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Crítica | Doctor Who: Planet Of The Dead

por Rafael Lima
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O ano de 2009 marcou o primeiro hiato da nova série de Doctor Who desde a sua estreia. Mas embora o show não tenha tido uma temporada completa naquele ano, o programa apresentou uma série de episódios especiais para encerrar tanto a era do Décimo Doutor de David Tennant quanto o mandato de Russell T. Davies como Showrunner da série. A exemplo do que o Showrunner da Série Clássica; Jonathan Nathan Turner, fez com a temporada final do 4º Doutor de Tom Baker; Davies construiu os especiais de 2009 em torno de temas como a inevitabilidade da morte para que uma nova vida surja; a substituição do velho pelo novo; decadência e renascimento; tudo servindo como grande metáfora para a vindoura regeneração do 10º Doutor.

Tais temas, que já estavam presentes no especial de natal de 2008, The Next Doctor, e que apareceriam até mesmo na participação do 10º Doutor na temporada 2009 de The Sarah Jane Adventures também estão integrados em Planet Of The Dead, especial de páscoa da série, mesmo que de forma mais diluída do que nos outros especiais que formam essa fase final da dupla Davies/Tennant. Na trama, o 10º Doutor está rastreando um estranho aumento de energia cósmica na Londres Contemporânea em plena Páscoa, quando resolve pegar um ônibus. No veículo, ele conhece a misteriosa Lady Christina; uma ladra profissional que está em fuga após roubar um importante item de um Museu de Londres. Quando o ônibus é sugado por um buraco de minhoca que surge dentro da cidade, indo parar no desértico planeta San Helios, o Doutor e Christina devem liderar os passageiros para conseguirem voltarem vivos para a Terra, mas sem permitir que as vorazes criaturas que devastaram San Helios invadam o nosso mundo.

Escrito á quatro mãos por Davies e Gareth Roberts, Planet Of The Dead é um episódio que preza pela despretensão; quebrando mesmo os seus trechos mais sérios com alívios cômicos imediatos. Isso não necessariamente é um defeito; Roberts em especial é um roteirista muito bom em trabalhar tramas prioritariamente leves e cômicas que conseguem manter o espectador envolvido na narrativa; mas este especial de páscoa acaba sendo um pouco vazio e sem peso, com o mistério em torno do que aconteceu em San Helios, e a ameaça proveniente desse mistério nunca conseguindo despertar o nosso interesse.

Mas se a história de Planet Of The Dead é esquecível, o roteiro tem a seu favor a apresentação de personagens carismáticos. Lady Christina é uma Companion de ocasião muito charmosa, do tipo que nos deixa imaginando como seria se ela se tornasse companheira de fato. Ainda que criada sobre o arquétipo da ladra nobre, Christina não é definida por esse arquétipo, possuindo uma dinâmica divertida com o Doutor, e apresentando uma personalidade tão forte quanto á dele. A química entre Tennant e Michelle Ryan é ótima, e o roteiro é inteligente em usar a ladra como um lembrete da natureza transgressora do Time Lord; afinal suas viagens começaram com um roubo. O desfecho da história de Christina inclusive reforça a semelhança entre os dois, não sendo surpresa que a personagem tenha ganhado as suas próprias aventuras em outras mídias.

O especial traz outros bons personagens, como o simpático casal formado por Lou e Carmen, com esta ultima sendo uma médium que tal como os Oods, profetiza que a canção do 10º Doutor está no fim, alertando-o que ele ira ouvir quatro batidas antes do fim, em um dos únicos momentos em que o episódio fica mais sisudo. Planet Of The Dead também traz o retorno da UNIT; com o roteiro tentando dar a organização uma cara nova, diferente de suas aparições anteriores na Nova Série, onde a UNIT surgia como mera homenagem á Era Unit dos anos 70. A UNIT aqui surge como uma espécie de fã clube militar do Doutor, o que é representado principalmente por Malcolm, vivido por Lee Evans, que mal contém a excitação ao falar com o Time Lord. É uma iniciativa válida, mas que resulta no núcleo mais chato do especial, pois a tietagem ao Doutor torna-se irritante á partir de certo ponto. Curiosamente, Steven Moffat usaria abordagem semelhante quando trouxe a sua versão da UNIT, mas com melhores resultados. Vale ainda observar a presença do ator Daniel Kaluuya antes de sua carreira explodir internacionalmente, em um papel pequeno, mas crucial, 

O episódio possui uma característica curiosa que é unir dois elementos narrativos que Davies sempre tentou articular, mas que sempre pareceram conflitantes; que é a vontade de abordar o mundo do Doutor de um ponto de vista cotidiano, com a exploração de uma sociedade contemporânea pós primeiro contato. Planet Of The Dead usa os eventos de The Stolen Earth/ The Journey’s End para mostrar uma população que mesmo nervosa, não fica propriamente impressionada com a situação que enfrentam; afinal depois que o seu planeta é infestado por Daleks e arrastado para o outro lado do universo; seu ônibus ir parar em outro planeta já não é algo tão inacreditável assim.

James Strong em seu ultimo trabalho para a série (até a data de publicação desta resenha) entrega um trabalho burocrático; o que é uma pena vide algumas das possibilidades oferecidas pelo roteiro; como a cena de abertura onde acompanhamos a invasão acrobática de Lady Christina ao museu. Mesmo o uso das locações dos Emirados Árabes para simular o ambiente desértico de San Hélios parece pouco aproveitado pela direção.

Ainda que apresente coadjuvantes bastante carismáticos, como Lady Christina, Planet Of The Dead acaba sendo um episódio bastante esquecível; com uma direção pouco criativa, apesar de possuir uma ou outra boa ideia do roteiro. Por mais divertido que seja ver uma ladra da nobreza britânica fugir em um ônibus voador, o especial nunca consegue ser realmente engraçado ou empolgante, sendo provavelmente a mais fraca aventura desta fase final do 10º Doutor.

Doctor Who: Planet Of The Dead – UK, 11 de Abril de 2009.
Direção: James Strong
Roteiro: Gareth Roberts, Russell T. Davies
Elenco: David Tennant, Michelle Ryan, Lee Evans, Noma Dumezweni, Adam James, Glenn Doherty, Victoria Alcock, David Ames, Ellen Thomas, Reginald Tsiboe, Daniel Kaluuya, Keith Parry, James Layton, Paul Kasey
Duração: 59 Minutos

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