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Crítica | Doctor Who: Lapso de Tempo, de Naomi Alderman

O desaparecimento do ano 2004.

por Luiz Santiago
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A antiga série 12 Doutores, 12 Histórias, surgida na esteira de comemoração dos 50 anos de Doctor Who, em 2013, certamente receberia atualizações ao longo dos anos, à medida que novos Doutores ou Doutoras aparecessem. Em 2019, a saga (agora chamada de 13 Doutores, 13 Histórias) recebeu mais uma entrada, o conto protagonizado pela 13ª Doutora, que aqui está ao lado de Graham, Yaz e Ryan. Em termos de localização na linha do tempo da Doutora, a aventura se passa pouco depois de Resolution, e esse momento da vida da Time Lady — assim como sua relação com os companheiros e a maneira meio cômica, meio preocupada e até meio caótica de lidar com alguns problemas — a escritora Naomi Alderman conseguiu capturar muito bem em seu conto.

Eu não pude deixar de dar risada ao me lembrar de uma história de Perry Rhodan chamada O Mito da Terra que li poucos meses antes de Lapso de Tempo. No livro alemão, acontece algo que faz com que toda a memória sobre a existência do planeta Terra simplesmente desapareça das mentes e dos computadores do Universo, daí o nome do livro. Em Lapso de Tempo, o que some, inicialmente, é “apenas” o ano de 2004 (se fosse verdade, eu ficaria muito bravo, porque 2004 foi um excelente ano para mim). As pessoas sabem que existiu este ano, mas ninguém se lembra exatamente o que foi que aconteceu nele. A escrita de Naomi Alderman é gostosa, e explora com boas doses cômicas esse desaparecimento, alternando a narrativa entre cenas Museu Britânico (Reino Unido), em 28 de Abril de 2019, e outras cenas no Museu Nacional do Ar e do Espaço (EUA), em 2004.

Quem está por trás de tudo é um Time Agent chamado Richard Somerset, que não é, de fato, um vilão. Ou pelo menos não um vilão clássico, daquelas narrativas onde a “pessoa má” é totalmente estereotipada. É evidente que esse Agente do Tempo faz coisas erradas, mas isso se deve à sua personalidade imatura, impulsiva e paternalista, não porque ele é malvadão. Por ser do futuro e de uma civilização muito mais desenvolvida, ele não tem tato algum para lidar sequer com a mulher por quem se apaixona, e é a frustração de um pedido de namoro que faz com que ele, acidentalmente, exclua o ano de 2004 não apenas da memória de Maria Hackett, mas de todo o planeta. O pior é que esse evento desencadeia uma porção de outros acontecimentos bizarros, que terminam por trazer a Doutora à cena.

Meu maior problema com esta história são as primeiras páginas. O que acontece com a Doutora e seus companheiros no Museu me pareceu muito confuso e deslocado, não tendo boa conexão com a história até os momentos finais, onde a autora, finalmente, compensa lindamente essa falha. Após a sequência com as vespas, no início, e da introdução sem graça e chateante dos abutres de 3 cabeças chamados de Corpse Gipes, o enredo entra nos trilhos e, em dois tempos diferentes, estabelece fatos instigantes que são bem desenvolvidos e se afunilam para uma ligação no desfecho. A punição dada pela Doutora ao Agente do Tempo destrambelhado é condizente com a confusão que ele causou, e há uma camada lírica no texto, um aceno para uma boa amizade entre ele e Maria. Lapso Temporal é uma daquelas histórias que, passada a sua fase tempestuosa, consegue nos trazer uma boa aventura se encerrar com uma bela nota de esperança.

Doctor Who: Lapso de Tempo (Time Lapse) — Reino Unido, 7 de março de 2019
Autora: Naomi Alderman
Parte da coletânea: Thirteen Doctors, 13 Stories
Editora original: Puffin Books
50 páginas

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