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Crítica | Donald & Peninha: Trio de Estrelas

Aventuras no cinema.

por Luiz Santiago
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Em Trio de Estrelas Fausto Vitaliano faz uma deliciosa ironia à produção cinematográfica vista pelos olhos de quem está de fora dessa arte ou de quem realmente não conhece nada dos bastidores cinematográficos. Começamos com uma hilária disputa entre o Tio Patinhas e o Patacôncio, seu rival milionário que aqui também está investindo na Sétima Arte. Ocorre que a “pão-durice” de Patinhas faz com que sua equipe entre em greve e então seja demitida. Quem assume a direção e o roteiro do filme, portanto, é Donald e Peninha, que sem experiência alguma na área, terão que entregar para o tio um grande dramalhão cheio de lágrimas e pesares, um exemplar perfeito para vencer a Concha de Prata, festival que premia os filmes mais depressivos já existentes.

O roteiro mostra de maneira hilária a falta de experiência em todos os caminhos da produção de um filme, trazendo ao leitor uma reflexão sobre a posição dos mais diferentes técnicos e assistentes e também sobre a qualidade da obra gerada se a produção estiver entregue a pessoas sem talento ou habilidade. No presente caso, tudo parece que vai degringolar, e é impossível não rir com a mudança de uma película chamada O Circo Equestre da Melancolia (já imagino um Vittorio De Sica dirigindo um negócio desses) para Três Patos e um Boi Almiscarado (que lembra uma deliciosa mistura entre as comédias clássicas de Totò e Mario Monicelli com as mais modernas de Bud Spencer e Terence Hill). Mas os verdadeiros homenageados pelo roteiro, os atores escolhidos para vestir essa referência de comédia italiana e encarnar a representação de um “fazer cinema” com pouco material são Aldo, Giovanni e Giacomo.

Herdeiros de um tipo teatral ou mesmo circense de fazer comédia, esse trio de atores passou pelos palcos da Itália, depois ganhou destaque na televisão e chegou ao cinema nos anos 1990, sua grande década de destaque. Aqui no site temos a análise do engraçado e delicioso Pergunte-me Se Estou Feliz (2000), que indico fortemente para quem ainda não viu. Pois bem, é a esses fantásticos atores que o texto de Vitaliano presta homenagem, buscando na plural trajetória artística deles os motivos desse trabalho artesanal e bastante improvisado com o cinema. Aquilo que poderia ser uma bagunça total e talvez até indicar um certo desprezo pela arte cinematográfica, torna-se, na verdade, uma bela homenagem a esta arte, chamando a atenção do público para as muitas dificuldades que uma produção pode ter e, principalmente, para a difícil relação que a equipe de criadores tem com os produtores, que só pensam em dinheiro.

Os desenhos de Alessandro Perina capturam muito bem as mudanças malucas de cenário e as muitas ironias que o roteiro nos apresenta. As brincadeiras com Bonequinha de Luxo (que vira Mendiguinho de Luxo), Manhattan e a diversas outras grandes obras do cinema ficam ainda melhores quando vistas através de desenhos que abraçam esse caos, especialmente depois de Donald e Peninha assumem o controle da narrativa, junto com a trupe cômica. Se a primeira parte da obra é um tanto burocrática — por motivos perfeitamente compreensíveis — a segunda parte é diversão pura, porque segue mergulhada na metalinguagem e, em alguns momentos, nos lembra das imposições de Tio Patinhas para o longa, sem se prender a ela. Quando o dinheiro sai de cena e a arte toma conta do enredo, o título da história começa a fazer sentido.

O inesperado final é ainda melhor do que o desenvolvimento. Como é muito comum nas comédias italianas, há aqui uma boa dose de melancolia, mas daquelas que ainda nos deixam com o sorriso nos lábios. Referenciando Ben-Hur de forma visualmente bem sequenciada e reafirmando o sonho do cinema, a história se fecha com uma baita cena engraçada e acalentadora em andamento. Só um verdadeiro apaixonado por cinema para escrever um negócio desses. E quem não dá muita bola pra essa arte, certamente será chacoalhado pelo amor à magia das telonas que exala dessas páginas.

Paperino & Paperoga in… Tre paperi dentro a un cinema — Itália, 23 de dezembro de 2008
Código da História: I TL 2769-1
Publicação original: Topolino (Libretto) #2769
Editoras originais: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Um Especial Disney 6 – Histórias de Cinema, Editora Culturama, abril de 2021
Roteiro: Fausto Vitaliano
Arte: Alessandro Perina
Capa: Alessandro Perina
32 páginas

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