Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Time and the Rani (Arco #144)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Time and the Rani (Arco #144)

por Luiz Santiago
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Equipe: 7º Doutor, Mel
Espaço: Planeta Lakertya
Tempo: 2000 (?)

O estranho final do julgamento do Doutor no arco The Ultimate Foe, que encerrou a saga The Trial of a Time Lord, foi consequência dos grandes problemas de bastidores que Doctor Who enfrentava na década de 1980, terminando com a demissão infame de Colin Baker. O ator foi posteriormente chamado para fazer o arco de regeneração e recurou-se (com todo o direito), o que colocou a chegada de Sylvester McCoy como um grande enigma. Na última cena de The Ultimate Foe, o 6º Doutor faz cara feia para Mel ao ouvir falar de exercícios físicos e suco de cenoura. Já na primeira cena de Time and the Rani temos esta sexta encarnação (McCoy, com o figurino e peruca imitando o cabelo de Colin Baker) jogada no chão da TARDIS, juntamente com Mel, indicando que algo terrível acontecera.

Inicialmente escrito para Colin Baker (antes de saberem que ele seria demitido), o roteiro sofreu diversas modificações de estrutura e personagens de destaque. O casal Pip Baker e Jane Baker tinham pensado inicialmente no Rei Salomão para servir de fonte de inteligência a Rani, que está fazendo experimentos a fim de criar um gigantesco Manipulador Temporal. Aproveitando-se de um evento cósmico e estando no lugar certo e na hora certa, a Time Lady empreenderia todos os recursos possíveis para poder “corrigir o caos do Universo e da natureza“. Mas mudanças aconteceram. Primeiro uma que eles acabaram gostando, que foi a transformação do planeta Lakertya (as locações foram no sítio geológico Cloford Quarry, no sudoeste da Inglaterra) em um lugar rochoso, diferente do paraíso verde que haviam previsto no roteiro. Já a outra mudança foi algo que gerou discussões durante a produção.

A estreia do 7º Doutor trouxe também um novo editor de roteiros para série, um entusiasta jornalista e escritor, de 29 anos, chamado Andrew Cartmel, que vinha com planos bem peculiares para a série. E foi com ele que Pip e Jane Baker tiveram problemas. Cartmel mudou o núcleo-base do conflito, fazendo Rani sequestrar diversos ícones da ciência da Terra (Albert Einstein, Hipátia, Louis Pasteur…), o que não agradou os autores. Mesmo com as divergências, o texto foi terminado e aprovado para filmagem. Sem nenhum detalhe sobre os motivos que o levaram à regeneração do Doutor (esses motivos seriam dados sob dois pontos de vistas diferentes, no livro Espiral Zero e na série da Big Finish The Last Adventure) vemos o Senhor do Tempo ser movido por um Tetrap e mudar de face. Se sombra de dúvidas a pior regeneração televisionada de um Doutor.

Cheio de efeitos especiais e visuais, Time and the Rani funciona mais como intenção e dentro de seus aspectos técnicos individuais do que como história fechada. Com muita coisa nova em cena (letreiros, tema de abertura, editor de roteiros, proposta geral), o olhar do espectador está deslumbrado e atento para tudo, o que talvez tenha destacado muito mais os erros do arco. Percebemos as várias tentativas da equipe técnica em fazer coisas grandiosas e diferentes, como a armadilha-bolha, a construção na rocha e o lançamento do foguete, além do asteroide de “matéria estranha” em diferentes dimensões, passando por diferentes planetas. O problema é que nada disso acaba tendo um bom respaldo do enredo e o arco nos traz apenas duas coisas muito boas: a atuação de Sylvester McCoy, que é simplesmente maravilhosa e a aplaudível trilha sonora de Keff McCulloch, também novo na série.

Kate O’Mara mantém o bom nível de sua personagem, mas aqui ela está menos impactante que em The Mark of the Rani, mesmo com uma história bem mais sombria. Os diálogos e as sequências em que a atriz aparece vão cada vez mais se tornando indiferentes para o espectador porque não há crescimento da personagem dentro da história, é sempre a mesma coisa, a mesma intenção, as mesmas provocações. Reparem como a visão bastante positiva que temos de Rani no início, vestida como Mel e tentando imitar a voz e a expressão corporal de Bonnie Langford (pessimamente retratada aqui, gritando mais que Susan, o horror, o horror!) se altera para algo mais banal desde o momento em que ela quebra o disfarce. Aos poucos, a mesma coisa também será vista em relação os nativos. Apenas o Doutor se mantém em alta conta até o fim.

A composição e especialmente a máscara dos Tetraps são ótimas, assim a como dos Lakertyans, resultado de um ótimo trabalho dos figurinos e da equipe de maquiagem. A trama em que estão envolvidos, no entanto, é um caos que até poderia gerar algo bom se fosse organizado e representado com diálogos inteligentes, sem briguinhas de dominação (possivelmente uma crítica dos autores ao colonialismo) que nos irrita mais do que diverte. A história vale como apresentação isolada do 7º Doutor, que se não conquista nos primeiros minutos, consegue fazê-lo na ótima sequência em que ele está provando roupas diferentes, vestindo as peças de suas encarnações anteriores. É um momento cômico bem dirigido e representado com tanta simplicidade que é inacreditável que McCoy tenha tirado tanto de algo tão rápido. Pena que sua história de abertura não lhe fez jus. Mas isso seria corrigido em breve.

Time and the Rani (Arco #144) — 24ª Temporada
Direção: Andrew Morgan
Roteiro: Pip Baker, Jane Baker
Elenco: Sylvester McCoy, Bonnie Langford, Kate O’Mara, Mark Greenstreet, Wanda Ventham, Donald Pickering, Karen Clegg, Richard Gauntlett, John Segal, Peter Tuddenham, Jacki Webb
Audiência média: 4,62 milhões
4 episódios (exibidos entre 7 e 28 de setembro de 1987)

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