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Crítica | Don’t Go Breaking My Heart (2011)

por Davi Lima
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Entre a simbologia do tempo material e o espaço físico mais abstrato da imagem, o longa-metragem Don’t Go Breaking My Heart prefere o romance envolvendo o passado progressivo como transformação humana, do que encontrar o melhor homem para sua protagonista, não permanecendo em símbolos frágeis de conquista, no que se pode encantar demasiadamente em ilusão.

A noção de triângulo amoroso – o centro da história do filme – se torna uma fonte de elaboração de pensamento para espectador quanto ao espaço-tempo envolvido dos personagens, pois a direção Johnnie To e Ka-Fai Wai faz com que os encontros de olhares entre os pombinhos sejam poesias de tráfego como princípio da trama. A cada instante a fotografia vai tornando os espaços vazios entre os prédios de Hong Kong simbolizados em romances ditados por comunicação dos atores entre as vidraças. O tempo vivido nesses locais, nos escritórios dos prédios onde trabalham, vão sendo significados como um trunfo do roteiro para desencontros em outros lugares da cidade. Como artimanha de esconder previsões das caracterizações dos personagens, os acontecimentos fora do horizonte desses contatos entre janelas vão determinar as conclusões narrativas posteriores no triângulo espaço-tempo-símbolo como carga emocional máxima.

Dessa forma, a comédia, por exemplo, surge desse caráter simbólico de personagens se declarando pelas paredes transparentes dos arranha-céus próximos em localização, mas também vem daí a linha dramática de encenação para o clímax. A construção no filme Don’t Go Breaking My Heart do homem realmente fragilizado pela testosterona como ponto humorístico – determinando-o entre a classe masculina de enganadores românticos de uma noite – é simultânea a crítica dessa estática social de homens quererem enganar as mulheres, sendo o ponto de partida para a transformação temporal na história.

Em acrescento a essa simultaneidade, para criar a largada do conflito, quando uma mulher apaixonada encanta o homem pelo espectro lúdico, enquanto está no espaço sisudo de prédios numa cidade de negócios, serve de crítica implícita e leve, devido à dimensão romântica, aos CEOs ricaços que creem no romance imediatista, grandiloquente em ações, mas sem compromisso. Porque, afinal, o triângulo amoroso contado no filme carrega em seu âmago caráteres passageiros da economia, como bem mostra a situação da mudança da bolsa de valores na cidade

Por esse motivo, para diferenciação surge a adjetivação do marciano, do terceiro tipo de homem, nem rico, nem consumista, o que compreende o espaço-tempo com humildade, se desfazendo materialmente do passado, ajudando a moça a livrar-se do ex-namorado e compreendendo o pretérito como paulatino reflexo para o progresso, sem imediatismos. A questão, o problema criado para o clímax na construção romântica desse triângulo amoroso evidente entre janelas de prédios, post-its, truques de mágicas, praças e passagem de tempo é a simbologia que tudo isso pode ser um reflexo falso de vidraças buscando o amor ideal na conquista do espaço e tempo entre arranha-céus.

À vista disso, o sinal fatídico do sapo, construído ao longo de toda a narrativa, é importante, pois é o resquício do princípio do amor no filme, não da transformação para o compromisso. O anfíbio representa uma tragédia amorosa para a protagonista no começo do longa, e até certo ponto é rendido simbolicamente pelo homem marciano, mas no espaço-tempo os gestos do amor tem vetores concretos para indicar real mudança, tanto para os homens quanto para a mulher.

