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Crítica | Doctor Who: Oblivion (Doctor Who Magazine #300 a 328)

por Rafael Lima
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Oblivion, publicado pela Panini Britânica, reúne às primeiras histórias coloridas da série mental da Doctor Who Magazine, que fecham uma importante fase na Era do 8º Doutor. Seguem resenhas das histórias presentes no encadernado.

Ophidius

O roteiro de Scott Gray (que escreve toda a revista) traz um mistério morno em torno nave em forma de cobra que nomeia a trama, que nunca engrena. A narrativa cresce na metade final, não só pelo foco dado a Destrii, uma golpista alienígena capturada pelos tripulantes da nave, que surge como uma vilã charmosa e com um ótimo Design, mas pelo twist final, que altera a dinâmica da dupla protagonista. A arte de Martin Geraghty e Robin Smith naturalmente valoriza as cores, brincando com diferentes paletas na criação dos habitats alienígenas onde os Ophidianos mantêm os seus prisioneiros. É um arco irregular, mas que cria bases para as histórias melhores que se seguem. 

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Beautiful Freak

A One-Shot lida com o fim do arco anterior, com Izzy caindo em uma tristeza e raiva profunda por estar presa no corpo de Destrii, após a vilã ser desintegrada depois de trocar de corpo com a Companion. O choque da moça é tratado de forma intimista, com a moça percebendo que nunca será capaz de voltar para casa em um corpo alienígena anfíbio. A arte de Geraghty e Smith acompanha o clima melancólico da One Shot, valorizando as expressões faciais dos personagens, enquanto os ambientes da TARDIS surgem sombrios e opressivos, destacando as sombras e cores azuladas. Beautiful Freak é uma história bem contada, que dá novas camadas á relação entre o 8º Doutor e Izzy.

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The Way of All Flesh

O arco leva a TARDIS ao México de 1941, em pleno Dia Dos Mortos. Lá, os alienígenas Torajeen usam o feriado para assumir a forma dos parentes mortos dos aldeões, para ataca-los e roubar a carne de seus corpos. A trama traz perspectiva ao luto que Izzy sente por si mesma, ao confronta-la com a famosa Frida Kahlo, alguém que sabe o que é acordar em um corpo que “não é o seu”, devido ao acidente que danificou a coluna da pintora aos 18 anos. A arte de Geraghty e Smith explora o colorido do Dia Dos Mortos, ilustrando de forma eficiente o aspecto macabro da trama. The Way Of All Flesh traz uma aventura de celebridade histórica que faz jus ás figuras de Frida e Diego Rivera; desenvolve o conflito de Izzy, e traz uma arte vibrante e evocativa. 

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Children of the Revolution

O Doutor leva Izzy á um mundo subaquático, para ajudá-la se habituar ao seu corpo anfíbio. Porém, após o submarino onde eles estavam com outros humanos naufragar, os tripulantes são resgatados por uma tribo de Daleks humanizados, criados pelo Doutor em The Evil Of The Daleks. O roteiro coloca o Doutor em um dilema moral, ao retratar os Daleks humanizados como seres pacíficos que vivem escondidos, por serem odiados por todo o universo. Como boa parte das tramas Dalek, esta é uma história sobre ódio, mas aqui, ele não vem dos Daleks. Há um bem construído clima de tragédia iminente, que leva á um desfecho onde nunca o grito de “Exterminar” foi tão triste. Lee Sulivan traz um traço fluído, que serve as sequências de ação, especialmente as subaquáticas. Encerrando-se com um gancho que dita às histórias finais, Children Of The Revolution é um arco fantástico, e uma sequência orgânica do arco de TV que o originou.

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Me and My Shadow

A One-Shot acompanha Fey, uma espiã britânica da década de 1940, que após viver uma aventura ao lado do Doutor e Izzy, fundiu-se com uma entidade gallifreyana, ganhando o poder de virar uma sombra viva. A One-Shot é uma trama de vingança onde Fey caça um pelotão nazista nas florestas da Áustria. A história adota uma aura de terror, que é seguida pela arte de John Ross, que sugere grande violência sem entregar-se ao grafismo. A trama termina com Fey sendo recrutada pelo Doutor para auxilia-lo a encontrar Izzy, sequestrada por criaturas que confundiram a Companion com Destrii.

