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Crítica | Doctor Who: Feito de Aço, de Terrance Dicks

por Luiz Santiago
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Equipe: 10º Doutor, Martha
Espaço: Londres
Tempo: 2008

Terrance Dicks é como um longevo tesouro em forma de escritor para Doctor Who. Ele começou a produzir coisas para a série ainda na era do 2º Doutor, no arco The War Games, e avançou até a era do 10º Doutor, escrevendo dois livros para uma pequena série literária da BBC Books, Quick Reads, cuja proposta era apresentar, como o título diz, uma “leitura rápida”, em tramas com no máximo 100 páginas. Nesses dois livros, o autor elenca a encarnação vivida por David Tennant ao lado de sua companheira Martha Jones e os livros são Feito de Aço (2007) e A Vingança dos Judoon (2008).

Feito de Aço começa com o estabelecimento do problema e da ameaça que chamará o 10º Doutor e Martha de volta para Londres: os Cybermen invadindo lugares, roubando material tecnológico e matando gente. Como esta aventura se passa depois de Army of Ghosts e Doomsday (Martha inclusive lamenta a perda de Adeola, sua prima), há muitas referências e conhecimento público da presença e existência desses vilões na Terra. O que mais me agradou, no entanto, foi o fato de o autor trabalhar de maneira orgânica esse conhecimento popular. A polícia dando pistas falsas, contratando “opiniões de cientistas” para enganar a população… enquanto sites de conspiração expunham na internet a “verdadeira história”.

Essa relação da “invasão alien” com o “mundo normal” sempre foi uma das preocupações que tive quando alguma aparição de vilões da série chegava ao mundo contemporâneo — nunca me importei com as aparições pré-século XIX por conta da dificuldade de comunicação e meios de informar, capturar ou relatar coisas nesse período, o que tornava muito mais fácil qualquer evento alienígena virar mito e passar como história excêntrica para as futuras gerações. O mesmo não podemos dizer de eventos desse porte em plena era digital.

Nem sempre os roteiristas ou escritores se preocupam em mostrar isso de forma coerente, a nível de relação com a população que viu aquilo e… não agiu ou não fez nada a respeito. Ou não se lembra do que aconteceu. Aqui, com um grupo pequeno de Cybermen — inicialmente, apenas dois — o autor cria uma base para esse tipo de aparição e mostra como são feitas ações oficiais para torná-las “não críveis” pela maioria. Há inclusive uma frase sensacional, que é uma das melhores do livro:

Quando as pessoas encaram algo inacreditável, a tendência delas é reagir não acreditando naquilo.

O momento de apresentação do Doutor e Martha no Período Cretáceo é excelente, com um final cômico e, obviamente, perigoso. Pena que o autor utilizou esse momento como “distração” ou “resolução” na parte final do livro, algo que não caiu muito bem. Penso que a aparição do Tiranossauro tenha funcionado no início, mas pareceu forçada no final, embora seu uso dentro da história, para barrar o Cyber-Leader, teve sua razão de ser.

As referências a Einstein, Newton, David Attenborough e… Frankenstein fazem sentido e endossam a atmosfera de ameaça a inocentes, de “criaturas malignas” + ciência e coisas do tipo. Por ser um livro bem curto (são apenas 100 páginas!), o leitor fica esperando por mais drama, mais acontecimentos, e lamenta que acabe tão rápido. Claro que no miolo da história, especialmente quando o Doutor é capturado pela polícia e quando os Cybermen acordam as outras unidades e fazem um ataque ordenado, tendo resposta de peso por parte dos soldados, há uma certa semelhança com os roteiros da TV, em especial, as partes mais previsíveis e meio chatas, mas esse não é o lado predominante da história e nem tira o mérito do livro.

O número de mortes aqui, inclusive de personagens importantes, é outra coisa que chama a atenção. Normalmente os autores poupam certos personagens, mas Terrance Dicks não queria tornar a vida dos policiais fácil nesse livro. E vejam, temos aqui um total máximo de seis Cybermen em ação! Isso mostra o terror que esses androides podem causar e o que podem planejar e executar, mesmo com poucas unidades — nessa ocasião, as que não foram sugadas para o vazio, em Doomsday.

As duas frentes da batalha final são muito boas, mas infelizmente tem a interferência do dinossauro, que acaba tornando a cena um pouco “barata”. Contudo, o que o Doutor consegue fazer em seguida, após lidar com o Tiranossauro, conserta essa má impressão e faz o enredo voltar aos eixos em seus parágrafos finais, terminando o livro de maneira inteligente e com uma boa imagem de esperança e algum elemento cômico, apontando para a próxima viagem da dupla.

Doctor Who: Feito de Aço (Made of Steel) — Reino Unido, 1º de Março de 2007
Autor: Terrance Dicks
BBC Books / Quick Reads #2
100 páginas

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