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Crítica | Doctor Who: The End of Time – Part One

por Luiz Santiago
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Originalmente exibida no Natal de 2009, esta primeira parte do arco The End of Time teve como função preparar o terreno para a regeneração do 10º Doutor, após uma longa caminhada sozinho e várias especulações dos espectadores sobre em que momento viria de fato a morte do personagem de David Tennant para a entrada do já ‘odiado’ (como de praxe, em novos Doutores) Matt Smith. Mas há m detalhe que normalmente a gente se esquece no meio dessa grandeza e importância toda do episódio. Estamos diante de um Especial de Natal de Doctor Who! Um Especial de Natal onde a data esteve apenas como pano de fundo e absolutamente tudo no roteiro (aqui, de Russell T. Davies) foca em apenas uma coisa: construir o cenário para a futura morte do Doutor.

As duas cenas iniciais do episódio são ótimas. Primeiro temos o retorno do fantástico Wilfred Mott (Bernard Cribbins), que encontramos fazendo compras e o vemos lembrar-se de um pesadelo com o Mestre. Mais adiante ele se encontra com a misteriosa Time Lady interpretada por Claire Bloom e que tantas teorias suscita até hoje entre alguns whovians. No bloco seguinte, temos uma cena com o Doutor na Ood Sphere, em 4226. Esses dois ótimos momentos estabelecem um perigo maior que de fato teremos citado no episódio, mas eis aqui o meu primeiro grande problema com The End of Time – Part One: ele pouco vale como episódio solo, de modo que não faz sentido algum haver uma separação como Especial de Natal e Ano-Novo (partes 1 e 2). Como já disse, trata-se de um enredo de preparação. E quem dera que essa preparação valesse o tempo e a expectativa — a não ser que o espectador realmente se deixe levar pela tênue linha de costura com Rassilon falando ao longo do capítulo e aquela cena final, em plena Time War. Sim, tudo é grandioso. Épico. Música, intenção, exposição. Mas é uma cena, gente. Uma cena que não compensa as centenas de outras risíveis e irritantes cenas que temos aqui.

O veterano Euros Lyn assume a direção do episódio e procura fazer o máximo com os delírios quase super-vilanescos de Davies. Para isso, o diretor tomou muito cuidado com as cenas de ligação e afastamento dos personagens daquilo que seria o “misterioso problema” a ser trabalhado adiante. Vejam como momentos de caráter pessoal com os Oods e principalmente aquela soberba cena de David Tennant e Bernard Cribbins num café da cidade são conduzidas delicadamente, fazendo-nos sentir e não apenas observar aquilo que está acontecendo. Isso é importante para que o episódio não caia abaixo da linha média, porque é o que realmente parece que vai acontecer quando surge o plot de ressurreição do Mestre. Não há um único segundo envolvendo esse aspecto dramático que não seja ridículo. Não há preparação prévia para o ‘culto’ ao vilão e ainda assim eles conseguem saber o local da cremação, pegam o anel e conseguem recursos para reviver o renegado Time Lord. E vejam só, no meio do processo, Lucy praticamente tira da cartola um ~misterioso~ frasco contendo uma poção/antídoto que poderia impedir aquela abominação, tudo isso porque… wait for it… sua família tem contatos. Sim, isso é dito literalmente em um diálogo, do nada. Que morte horrível…

Daí para frente, a minha relação com o episódio é de uma irritação cortada por momentos de puro interessante pelo que poderia ser esta “outra coisa” que estava por vir. Já que o Especial de Natal é uma enganação barata em termos de motivação e que Davies resolveu transformar o Mestre num comilão energético que dá saltos gigantes e que tem até propulsão à la Homem de Ferro (Senhor Jesus…) chega um momento em que os eventos deixam de ser organicamente interessantes. Nossa atenção está mais jogada para o futuro, pelo mistério dos Time Lords e, claro, pela morte do Doutor. Mas notem que estamos falando de DW, então o elenco é fantástico, de modo que me dói ver alguém do porte de John Simm ter tão poucas cenas boas num episódio (os breves momentos dele com o Doutor, falando das batidas na cabeça, são poderosos) e o restante agindo de forma… bem… nomeiem vocês mesmos.

Na reta final o ritmo da trama fica cada vez mais intenso, a edição começa a mostrar um trabalho aplaudível e a trilha sonora não tem mais a intenção de se segurar. O clima criado é bom, mas o evento em cena… nem tanto. Por mais engraçado que seja o plano roubado/adaptado do Mestre, eu nunca consegui gostar dele de verdade. Pode-se pensar que Davies já fizera bizarrices piores (alô alô Love & Monsters!), logo, o evento dessa Parte 1 está condizente com a Era do showruuner. E sim, tudo isso é verdade. Mas a coerência de uma escolha dramática diante de uma tradição não torna o enredo que a contém automaticamente bom ou uma obra-prima, não é mesmo?

Poucas cenas impedem que The End of Time – Part One caia ainda mais em qualidade. No fim das contas, estamos diante de um Especial de Natal “desnatalizado” e de uma desculpa conceitual para segurar o 10º Doutor por mais um episódio no papel. Tsc tsc tsc… Por isso que eu prefiro o meu Especialzinho de Doctor Nárnia… (sim, podem soltar seus Daleks pra cima de mim, eu não ligo hehehehehe).

Doctor Who: The End of Time – Part One (Reino Unido, 25 de dezembro de 2009)
Direção: Euros Lyn
Roteiro: Russell T. Davies
Elenco: David Tennant, John Simm, Bernard Cribbins, Timothy Dalton, Catherine Tate, Jacqueline King, Claire Bloom, June Whitfield, David Harewood, Tracy Ifeachor, Sinead Keenan, Lawry Lewin, Alexandra Moen, Karl Collins, Teresa Banham
Duração: 60 min.

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