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Crítica | Doctor Who: Legend of the Sea Devils

O penúltimo episódio da 13ª Doutora.

por Luiz Santiago
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Até onde a gente sabe, no Universo de Doctor Who, duas raças inteligentes habitavam o planeta Terra antes da ascensão do Homo Sapiens como espécie dominante: os Silurians, no solo; e os Sea Devils, no oceano, peixosos que apareceram pela primeira vez na série em 1972, no arco The Sea Devils, escrito por Malcolm Hulke. Meio século depois, a espécie volta a aparecer no show, agora pelas mãos de Chris Chibnall e Ella Road, em um episódio que aparentemente não serve para nada dentro do escopo geral da série no momento — aparenta mais um daqueles capítulos de miolo de temporada, ligando plots que já deveriam ter sido superados e jogando a Doutora para outra direção –, o que é bastante problemático porque estamos diante do penúltimo episódio em que vemos a 13ª Doutora em cena. E mesmo assim, Chris Chibnall achou que era um momento oportuno para trazer de volta o arco da paixão de Yaz pela Time Lady. Porque… quem é que precisa de finalização dramática para a jornada de um personagem tão importante como a Doutora, não é mesmo?

A ação começa com um ato aparentemente vilanesco de Zheng Yi Sao (ou Madame Ching, que realmente é uma personagem histórica, uma pirata chinesa que atuou no Mar da China Meridional de 1801 a 1810, aproximadamente) liberando um Sea Devil aprisionado em uma estátua, numa vila litorânea. Essa cena inicial de libertação e o encontro desse peixoso com a Doutora são momentos que me agradaram. O desenho de produção fez um ótimo trabalho na representação da espécie, e devo dizer que também gostei da voz. Essa representação nos dá algum medo e consegue ao mesmo tempo validar a presença desse antagonista depois de tanto tempo. Infelizmente não posso dizer o mesmo dos Sea Devils figurantes, que mais parecem bonecos inanimados nas cenas em que aparecem. Custava fazê-los ágeis como o seu líder? Já que aparecem tão pouco, que aparecessem com algum tipo de vitalidade!

A Doutora, Yaz e Dan chegam repentina, mas compreensivelmente necessários à vila, no exato momento em que o Sea Devil libertado começa a matar quem aparece em seu caminho. A aparência do navio e a forma como esse líder se comporta chamam a atenção e até nos enganam pelo que pode ser o rumo da história daí para frente. Mas é um breve engano, apenas. O roteiro não traz uma motivação sólida ou dramaticamente rica que fizesse valer qualquer tipo de ação por parte do time da TARDIS. Enquanto no núcleo humano temos Madame Ching com uma motivação pessoal (o salvamento dos filhos e de sua tripulação) e até Ying Ki com sede de vingança pela morte do pai, o vilão, assim como foi em Flux, está aqui apenas para decoração maléfica e impulso rápido da trama. É o malvado que quer inundar a superfície como vingança por ter sido preso pelos Sapiens. E só isso mesmo. A própria Doutora, aliás, faz um questionamento mais ou menos nesse sentido, e eu até pensei que o roteiro iria trazer algo melhor como impulso dramático para a cena, mas infelizmente isso não aconteceu.

O que ocorreu foi que o showrunner finalizou (assim espero) o arco da paixão de Yaz pela Doutora. Em Eve of the Daleks eu tinha comentado sobre a necessidade de se referir a isso de maneira rápida, tirando essa trama de cena porque ela é condenada a chegar em lugar nenhum, por motivos tão óbvios que ainda procuro entender por que Chibnall resolveu colocá-la, para começo de conversa. E para os defensores-por-comparação, deixo claro que o caso Rose-10 foi de ordem diferente em termos dramáticos. Aqui, até mesmo a paixão me parece forçada, enquanto no caso de Rose pelo 10º Doutor, RTD explorou majoritariamente o flerte distanciado com algumas pitadas de charme. Isso inexiste no presente caso. E mesmo que eu não goste nem um pouco de nenhum dos dois modelos, certamente este utilizado pelo atual cabeça da série é o pior deles. É compreensível que em algum momento, em tantos anos de viagens, algum companion se apaixone pelo Doutor ou Doutora? Sim, perfeitamente compreensível e possível. Mas convenhamos: em uma série do porte de Doctor Who, por que diabos isso deveria ter algum tipo de destaque ou mesmo receber um tratamento vip se há tanta coisa mais importante do que uma possibilidade romântica para colocar em cena? Chama-se definição de prioridades. Se cada showrunner for colocar no papel todas as possibilidades dentro da série que guiam, adeus, entretenimento.

Mas a Doutora pelo menos tira isso de cena, fala para Yaz da impossibilidade de um romance dada a particularidade de sua vida, tudo isso num diálogo seco, que fala do assunto, mas finge que não está falando… um fiasco de fechamento de algo ruim desde o princípio. Não cheguei a este Legend of the Sea Devils esperando alguma coisa boa, por isso não posso dizer que estou decepcionado. Reina, porém, uma sensação de desalento diante da fase atual da série. De saber o quão grandiosa ela pode ser e de vê-la amargando em histórias que não chegam em lugar nenhum e em um run inteiro que estraga uma das encarnações que deveria ser uma das mais doces e ativas (ou seja, uma “boa versão do 5º Doutor“). Legend of the Sea Devils não tem a decência sequer de preparar o terreno para o fim (além de ter uma das piores montagens que eu já vi em todo o show. A forma abrupta como os blocos são fechados é de doer os olhos). Desde a Primeira Temporada da Nova Série, tivemos episódios de preparação de terreno para final de temporada, quem dirá para preparação de uma mudança de encarnação! E nem como história isolada consegue se sustentar muito bem. Uma mediocridade irritante com um vilão clássico trazido do limbo… para nada. Triste fim.

Doctor Who: Legend of the Sea Devils (Reino Unido, 17 de abril de 2022)
Direção: Haolu Wang
Roteiro: Chris Chibnall, Ella Road
Elenco: Jodie Whittaker, Mandip Gill, John Bishop, Marlowe Chan-Reeves, Crystal Yu, Craige Els, Nadia Albina, Simon Carew, Jon Davey, Chester Durrant, Arthur Lee, Mickey Lewis, David Tse
Duração: 47 min.

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