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Crítica | Doido para Brigar… Louco para Amar

por Ritter Fan
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O roteiro de Doido para Brigar… Louco para Amar chegou nas mãos de Clint Eastwood como uma espécie de desvio esperançoso para que o ator/diretor/produtor o encaminhasse a Burt Reynolds que, sem dúvida alguma, tinha o perfil exato para encarnar Philo Beddoe, o caminhoneiro que ganha dinheiro com brigas de rua e que vive com sua mãe que tenta, mas não consegue obter carteira de motorista, seu irmão e gerente dono de um reboque e, claro, Clyde, um simpático orangotango. No entanto, para surpresa de absolutamente todo mundo, Eastwood gostou do que leu e resolveu encarar o personagem mesmo com sua fama de durão sério vindo de seus mais famosos personagens, o Homem Sem Nome da Trilogia dos Dólares e, claro, o policial violento Dirty Harry.

Mesmo com a incredulidade de todos ao redor do artista, incluindo seu agente, seu instinto provou-se imbatível, pois o longa foi um dos mais bem sucedidos financeiramente de toda sua carreira, custando meros cinco milhões de dólares e fazendo, na bilheteria, espantosos 104 milhões, gerando uma continuação em 1980 que, mesmo não chegando ao mesmo valor, também é uma das maiores bilheterias do ator, com 70 milhões (só em termos comparativos, basta dizer que Sem Medo da Morte, o terceiro Dirty Harry de dois anos antes e o mais bem-sucedido até então, custou 9 milhões e faturou 46).

E o que Doido para Brigar… Louco para Amar tem de tão especial assim? Pois é. Eu me faço a mesma pergunta. Não só esse não foi o primeiro papel cômico de Eastwood, como o roteiro de Jeremy Joe Kronsberg não é muito mais do que uma sucessão de brigas de bar e de rua envolvendo policiais abestalhados e uma gangue de motoqueiros trapalhões enquanto Philo (Eastwood) corre atrás de sua paixão, a cantora Lynn Halsey-Taylor (Sondra Locke), levando seu irmão Orville (Geoffrey Lewis, em seu segundo longa com Eastwood depois de O Último Golpe) e Clyde (o orangotango Manis) à tiracolo. E mais, a direção de James Fargo (em seu terceiro longa e segundo com Eastwood) é no máximo burocrática, mantendo uma estrutura episódica cansativa ao longa, sem economizar no tamanho das sequências repetitivas, o que leva o filme a uma duração muito maior do que ele deveria ter considerando a ausência completa de história.

Por seu turno, Eastwood está inegavelmente divertido em seu papel. Ele mantém seu jeito durão, mas, aqui, ele deixa o coração à flor da pele ao mostrar-se facilmente arrebatável pela personagem de Locke, além de estabelecer uma conexão simpática com Lewis e, mais ainda, com o surreal orangotango. É sem dúvida diferente do usual em se tratando do ator, mas o problema está muito mais no roteiro em si que não sabe exatamente o que quer ser. Ora é uma comédia romântica, ora um road movie e outra hora descamba completamente para o pastelão, com direito a Philo berrando como Tarzan e a gangue de motoqueiros supostamente nazistas mais parecendo os Keystone Kops. Em outras palavras, o filme não tem uma linha mestra e, muito francamente, parece composto de esquetes improvisados por Fargo que dependente muito fortemente do carisma dos atores e da presença do símio para prender a atenção dos espectadores. Diria até que Clyde não é muito mais do que um artifício safado para diferenciar o longa de outros tão genéricos quanto, já que sua função narrativa, se formos realmente espremer, é inexistente.

Doido para Brigar… Louco para Amar é o típico filme certo na hora certa que arrebatou corações simplesmente por ser o que é. Como muitos blockbusters hollywoodianos, falta-lhe muita coisa para ser realmente bom, ainda que, aqui e ali, ele tenha seus breves momentos de diversão nonsense, além de ser a prova de que Clint Eastwood não tem medo de tentar coisas novas.

Doido para Brigar… Louco para Amar (Every Which Way But Loose – EUA, 1978)
Direção: James Fargo
Roteiro: Jeremy Joe Kronsberg
Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Geoffrey Lewis, Beverly D’Angelo, Ruth Gordon, John Quade, Dan Vadis, Roy Jenson, Bill McKinney, William O’Connell, Jeremy Joe Kronsberg, Gary Davis, Scott Dockstader, James McEachin, Walter Barnes, Gregory Walcott, Hank Worden, George Chandler, Cary Michael Cheifer, Manis
Duração: 114 min.

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