Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Doctor Who: Quadrinhos da “TV Comic” – 2º Doutor (1967) – Parte 1

Crítica | Doctor Who: Quadrinhos da “TV Comic” – 2º Doutor (1967) – Parte 1

por Luiz Santiago
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As histórias aqui analisadas foram publicadas pela TV Comic entre 24/12/1966 (início da primeira parte de The Extortioner) até a 4ª semana de maio de 1967. A única história deste período que não temos aqui é Jungle Adventure, uma das publicações da TV Comic Holiday Special desse mesmo ano.

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The Extortioner

Equipe: 2º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta não nomeado

Esta é a primeira história do 2º Doutor ao lado de John e Gillian. Bem… John e Gillian são citados e aparecem no último quadro da história, mas não participam da aventura, propriamente dito. A TARDIS se materializa em um planeta não nomeado, onde um vulcão está prestes a explodir, segundo os cálculos do Doutor. Ele sai para explorar melhor o local e acaba se encontrando com o vilão que dá título à história.

A trama aqui é fraca porque não tem ritmo algum, parecendo que vai terminar a qualquer momento, mas logo aparece alguma coisa que prolonga a história por mais duas páginas e, quando parece que mais uma vez vai terminar, outro absurdo acontece e mais duas páginas são escritas. Aparentemente, os planos do extorsor para dominar o Universo o fez se tornar um homem duro de matar. No final das contas, o Doutor consegue fazê-lo cair, com uma espécie de tanque de guerra, de um barranco, e é o fim da linha para o vilão.

Roteiro: Roger Noel Cook
Arte: John Canning

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The Trodos Ambush


Equipe: 2º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta Trodos

E eis que depois de forçar os Trods como arqui-inimigos do Doutor em Return of the Trods, a TV Comic conseguiu os direitos autorais para utilizar os Daleks em suas páginas! E eles fizeram toda questão de deixar isso claro. Veja só o primeiro quadro dessa nova aventura, que marca a estreia dos saleiros de Skaro na revista!

A aventura aqui acontece séculos depois de Return of the Trods, e o Doutor está indo para Trodos a fim de assinar um tratado de paz com os Trods, o que é bastante curioso, já que sua encarnação anterior praticamente exterminou uma parte deles usando uma técnica parecida com as câmaras de gás. De alguma forma, parece que os Trods resolveram ficar amiguinhos do Doutor, mas os Daleks descobriram isso e dominaram Trodos com o objetivo de impedir o acordo e, por tabela, capturar e matar o Doutor.

O que incomoda aqui não são os muitos furos no roteiro, o que não dá para perdoar porque os Trods foram criados por Roger Noel Cook em The Trodos Tyranny, e o mesmo autor escreveu o encontro seguinte desses robôs com o Doutor e também o presente roteiro, ou seja, era de se esperar o mínimo de coerência com os eventos entre um ponto e outro da história, o que não exite. A estrutura da trama é boa e a arte de John Canning é eficiente, mas não dá para aceitar todas as impossibilidades temáticas e narrativas do roteiro.

Para terminar, o Doutor consegue derrotar um Dalek com uma pedrada e partir do planeta com os netos deixando os Trods (com quem tinha ido assinar um acordo de paz), sozinhos em sua luta contra os Daleks! Bom, pelo menos isso marca uma nova fase de responsabilidade dele em relação aos netos, ao menos em comparação com o 1º Doutor, mas mesmo assim…

Roteiro: Roger Noel Cook
Arte: John Canning

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The Doctor Strikes Back

Equipe: 2º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta não nomeado, 2135

Oba! Daleks de novo! É a TV Comic fazendo valer o dinheiro gasto para a aquisição dos direitos de publicação! Só que dessa vez o Dalek em questão é matéria de fanfarrice do 2º Doutor, que está dentro da cápsula (algo que sua primeira encarnação já tinha feito, em The Space Museum). The zoeira never ends em Doctor Who.

O Doutor usa o seu Dalek de estimação para enganar uma frota de Daleks comandadas por um Supremo em um planeta não nomeado, em pleno momento de clímax do Império Dalek, segundo fala do próprio Doutor (é importante dizer, porém, que este planeta era apenas uma base de operações onde os Daleks se reproduziam em laboratórios subterrâneos).

Mais uma vez temos o Doutor com receio de envolver John e Gillian na aventura, por isso os deixa na TARDIS enquanto explora sozinho o local, dentro de sua cápsula Dalek.

O roteiro é razoavelmente inteligente e bem humorado, brincando com o disfarce do Doutor e a constituição de obediência sem questionamento dos Daleks. O que não funciona na história são as conveniências sempre postas ao lado do Doutor. Isso faz com que as coisas pareçam gratuitas demais, uma visão que sentimos em afirmar, pois a história em si tem bastante valor. E para finalizar, vale dizer que o Doutor não hesita um único momento em atirar em seus inimigos, chegando a matar um a “queima-roupa” e ordenando para que eles se destruíssem uns aos outros. Eis aí algo que não seria mesmo interessante que John e Gillian visse.

