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Crítica | Doctor Who: Os Oito Doutores, de Terrance Dicks

por Luiz Santiago
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Equipe: 8º Doutor, Sam / aparições dos Doutores 1 a 7 em encontros especiais
Espaço: Londres / algum lugar da Ásia ou África / Planeta não nomeado / Inglaterra / Vampire Planet / Eye of Orion / Space Station Zenobia / Metebelis III / Gallifrey
Tempo: 1997 / 100.000 a.C. / Indeterminado / anos 1970 / E-Space Time

Não é segredo para ninguém que altas expectativas podem ser um perigo muito grande e, na maioria das vezes, frustrar àquele que esperava grande coisa de uma determinada obra literária. Desde que eu comecei a ler contos e livros de Doctor Who, em 2012, duas obras sempre se destacaram na minha lista de “grandes esperanças” e eu fui adiando a leitura porque queria chegar no “tempo certo” para poder apreciá-las o melhor possível. Uma dessas obras é Lungbarrow, que ainda não li (escrevo esse texto em fevereiro de 2017) e a outra era Os Oito Doutores, obra de Terrance Dicks que me levou por uma montanha-russa de decepções e excitação, terminando apenas como um “livro ok”, ou seja, nada do que eu esperava.

A rigor, o autor propõe diversas continuidades retroativas, uma para cada encarnação do Time Lord até ali. Para quem acompanha as minhas críticas de livros da série, sabe que eu sou muito simpático a mudanças feitas no Universo Expandido, especialmente nos livros, onde o espaço para desenvolvimento de personagens é grande e pode gerar coisas muito boas, o que não necessariamente ocorre em Os Oito Doutores, a começar pelo fato de que a obra ocorre imediatamente após o filme de 1996, e o Doutor não tem muito tempo para entender quem ele realmente é, logo, o protagonista do livro é o que menos possui desenvolvimento pessoal. Seu avanço aqui, na verdade, é uma jornada de recuperação de memórias de suas outras encarnações.

A coisa fica complicada já no prólogo da obra, que mostra o Senhor do Tempo caindo em uma armadilha deixada pelo Mestre dentro da TARDIS. Como consequência, ele perde suas memórias (de novo aquela coisa de “Quem sou eu? Quem sou eu?“) e deve confiar na nave, que o guia para se encontrar com as outras 7 encarnações e então recobrar todos os momentos perdidos de suas linhas do tempo.

A primeira parte do livro, onde temos a apresentação de Samantha Jones, é muito divertida de se ler, com toda a surpresa para o que o Doutor fará com os traficantes e qual o papel de Sam em tudo aquilo, um papel bem ruim, por sinal. A jovem rebelde é apresentada como uma pessoa curiosa, espirituosa, gerando imediata aproximação com o leitor. Após a sequência de abertura, ela tem um breve momento junto a dois professores de Coal Hill School, volta quando o Doutor consegue fugir da cadeia e só reaparece no final do livro. O abandono desmedido e o uso da personagem para abrir e fechar o volume não foi exatamente a melhor ideia de Terrance Dicks aqui.

Os bons momentos do enredo, no entanto, voltam a se repetir no pequeno bloco com o 2º Doutor, durante The War Games (agora sabemos que chamar os Time Lords foi um conselho de outra encarnação!); no muitíssimo bem escrito bloco do 3º Doutor, pós-The Sea Devils (embora eu não consiga aceitar em nenhum momento o 3º Doutor ameaçando uma versão de si mesmo como “vingança”); e no bastante didático, emocionante e curiosíssimo bloco do 6º Doutor durante The Trial of a Time Lord.

Por outro lado, percebemos que o autor desprezou bastante os companions ou momentos da linha do tempo do Doutor com os quais não se importava muito, algo que certamente interferiu na qualidade de sua escrita, como notamos… No rápido encontro com o 1º Doutor, durante os eventos de An Unearthly Child. Em toda aquela ‘história de isopor’ com o 4º Doutor, logo depois da finalização de State of Decay — e pior, o 8º aparece apenas no finalzinho, o que inutiliza, dramaticamente, todo aquele prévio “conto”.

E o problema segue na insossa participação do 5º Doutor, que ocorre logo depois de The Five Doctors e envolve Raston – o robô sarrador, Sontarans e, o melhor “vilão encomendado”, um Drashig, que acaba se materializando na câmera do Timescoop, comendo o infame Time Lord Ryoth e destruindo todas as máquinas — vocês não tem ideia do quanto essa cena me fez rir. E para terminar, na mediana parte do 7º Doutor, que se passa bem ao final de sua encarnação e explica — essa é a parte boa da coisa — o que de fato se passou com o Mestre para gerar toda a situação que vemos no início de Doctor Who: O Senhor do Tempo.

Os Oito Doutores talvez seja um livro ambicioso demais. Marcado pela vontade de “explicar falhas”, o livro não deixa de trazer diversão em muitos momentos, mas a forma como a passagem de uma encarnação para outra acontece e o acúmulo histérico de “histórias contextualizadoras para coisas da Série Clássica” deixam o público rapidamente enjoado e diminui consideravelmente o valor final do romance. Curioso é que o livro deveria trazer novos leitores para o mundo do Doutor, mas se ele já é relativamente confuso para quem conhece a saga do Senhor do Tempo, fico imaginando como seria para recém-chegados a este Universo.

Doctor Who: Os Oito Doutores (The Eight Doctors) — Reino Unido, 2 de junho de 1997
Autor: Terrance Dicks
BBC Eighth Doctor Adventures #1
BBC Books
280 páginas

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