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Crítica | Doctor Who: Ciência Vampírica, de Kate Orman e Jonathan Blum

Vampiros em São Francisco.

por Luiz Santiago
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Equipe: 8º Doutor, Sam Jones
Espaço: São Francisco, EUA
Tempo: 1976 e 1997

Talvez devido ao peso do drama de Os Oito Doutores e por conta do apelo canônico daquela história, Terrance Dicks não tenha tido tempo ou intenção de verdadeiramente desenvolver Sam e explorar bem aquele seu primeiro contato com o Doutor. É por isso que eu entendo Ciência Vampírica, obra que se segue a Os Oito Doutores, o livro que de fato estreia a série Aventuras do 8º Doutor, pois é nele que vemos o texto explorar a personalidade da nova companheira e mostrar mais detalhes da personalidade do Time Lord, que literalmente diz já se terem passado três anos desde a sua regeneração em O Senhor do Tempo. E vale ainda dizer que o espaço geográfico escolhido pela dupla Kate Orman e Jonathan Blum para representar uma nova batalha do Doutor contra os sugadores de sangue não poderia ser melhor, considerando o histórico dessa encarnação: a cidade de São Francisco, nos Estados Unidos.

O título do livro já deixa bastante claro quem serão os antagonistas, e sim, estamos falando de vampiros de verdade, aqueles que apareceram pela primeira vez na série em State of Decay e que tiveram sua chegada à Terra explorada nos livros Colheita Sangrenta (Virgin New Adventures #28) e Ópera Gótica (Virgin Missing Adventures #1), ambos de 1994. Em duas temporalidades, os autores de Ciência Vampírica mostram uma tentativa de convivência e uma corrupção ético-moral no seio da comunidade dos vampiros em São Francisco, fazendo da primeira metade do livro um drama de sombria tensão (com pitadas de drama político) sem uma forte presença dos vilões, que aparecem de verdade na segunda metade da obra. O ponto de partida é uma cena em 1976, quando Carolyn McConnell, estudante de medicina que sonha em encontrar a cura para o câncer, se depara com um ataque de vampiro a uma garota britânica (Sam), o que acaba colocando a estudante em contato com o Doutor.

O salto temporal para o ano de 1997 dinamiza a história, e os autores usam a atmosfera de final dos anos 1990 para explorar caminhos bastante macabros para os vampiros, alguns deles inspirados em Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice. O enredo aqui está ligado ao velho dilema de coexistência entre espécies, e se divide entre um grupo que quer e pode usar de suas incríveis capacidades para dominar os humanos; e outro grupo que faz pesquisas na área de engenharia genética para clonar humanos ou para criar sangue artificial a fim de servir-lhes de alimento. É um dilema muito interessante e que os autores conseguem colocar perfeitamente na voz do 8º Doutor. Isso se torna ainda mais intenso quando o Time Lord faz um pacto, um “jejum de sangue” com um vampiro, e acaba se tornando bastante vulnerável. Aliás, esse artifício narrativo é muito importante, pois a partir do momento em que se firma, deixa o Doutor fragilizado, podendo ficar à beira da morte, como de fato ocorre.

Um dos aspectos que mais me chamaram a atenção na obra foi a exploração do amadurecimento de Sam. Como personagem, ela cresce bastante, uma vez que está diante de perigos que podem afetá-la para sempre. No período em que se recupera no hospital e recebe a visita de uma General da UNIT chamada Adrienne Kramer, a companion ouve relatos de um Doutor que não imaginava existir. Gosto muito da forma como Kramer demonstra genuína preocupação por Sam, rememorando o estilo manipulador do 7º Doutor e pensando no impacto disso para Ace, que de fato se transformou — além de ter atravessado maus bocados psicológicos e emocionais — em companhia do Time Lord. Já no lado dos vilões, o personagem que recebe maior atenção é Slake, um rebelde de causas erradas que sente prazer no sofrimento dos outros e que possui um ego do tamanho do Everest. Durante a leitura, me irritei tremendamente com ele, especialmente porque não foi escrito com variações de personalidade ou inclinações para mudança, o que o deixou ainda mais insuportável.

Entre o narcisismo de Slake e o aprendizado traumático de Sam, Ciência Vampírica convida a uma conversa sobre a coexistência e sobre a possibilidade de mudar de vida, independente do ambiente em volta. E os autores finalizaram a obra com uma interessante “ponta solta“, um vampiro “esquecido” no teatro onde a grande batalha final ocorreu e que agora tinha que fazer as escolhas de sua vida considerando tudo o que viu se passar naquele palco. Em adição a isso, é bonito ver a UNIT dando uma oportunidade para alguém de outra espécie (lembremos que o Doutor, no futuro, faria o mesmo com Osgood!), construção que incrementa o discurso de que existem bons e maus indivíduos em praticamente todas as espécies. E que a análise cuidadosa da situação, um voto de confiança e a tentativa de diálogo entre as partes são ações necessárias em muitos dos encontros com esses chamados “monstros“. Dependendo do caso, pode-se estar diante de um grande aliado, não de um mortal inimigo.

Doctor Who: Ciência Vampírica (Vampire Science) — Reino Unido, 7 de julho de 1997
Eighth Doctor Adventures (EDA) #2
Autores: Kate Orman e Jonathan Blum
Publicação: BBC Books
288 páginas

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