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Crítica | Donald no País da Matemágica

A fascinante jornada de Donald pelo universo dos números, fórmulas e cálculos.

por Leonardo Campos
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Uma animação que transforma a complexidade da matemática numa fascinante jornada de entretenimento e aprendizagem. Assim é Donald no País da Matemágica, narrativa de 27 minutos dirigida escrita por Milt Banta e Bill Breg, com argumento de Heinz Haber. Lançado em 1959, a produção traz números, figuras, funções, apresenta objetos abstratos em relação, numa demonstração da posição dedutiva dos estudos matemáticos. Donald, em sua jornada, nunca mais retorna como o mesmo. Ele deixa de ser leigo e compreende que a matemática está em tudo ao redor. Ao sair para momentos diletantes, embarca numa aventura repleta de fórmulas e números, narrada de maneira muito eficiente por Paul Frees, figura invisível que reforça para o personagem o potencial que será alcançado no desfecho da experiência, caminhada que nos permite lembrar o audacioso projeto de Lewis Carroll em Alice No País das Maravilhas.

Logo na abertura, temos uma metáfora bem interessante. Donald tem a sua sombra projetada assim que chega à caverna onde viverá suas intensas aventuras. Temos ai uma referência ao Mito da Caverna, atribuído ao filósofo Platão. Enveredado por raízes quadradas, impactado por uma cachoeira que desagua algarismos, quadrados e círculos numa área de basquete e amarelinha, dentre outros, o personagem descobre como o conhecimento matemático permitiu que outras áreas, tais como a biologia, a medicina, os esportes e tantos espaços de interação da humanidade, não teriam avançado como conseguiram. É uma aula divertida e dinâmica, material que atrai não apenas o público mais jovem, mas também conquista aqueles interessados em conhecer mais sobre as coisas que gravitam ao nosso redor cotidianamente.

O narrador nos faz compreender a relação da geometria com as atividades esportivas, as contribuições para tantas invenções, como por exemplo, o microscópio, num passeio onde Donald, tampouco nós, espectadores, saberemos o que será encontrado. Com design que permite uma estruturação narrativa cheia de referências visuais fascinantes ao campo matemático, a animação aborda também o advento da música na Grécia Antiga, delineando as contribuições de Pitágoras para o desenvolvimento de instrumentos e notas que até os dias atuais, são a base para a arte em questão. A Regra de Ouro, admirada também pelos gregos por suas proporções de cunho belo, é apresentada mais adiante, numa abordagem sobre tópicos acerca da divina proporção e das espirais logarítmicas.

Numa viagem ao período renascentista, Donaldo no País da Matemágica continua dando ênfase ao interesse dos filósofos e artistas pela proporção áurea, muito utilizada no campo da pintura, destacando como até mesmo a natureza faz uso constante dos padrões matemáticos para exibir as suas exuberantes manifestações. Para que a viagem seja didática e os resultados, eficientes para Donald, o narrador pede que o personagem arrume a cabeça, isto é, pondere a organização do raciocínio para que os resultados alcançados sejam funcionais. Em linhas gerais, aponta o quão importante é o direcionamento e concentração para o alcance de respostas na matemática. Quando se permite, o pato da Disney descobre o fascínio dos cálculos de área, o volume das coisas, a presença as arestas e figuras espaciais que estão em nosso contexto diário.

Tudo isso, sem transformar a aventura numa aula maçante e esquemática de matemática, componente curricular estereotipado em nossa sociedade, conhecido por ser de alta complexidade e de pouco acesso, em suma, restrito aos gênios. A ideia sobre os matemáticos, figuras que integram um imaginário que os transforma em membros de uma fraternidade, parte de uma elite hermética, ganha nesta animação um olhar diferenciado. Não podemos, no entanto, deixar de lado o contexto histórico de produção, denominado como Guerra Fria. A União Soviética se encontrava com os investimentos em pesquisa muito avançados, por isso, os estadunidenses precisavam se estabelecer melhor para a concorrência de seu oponente. Donald no País da Matemágica é fruto desta época, uma narrativa que reflete a educação matemática para as massas como uma estratégia de desenvolvimento do potencial para os enfrentamentos.

Diante do exposto, ainda hoje, podemos dizer que a animação funciona muito bem como material para diversão, além de sua estrutura pedagógica. Aqui, temos pássaros com bicos de lápis e corpo de esquadro, bem como árvores com raízes quadradas: dimensão estética para ampliar o entendimento. Passagens que demonstram a sinuca, o xadrez, o basquete, o futebol e tantos outros esportes relacionados com fundamentos geométricos: reforço narrativo sobre a presença da matemática em nosso cotidiano. A dança, algo fincado em nossa cultura, também recebeu contribuições deste campo. O corpo humano: também organizado matematicamente. São muitas as referências para enumerar, mas desde já, um conselho ao leitor: é uma jornada incrível e ainda muito atraente, mesmo com efeitos da década de 1950. Ao contrário, os efeitos sofisticados para a época, mas já datados para o público contemporâneo, conseguem transmitir com didatismo as questões dispostas pelo roteiro. No geral, divertido e muito informativo.

Donald no País da Matemágica (Donald in Mathmagic Land) — EUA, 1959
Direção: Heinz Haber, Milt Banta, Bill Breg
Roteiro: Heinz Haber, Milt Banta, Bill Breg
Elenco: Paul Frees
Duração: 27 min.

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