Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Mutants (Arco #63)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Mutants (Arco #63)

por Luiz Santiago
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estrelas 4

We will be un-people, un-doing un-things un-together.

The Doctor

Equipe: 3º Doutor, Jo
Espaço: Planeta Solos
Tempo: 2990

Durante essa fase final do exílio do Doutor na Terra, forçado pelos Time Lords juntamente com sua regeneração em The War Games, ele foi capaz de realizar três importantes viagens a planetas diferentes, sendo guiado, enviado ou observado pela CIA (Celestial Intervention Agency). Essas excursões não eram exatamente apreciadas pelo Doutor, que ainda se ressentia de ter sido exilado e reclamava que seus conterrâneos queriam fazer dele uma marionete, mas no final das contas, aceitava de bom grado a tarefa de ajudar pessoas e povos em algum tipo de crise. Nesta fase aconteceram as aventuras no Planeta Uxarieus (Colony in Space), Peladon (The Curse of Peladon) e Solos, (The Mutants). Para efeito de classificação preferi não adicionar aqui o material do Universo Expandido.

É interessante observar que nesses três arcos existem cáusticas críticas a elementos históricos, sociais ou geopolíticos do Reino Unido, Europa ou mundo no início dos anos 1970. The Mutants, no entanto, é um caso especial. O arco, escrito por Bob Baker e Dave Martin, guarda inúmeras semelhanças com Colony in Space, e isso não é por acaso. Barry Letts, o produtor da série na época, sugeriu aos roteiristas que pensassem em algo que retomasse a ideia do domínio e da segregação que a aventura em Uxarieus mostrara (lembremos que ali tínhamos a representação do Western e toda a trama era uma alegoria da relação entre colonos, exploradores e indígenas), uma proposta que moldou o enredo antes mesmo dele ganhar corpo no papel.

O caminho que Baker e Martin seguiram trouxe críticas ao Apartheid, ao racismo e ao colonialismo britânicos, fazendo da trama uma importante forma de denúncia para a abominável lei então em vigor na África do Sul e aos tentáculos do já decadente Império Britânico ao redor do mundo. Essa situação política de comparação entre a Commonwealth of Nations e seus súditos é mostrada de maneira bastante criativa em The Mutants.

A trama começa com o Doutor e Jo recebendo uma “encomenda” dos Time Lords para ser entregue a alguém não especificado no início. A TARDIS é “calibrada” para algum lugar que o Doutor desconhece e a viagem se torna uma questão de honra: o Doutor aceita prontamente entregar a mensagem. Ao chegar na Skybase, os viajantes se veem em uma reunião entre representantes dos dois grupos nativos do Planeta Solos. Eles foram chamados à Estação Espacial para negociarem os termos de independência que o Império Terráqueo estava prestes e lhes conceder. E então, a partir da iniciativa do Marechal, um homem sedento de poder e para quem o genocídio era apenas um efeito colateral, as coisas saem dos eixos.

Existem algumas semelhanças políticas deste arco com The Curse of Peladon, mas aqui o roteiro não se fixa exatamente nos termos políticos. Em vez disso, temos diversas referências ao livro do Gênesis; ao lendário e sensacional livro A História do Declínio e Queda do Império Romano (1776 – 1788) de Edward Gibbon e ao comportamento da civilização humana, sempre muito confiante em suas armas e tecnologia, jamais pensando que esse extremo crescimento pode representar o seu fim como espécie e/ou, no caso de The Mutants, trazer o declínio de um enorme Império Galático.

Particularmente desgosto da forma como a personagem de Katy Manning foi explorada ao longo do arco mas, em termos de visão de elenco, esta é a minha única queixa. Quanto ao restante, não só a alegoria para a segregação racial (vemos, inclusive, separação de cabines para terráqueos e solonianos) mas também a concepção que o roteiro nos dá para a mutação em andamento e seu resultado final — não pude deixar de me lembrar um pouco de American Freak: A Tale of the Un-Men — são simplesmente incríveis. A fotografia do laboratório dentro da Skybase é excelente, especialmente nos três episódios finais, e a trilha sonora — macabra e depressiva — fecha bem o ciclo de elementos técnicos em bom funcionamento.

The Mutants é mais um dos muitos exemplos de como Doctor Who se tornou não apenas a melhor série de ficção científica da História mas também uma das séries que sempre estiveram atentas aos acontecimentos de seu tempo e os utilizaram como matéria bruta para suas críticas e ingrediente básico para aventuras.

The Mutants (Arco #63) — 9ª Temporada
Direção: Christopher Barry
Roteiro: Bob Baker, Dave Martin
Elenco: Jon Pertwee, Katy Manning, Paul Whitsun-Jones, John Hollis

Audiência média: 7,78 milhões

6 episódios (exibidos entre 8 de abril e 13 de maio de 1972)

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