Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who: The Doctor, the Widow and the Wardrobe

Crítica | Doctor Who: The Doctor, the Widow and the Wardrobe

por Giba Hoffmann
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O segundo dos Especiais de Natal com Steven Moffat na cadeira de comando chega com a difícil missão de ficar à altura de A Christmas Carol, episódio que elevou o patamar desse lado festivo da série se tornando um clássico instantâneo e nos lembrando novamente do que o formato é capaz quando apoiado sobre um roteiro forte e elenco bem alinhado.

Seguindo com a pegada fabulesca que marcou grande parte da era do 11º Doutor, o roteiro de Moffat engenhosamente monta um drama de época que combina a tragédia da guerra com a esperança característica do período festivo (algo que tornaria a aparecer em seu último Especial de Natal, Twice Upon a Time). Tomando seu tempo para construir um vínculo entre o Doutor e Madge Arwell (Claire Skinner), que vem ao seu resgate após um “pouso forçado” desastrado na Terra, a narrativa constrói o Time Lord como uma figura de contos de fada que retorna para consolar a família em um momento de crise.

Tendo sabido há pouco da morte em combate de seu marido Reg (Alexander Armstrong), Madge se encontra na difícil posição de proteger seus filhos da notícia por tempo suficiente para não arruinar para sempre seu espírito natalino. Em seu resgate chega a figura que ela salvou algum tempo atrás (mas que não pôde reconhecer devido ao capacete usado ao contrário), sob a guida de Zelador da casa de férias de um parente.

Assim como comentei sobre David Tennant em The Next Doctor, algo que merece ser reconhecido aqui é o quão acertada é a construção dessa premissa em torno da versão do Doutor interpretada por Matt Smith. Apoiando-se muito bem na construção de sua personalidade e tonalidade de suas aventuras até então, o roteiro de Moffat mais uma vez demonstra o potencial do ator em vender seu inusitado ângulo de conto de fadas sobre Doctor Who.

Apesar do título referenciar mais obviamente As Crônicas de Narnia, a outra inspiração de peso do enredo na verdade é Mary Poppins, com nosso Time Lord titular apresentando-se como curador de um retiro natalino dos sonhos, desenhado especialmente para alegrar Cyril (Maurice Cole) e Lily (Holly Earl) e oferecer ajuda à agoniada e relutante Madge em segurar as pontas da família em sua atual situação. O grande ponto forte desse episódio, para mim, é justamente a apresentação do 11º Doutor como Zelador dessa mansão natalina. O papel é brilhantemente interpretado por Smith, que demonstra com total fascínio juvenil suas invenções como uma torneira de limonada e um quarto repleto de brinquedos (mas sem cama) para os pequenos. Esse misto de infantilidade genuína e inegável velhice é para mim uma das marcas dessa encarnação do Doutor, e é especialmente bem explorada aqui.

O desfecho disso tudo não inclui nenhuma ameaça alienígena, mas na verdade diz respeito à inevitável desobediência de Cyril em aguardar o momento certo para abrir o gigantesco presente deixado sob a árvore de Natal (quem nunca?), o que o transporta antes da hora para a viagem natalina planejada pelo Doutor para o planeta não-nomeado povoado por miraculosos pinheiros festivos naturais. A coisa já não soa tão promissora quando descobrimos que o Time Lord planejou a excursão para ocorrer durante (ou após, contando com a citada diferença temporal do portal?) a extração de carbono via chuva ácida, cortesia dos madeireiros de Androzani Major (sério, se eu fosse o Doutor em um dia ruim acho que eu ia descer o Time Lord Victorious para cima desses caras) e de seu terrificante mecha.

Infelizmente, desse ponto em diante o enredo acaba perdendo um pouco do momentum, rendendo-se a uma perseguição entre os três grupos no planejamento natalino, e um desfecho que não depende em nada das ações de nossos protagonistas, mas sim das misteriosas criaturas arbóreas nascidas dos ovos-enfeites de Natal. Esse desenrolar mais “contemplativo” se justifica internamente pelo roteiro e não deixa de fazer sentido na tonalidade proposta pelo episódio, mas acaba também nos privando de algum momento propriamente heroico de nossos protagonistas, já que não se trata de salvar as árvores do planeta natalino ou sequer de planejar uma fuga, mas sim de observar os eventos e “se virar” com eles na medida do possível.

Isso deixa as exposições do Doutor notadamente mais óbvias do que o normal, sabotando um pouco do efeito dramático da “fuga espiritual” das árvores, que partem em um genial efeito visual que referencia a tradicional estrela no topo dos pinheiros natalinos. Evocando a licença poética de poder se caprichar no otimismo e na esperança em um conto de Natal, a viagem acaba com um improvável resgate de Reg, uma vez que é para lá que a pilotagem de Madge os leva quando ela os tenta levar de volta para casa. Essa sacada, em si, é fantástica, mas acaba não aterrissando de forma tão contundente devido à maneira um tanto solta e apressada com que chegamos ali.

Ainda que repleto de momentos genuinamente encantadores e amarrando muito bem suas temáticas ao longo do episódio, The Doctor, the Widow and the Wardrobe acaba sofrendo um pouco de um problema que, de certa forma, é típico deste segundo ano de Steven Moffat como showrunner da série: um bom número de ideias interessantes que, costuradas de forma desigual entre si, acabam tendo que recorrer demais à exposição para se articular em termos de enredo. Ainda assim, é um Especial que, para mim, vale sempre ser revisitado, especialmente na época festiva!

Doctor Who: The Doctor, the Widow and the Wardrobe (Reino Unido, 25 de Dezembro de 2011)
Direção: Farren Blackburn
Roteiro: Steven Moffat
Elenco: Matt Smith, Claire Skinner, Maurice Cole, Holly Earl, Karen Gillian, Arthur Darvill, Alexander Armstrong
Duração: 59 min.

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