Roteiro: Roger Noel Cook
Arte: John Canning

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The Zombies

Equipe: 2º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Londres, 1969

Fato desconhecido: a TARDIS precisa de reparos a cada 9.656.064 Km rodados! Alguém sabia dessa? É uma informação interessante e, mesmo que não tenhamos visto isso muitas vezes posto de forma aberta pelos Doutores, podemos até entender as mudanças, as panes e outras coisas envolvendo a nave como uma forma de uma exigência para esses reparos. Algo mais ou menos parecido vimos citado em Pop-Up, quando descobrimos que o Doutor fez/faz atualizações periódicas na TARDIS.

A história começa com a nave recusando-se a materializar-se por completo. É então que o Doutor descobre que a quilometragem está vencida e a nave precisa de um pouco do Miracle All-Purpose Oil, algo que me parece muito inteligente e conveniente para consertos em geral (fica a dica para as empresas!). Ele sai sozinho para dar uma olhada na cidade, mas percebe que todos viraram escravos, hipnotizados pelos Zagbors.

Há um furo de passagem do tempo na aventura, que determina a passagem de dias quando na verdade não há indicação de que de fato isso tenha acontecido entre uma página e outra. Mas de resto, o roteiro se segura bem. A aposta aqui está bastante ligada ao humor do 2º Doutor e funciona sem firulas, especialmente agora com John e Gillian mais afastados das aventuras. Essas histórias têm sido quase que exclusivamente do Doutor e mostra não só a boa relação dele com os netos — que, como já expliquei detalhadamente neste artigo, não sabem que o 2º Doutor é o avô deles em outro corpo — como também a forma pouco usual desse Time Lord em resolver as coisas, o que, no presente caso, gerou uma boa e divertida história.

Roteiro: Roger Noel Cook
Arte: John Canning

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Master of Spiders

Equipe: 2º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta não nomeado

A pequena parada do Doutor para testar uma nova arma de raios acaba se tornando um show de horrores que dá ao Doutor falas que ele NUNCA diria, como “Die, hideous creature. Die!”

A TARDIS se materializa em uma região pantanosa e já de início da aventura o Doutor chama os netos para saírem com ele e pede para que tomem cuidado. Enfim, John e Gillian passam a fazer parte efetiva das aventuras do Doutor. Eles caminham alguns passos e  o Time Lord testa sua nova arma em uma árvore e depois sai em busca de outros alvos. Porém, uma aranha mecânica saindo do pântano os persegue. Essa linha de perseguição por aranhas ganhará forma no restante das páginas, não só com o Mestre das Aranhas e sua máquina como também com aranhas de verdade.

A partir desse ponto, é ladeira abaixo. O Doutro perde completamente sua característica comportamental e, além disso, o fato de ter um engenheiro/cientista maluco vivendo aparentemente sozinho em um planeta cheio de aranhas é tão bizarro que nem elevando ao extremo as questões freudianas conseguimos encontrar algo bom para que a trama se segure. As únicas coisas boas são a primeira página da história e a arte de John Canning.

Roteiro: Roger Noel Cook
Arte: John Canning

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The Exterminator

Equipe: 2º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta não nomeado

Lendo essas aventuras de Roger Noel Cook, fica evidente que o escritor se tornou mais carniceiro ao longos dos números das revistas e foi descaracterizando a verdadeira alma reconciliatória que há no Doutor. O problema não é o fato de o Time Lord matar seus inimigos no meio de uma batalha onde a vida dele, de seus netos ou de outros planetas estariam em jogo. O problema é que nessas histórias o Doutor parece um assassino galáctico sem moral e remorso algum, ficando feliz e planejando atos cada vez mais violentos contra seus inimigos, principalmente os Daleks, que se destacam entre os vilões dessa primeira parte das revistas de 1967.

Aqui, a TARDIS se materializa atrás de uma ferrovia onde um trem espacial está chegando. Após algumas perguntas, o Doutor e seus netos saem para investigar onde o trem está indo e percebem que de dentro dos vagões parados sai uma frota de Daleks. Não há citação alguma sobre os nativos do planeta, como foram derrotados ou como os Daleks fazem o trem funcionar.

A descoberta de um super-exterminador, a ameaça à Terra e o impulso para o Doutor se meter na ação dos Daleks são perfeitamente plausíveis. O problema é que nenhuma dessas ações justificam o modo como o autor as escreve.

Roteiro: Roger Noel Cook
Arte: John Canning

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Barnabus

TV Comic Holiday Special 1967


Equipe: 2º Doutor, John, Gillian e Barnabus
Espaço-tempo: Planeta não nomeado

Às vezes, tudo o que uma história mais precisa é de simplicidade e aqui está um grande exemplo. Sem nenhum rompante de complicação, enredo intricado, tentativas de chocar o leitor, etc., essa história é uma pequena crônica de convívio do Doutor com seus netos.

Cansado de fazer todas as coisas na TARDIS (comida, limpeza, etc.) o Doutor constrói um robô e dá a ele o nome de Barnabus. Em seguia, a TARDIS se materializa em um planeta, eles são alvejados (parece que os nativos não gostam muito de robôs) e o simpático Barnabus dispersa os atiradores garantindo o caminho salvo de seus mestres até a TARDIS.

Com uma boa dose de humor, simplicidade narrativa e relevância temática, Barnabus é a menor e a melhor história dessa primeira metade de 1967, na TV Comic, um tipo de roteiro que Roger Noel Cook deveria tentar escrever mais vezes.

Roteiro: Roger Noel Cook
Arte: Patrick Williams

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