Home TVTelefilmes Crítica | Dois Romanos na Gália (Deux Romains en Gaule)

Crítica | Dois Romanos na Gália (Deux Romains en Gaule)

por Ritter Fan
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O desconhecido – e razoavelmente misterioso – telefilme Dois Romanos na Gália, tradução direta de Deux Romains en Gaule, tem como mais curiosa característica o fato de ele marcar a primeira vez que Asterix e Obelix migraram para o audiovisual, ainda que os dois personagens sejam apenas meros detalhes na história. Transmitido na televisão francesa em 1967, ele foi considerado perdido por décadas a fio, só ressurgindo em 2007 em uma sessão especial e única de cinema na França para festejar os 30 anos do falecimento de René Goscinny, sendo subsequentemente lançado, em sua integralidade, como um extra do DVD de Astérix e Obélix: A Serviço de sua Majestade, que chegou às lojas em 2013.

Pouco se sabe de verdade sobre a origem desse longa-metragem essencialmente live-action sobre dois soldados romanos que deserdam de seus postos por se apaixonarem por duas belíssimas gaulesas, sendo perseguidos por seu inclemente Centurião. Digo essencialmente, pois Asterix e Obelix, em suas versões animadas e com vozes de, respectivamente, Roger Carel e Jacques Morel, aparecem por alguns breves segundos no longa, comentando a narrativa como parte de um artifício de enquadramento que começa com um menino estudando História no tempo presente. Em outras palavras, como o título deixa bem claro, o roteiro escrito por Goscinny e Albert Uderzo focam quase que exclusivamente nos dois soldados em uma estrutura episódica, quase que de esquetes cômicas (e musicais), sem seguir rigidamente uma narrativa lógica, com começo, meio e fim.

O curioso é que Carel e Morel fariam as vozes de Asterix e Obelix na animação Asterix, o Gaulês, adaptação do primeiro álbum lançada mais para o final do mesmo ano, animação essa que foi produzida por Georges Dargaud sem que Goscinny e Uderzo tivessem tido a oportunidade de participar dela, o que mostra que não é só em Hollywood que os criadores levam rasteiras. Essa disputa – porque acabou mesmo sendo uma disputa que levou à proibição da produção do planejado segundo longa animado por Dargaud – levou muitos à suposição de que o telefilme em questão foi produzido em resposta ao projeto da animação e, como, havia consideravelmente muito menos trabalho envolvido, acabou ficando pronto antes, o que inclusive deu tempo de contratar os mesmos atores para emprestar as vozes aos irredutíveis gauleses. No entanto, tudo isso é especulação, já que pouco se fala oficialmente sobre essa obra “perdida” nas brumas do tempo.

Seja como for, ela é mesmo responsável pela primeira adaptação audiovisual de Asterix e Obelix que, antes, só haviam ganhado adaptações sonoras em discos e em rádio de suas histórias. Mas que fique bem claro: apesar de usar elementos de vários álbuns das aventuras de Asterix, Dois Romanos na Gália conta uma história 100% original e a presença de Asterix e Obelix na fita é inconsequente para a narrativa, quase que como um “prêmio” aos espectadores que há muito queriam ver os personagens no cinema ou na televisão, com Goscinny hesitando tremendamente especialmente em autorizar uma versão live-action deles, já que o grande roteirista considerava que eles jamais funcionariam dessa forma (e o tempo provou justamente o contrário, claro).

Os valores de produção do telefilme são baixíssimos, mostrando que o investimento em figurinos foram quase que inexistentes, ainda que a representação das armaduras romanas e de alguns gauleses sejam razoavelmente passáveis. No entanto, na maioria das vezes, o que vemos são roupas comuns adaptadas para parecerem de época, com um elenco sofrível que está lá basicamente para marcar presença, sem parecerem à vontade em seus papeis mais rasos do que os proverbiais pires. Os dois romanos do título – Prospectus (Jean-Marc Thibault) e Ticketbus (Roger Pierre) – parecem perdidos nos esquetes, sem ter muito mais o que fazer do que falar platitudes, serem presos e fugirem em um ciclo repetitivo que pouco agrega à história como um todo. Percebe-se, claro, a tentativa de transformá-los em substitutos de Asterix e Obelix, sem que a estratégia dê realmente certo, ainda que, em alguns momentos, pareça que personagens clássicos apareçam, inclusive um gaulês muito parecido com Asterix e um druida quase idêntico a Panoramix, além das participações dos próprios Goscinny e Uderzo, estes, respectivamente, como dono de taverna e desenhista de rua.

Dois Romanos na Gália não passa de uma curiosidade para quem realmente quiser ver tudo relacionado aos famosos e irredutíveis gauleses, já que é aqui que Asterix e Obelix ganharam suas versões audiovisuais pela primeira vez. A misteriosa história por trás do telefilme consegue ser mais interessante do que ele próprio, ainda que ele não seja completamente descartável se levarmos em consideração as limitações orçamentárias e técnicas da época em que foi feito.

Dois Romanos na Gália (Deux Romains en Gaule – França, 1967)
Direção: Pierre Tchernia
Roteiro: René Goscinny, Albert Uderzo
Elenco: Roger Carel, Jacques Morel, Roger Pierre, Jean-Marc Thibault, Jean Yanne, René Goscinny, Albert Uderzo, Robert Beauvais, Max Favalelli, Jean Bellanger, Maurice Biraud, Anne-Marie Carrière, Viviane Chiffre, Roger Couderc, Pierre Dac, Francis Blanche, Moustache, Max Desrau, Albert Dinan, Max Elloy, Jean Franval, Jacqueline Huet, Bernard Lavalette, Pierre Mondy
Duração: 60 min.

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