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Ouroboros

O Doutor volta a Ophidius, agora no mundo dos Mobox, raça que assumiu o controle da nave em Ophidius. B’rostt, um dos Mobox presos em Ophidius está usando a nave para armar um golpe de estado. Mas o Doutor está focado em salvar Izzy; e a conspiração de B’Rostt está no caminho. Há um bom twist, que revela que Destrii (e o corpo de Izzy) sobreviveu aos eventos de Ophidius. A arte de Ross se destaca pelo dinamismo da ação. E é interessante como o artista retrata a transformação que o corpo de Izzy sofreu nos meses em que foi ocupado por Destrii, passando a ostentar uma silhueta mais atlética. Uroboros é uma trama cujos méritos estão na simplicidade.

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Oblivion

Em Oblivion, Izzy (no corpo de Destrii) descobre que a vilã é a princesa do mundo de Oblivion, que fugiu para evitar um casamento forçado pela mãe tirânica. Ao mesmo tempo, o Doutor; Fey; e Destrii chegam á Oblivion para salvar Izzy, e descobrem o segredo que liga os oblivions aos seres energéticos conhecidas como a horda. O arco aprofunda as semelhanças e contrastes existentes entre Izzy e Destrii, criando uma tensão entre as duas que atinge o seu clímax quando as suas mentes se tocam durante uma nova troca de corpos. Ainda que o terço final que envolve o ataque da Horda após a morte da rainha acabe sendo a parte mais fraca da trama, ela traz um arco de redenção muito bem construído para Destrii, deixando a porta aberta para o seu retorno.

Mas Oblivion é a história de Izzy fazendo as pazes consigo mesma, e percebendo que ainda que tenha lutado para recuperar o seu corpo, negou por muito tempo aspectos de sua identidade, como a sua sexualidade ou o fato de ser adotada. No fim, Izzy vê que para se reencontrar, ela deve voltar a sua vida normal, o que gera uma despedida bonita e singela entre a Geek e o Doutor. A arte de Geraghty e David A. Roach transmite o ar épico da trama, assim como parecem se divertir ao retratar os nobres zoomórficos de Oblivion. A arte é competente em criar quadros impactantes para retratar os trechos mais emocionais da narrativa. Ainda que não seja o melhor arco da revista, Oblivion ainda é um desfecho emocionante para esta fase das aventuras do 8º Doutor nas Hqs.

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Character Assassin

A coletânea é encerrada com uma One-Shot comemorativa dos trinta anos do Mestre, mostrando o vilão em uma missão na Terra da Ficção (vista pela primeira vez em The Mind Robber). É uma trama simples, onde vemos o Mestre (a encarnação vivida por Roger Delgado, naturalmente) basicamente chutar o traseiro de grandes vilões da ficção, como Drácula; o Homem Invisível; o Professor Moriarty; só para citar alguns, sem nenhum esforço. Trata-se de uma história muito divertida, mas devo reconhecer que todo o aspecto satírico da One Shot acaba deixando-a deslocada do resto do encadernado, comentário que se estende a arte de Adrian Salmon, que usa aqui um traço bem mais cartunesco do que das outas histórias da revista. Enfim, Character Assassin é uma história para dar boas risadas com o Mestre, mas que soa deslocada no conjunto.

Oblivion traz um ponto alto para as Hqs do 8º Doutor, encerrando de forma fantástica a jornada de Izzy Sinclair na TARDIS. Ainda temos a introdução de personagens muito carismáticos como Destrii; uma inusitada história Dalek; uma emocionante história de celebridades históricas com um dos casais mais importantes da história da arte, e até o Doutor no modo Oncoming Storm. O que mais um fã de Doctor Who pode pedir?

Doctor Who: Oblivion (Reino Unido, 12 de Outubro de 2006)
Publicação Original: Doctor Who Magazine 300-304, 306, 308-328
Roteiro: Scott Gray
Arte: Martin Geraghty, Robin Smith, Lee Sullivan, John Ross, David A. Roach, Adrian Salmon
235 Páginas

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