpre a função da Companion estabelecida pela Nova Série, que é lembrar ao Time Lord quem ele é quando ele ameaça esquecer. Para isso, o roteiro cria um paralelo inteligente entre o protagonista e a baleia, tendo as crianças como elo de ligação. 

O Doutor na era Moffat, e especialmente o Doutor de Matt Smith é constantemente posto como uma figura benigna de contos de fadas, bastando observar como o discurso de não interferência que ele dá para Amy no começo do episódio vai pela janela quando o viajante do tempo vê uma criança chorar. Da mesma forma, a Baleia espacial (também a última da sua espécie) veio em socorro da Starship UK ao ouvir o mesmo tipo de choro, e é assim que Amy sabe que a criatura não vai abandonar os humanos, mesmo depois de séculos presa e torturada. Dessa forma, a era do 11º Doutor estabelece o seu herói como alguém que, por essência, se recusa a conformar-se com qualquer cenário que resulte na morte de inocentes, pois do contrário, ele não seria o Doutor. Essa abordagem traria um contraste saudável entre as duas eras da série, sinalizando, já no começo da jornada do 11º Doutor, elementos que guiariam as suas aventuras finais.

Neste segundo episódio, Matt Smith e Karen Gillan continuam trabalhando a química entre os seus personagens, criando uma dinâmica vibrante e ao mesmo tempo afetuosa. The Beast Below dá a Smith a chance de explorar diferentes facetas de seu Doutor; e embora perceba-se que o ator já tenha total domínio sobre as características mais leves e divertidas do protagonista, ele ainda parece estar tentando encontrar como retratar o lado mais intenso e sombrio de seu Time Lord. Karen Gillan, por sua vez, acertadamente vive Amy Pond neste episódio como uma garota deslumbrada pelo universo que se abriu diante dela. É natural, portanto, que a atriz opte por conferir a Companion um grau maior de vulnerabilidade do que em sua primeira aparição, tendo em vista que ela está em um terreno novo, aos poucos recuperando a sua confiança e atrevimento característicos.

Nos aspectos técnicos, The Beast Below é um episódio de encher os olhos. A direção de arte se esbalda em criar o ambiente da Starship UK  como um lugar de aspecto naturalmente futurista, mas que também evoca elementos de fantasia e pesadelos infantis tão caros para este período da série, vide os robôs sorridentes que parecem saídos de algum parque de diversões macabro, ou o próprio cenário da língua da baleia, onde temos a divertida cena em que Amy e o Doutor são vomitados pela criatura. Vale ainda ressaltar o bom trabalho de figurino, como os trajes de Liz 10, que destacam a natureza dinâmica e misteriosa da rainha. Igualmente digno de atenção no trabalho de figurino é a camisola de Amy, que mais que uma continuidade com o episódio anterior, ajuda a estabelecer parte da persona infantil da Companion, já que ao viajar com o seu amigo imaginário, ela está tanto realizando o sonho de infância da pequena Amelia, fugindo de seu rito de amadurecimento representado pelo casamento.

The Beast Below é um episódio que estabelece com competência a dinâmica do novo time da TARDIS, além de definir de forma bastante clara a direção na qual o novo Showrunner iria levar a série e o seu protagonista. Além disso, é uma história muito divertida, que com um elenco principal afiadíssimo e uma gostosa atmosfera lúdica, prometia uma nova era da série cheia de possibilidades.

Doctor Who- 05X02: The Beast Below (Reino Unido, 10 de Abril de 2010)
Direção: Andrew Gunn
Roteiro: Steven Moffat
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Sophie Okonedo, Terrence Hardiman, Hannah Sharp, Alfie Field, Christopher Good, David Ajala, Chris Porter, Ian McNeice
Duração: 42 Minutos

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