Os diretores Johnnie To e Ka-Fai Wai ao tornar a realidade dos negócios empresariais de Hong Kong frágeis e mutáveis como as bolsas de valores contextualizam os significados e caminhos da narrativa do filme ser transpassada por uma passagem de tempo na montagem e tê-la como seu ponto de virada relevante. Em Don’t Go Breaking My Heart, também há a realidade simbólica que une o espaço e tempo das relações, dois conceitos do romance que podem fragilizar o amor humano. Por isso, um sapo permeando a narrativa (representando o drama inicial da protagonista), a retomada do anel (ícone clássico de compromisso do casamento que o homem enganador usa primeiro) e a silhueta iluminada na sombra de um prédio (inspirando o homem da categoria marciano a desenhar também um prédio), são gestos visuais que param o tempo do filme e que confrontam a verdadeira concretização do pacto romântico nesses símbolos que podem ser facilmente ressignificados por serem frágeis na realidade do espaço-tempo, desses homens apaixonados. É nisso que toda a trama se desenvolve, uma comédia romântica rica em como trata os gestos em contexto espacial amplamente sensibilizado de consequência temporal.

Diante disso, a protagonista tem o questionamento constante à sua espreita quanto ao romance compromissado, que concretize o triângulo símbolo-espaço-tempo nessa composição sensível da obra. Quando ela está no centro do prédio em construção no ato final, diante do seu amor arquitetado num passado progressivo, no qual um prédio é desenhado com base na sua silhueta que inspira o homem marciano, muito dos anseios da mulher é evidenciado. Essas pretensões da personagem pelo compromisso leva aos fundamentos temáticos mais espaciais: família e casa. Eles vão ser reflexo de necessidade geral do tempo de Don’t Go Breaking My Heart, pela instabilidade da personagem com suas paixões, pela ausência do pai dela (questão cultural forte), e por paralelamente homens que escalam e desenham amores por ela, em tempos diferentes tardiamente, chegarem a mesma conclusão do compromisso romântico como mais importante. Ela procura um trato firme num romance com raízes espaciais, que apenas com a morte do passado simbólico (tempo-símbolo) de um mau amor é que a faz tomar as rédeas dos anseios, não se enganando com miragens de paixonites que se mimetizam em truques entre janelas.

Rivaliza-se, assim, com o consumo emocional do amor em defraudações mínimas de poucos símbolos galanteadores. Esse mínimo pode ser exemplificado pela pequena grande diferença identificada entre os homens do filme que se apaixonam pela protagonista, o material amor-mulher que não deve ser desperdiçado por um, enquanto o outro torna-la a silhueta em inspiração para vender um projeto arquitetônico. Porém, no segundo caso há o compromisso natural com o tempo, na qual ele compreende sua mudança. Já envolvendo o espaço, o prédio em construção, até alcançar a certeza do projeto, vai materializando símbolos além de presentes, jantares e escaladas masculinas de conquista do primeiro caso. Ainda assim, nenhum deles são imunes de hiper simbolizarem o pouco para galantear uma mulher, quando basta um gesto com a mão para mudar o tempo e definir o espaço simbólico entre um homem e uma mulher. 

Por fim, não há o homem perfeito em Don’t Go breaking My Heart, há homens dispostos a mudarem para serem melhores parceiros no futuro, compreendendo o espaço e tempo da mulher, colocando suas virtudes no presente e em progresso de descoberta. Porque entre dois prédios há um espaço gigantesco e tempos de construções diferentes que equivalem ao entendimento do que é o amor entre duas pessoas. Entendendo-se mais a metáfora e o cerne comparativo entre os sexos masculino e feminino no filme, com seus momentos e lugares, aprende-se que menos símbolos são formados e mais compromissos são firmados. Basta um tchauzinho para desmanchar os números consumistas do romance.

Don’t Go Breaking My Heart (Daan san nam nui, 單身男女) – Hong Kong, 2011
Direção: Johnnie To, Ka-Fai Wai
Roteiro: Jevons Au Man-Kit, Ka-Fai Wai, Nai-Hoi Yau
Elenco: Gao Yuanyuan, Daniel Wu, Louis Koo, Terence Yin, Selena Lee, Lam Suet, J.J. Jia, Jeana Ho
Duração: 125 minutos

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